O grupo potiguar Interjato atua há quase 30 anos em áreas como serviços de conectividade, videomonitoramento inteligente, cloud computing e telefonia. Seu fundador e CEO, Erich Rodrigues, foi um dos primeiros a ter contato com a internet no Brasil.

No começo dos anos 1990, ele fez parte do primeiro grupo que testou o serviço no país e, em 1996, criou o grupo, onde começou a atuar como provedor de internet em algumas cidades do Rio Grande do Norte.

Neto de um avô “inventivo” e filho de um engenheiro civil que trabalhava com irrigação de fruticultura, Rodrigues acreditava, quando jovem, que seguiria os passos do pai, mas a internet atravessou seu caminho e o tirou do agro. Só agora, 28 anos depois, que o setor, muito mais modernizado, voltou ao seu caminho, num novo modelo de negócio.

A empresa captou junto a um edital do Finep, agência pública de fomento à inovação do Ministério da Ciência e da Tecnologia, R$ 3 milhões para desenvolver um projeto de inovação. E passado um ano e meio do início da empreitada, a iniciativa ganhou nome e função.

A Zaori é um marketplace de dados sobre clima e nasceu como uma empresa do Grupo Interjato. O público-alvo são os produtores rurais e, nesse momento de teste, já conta com clientes espalhados em 16 cidades do Rio Grande do Norte.

Em entrevista ao AgFeed, Erich Rodrigues disse que o produto oferece dados para “diminuir as incertezas" dos produtores. “Mesmo com máquinas modernas e agricultura 4.0, algumas variáveis ainda fogem do controle, como o clima. Isso influencia na tomada de decisão do produtor e até mesmo na tomada de crédito”.

Na prática, a plataforma processa dados que passam por uma curadoria com inteligência artificial e os vende ao produtor.

Esses dados são coletados de diferentes formas e contemplam desde dados públicos de histórico de clima, chuvas e umidade, até informações de estações climáticas instaladas nas regiões e arquivos pessoais de produtores, que podem ser comercializados por outras pessoas na plataforma da Zaori. A ideia, com essa curadoria, é ter dados mais precisos e, se possível, de microclima.

Para ter esse “refino” nos dados e dar mais precisão para o comprador do marketplace, entra o outro responsável pelo projeto: Moisés Souto, coordenador técnico de pesquisa e desenvolvimento do Grupo Interjato e também professor no Instituto Federal do Rio Grande do Norte.

Há 10 anos ele lidera uma série de pesquisas no instituto que envolvem aprendizado de máquinas e predição de clima. Com projetos que já envolveram o INPE e a Agência Nacional de Águas, ele ajudou a desenvolver uma estação meteorológica completa de baixo custo.

“Essas estações têm papel chave no que chamamos de microclima. Se você tem uma estação dessa na fazenda, elimina o problema de usar sempre dados governamentais, que nem sempre estão disponíveis”, afirmou.

A Zaori oferece esse tipo de produto, que segundo os executivos, pode custar entre R$ 10 mil e R$ 15 mil.

Junto disso, entra outro projeto que já passou pelas mãos de Souto, esse já relacionado à transmissão satelital e que serve para enviar os dados dessas estações para o centro de controle.

“Desenvolvemos, do zero, um transmissor que pega dados de máquinas e os transmite para satélites, nos dando o dado final ponta. Esse transmissor é licenciado para 5 empresas nacionais”, disse Souto. “Pegamos dez anos de pesquisa do Moisés e trouxemos para o mercado estações com dados confiáveis”, acrescentou Rodrigues.

Em resumo, existe uma coleta dos dados, que vem de fontes diferentes no primeiro momento. Esses dados são aglutinados e passam pela curadoria da Zaori e só então ela os disponibiliza no seu marketplace, onde um produtor pode comprar.

No começo da cadeia, um produtor ou alguma empresa de engenharia que tenha dados de uma região também pode vender os dados por lá, aumentando ainda mais a gama de possibilidades.

Rodrigues e Souto se conheceram em 2019 e viram que seus negócios e expertises tinham complementaridade, mas só firmaram a parceria quando o financiamento do Finep surgiu.

O projeto com a Finep se estende por três anos, dos quais metade já foi concluída. Nesse momento, os municípios envolvidos estão passando pela fase de instalação das estações meteorológicas. Ao todo, serão 108 delas nessa prova de conceito.

Também no estado, o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) local, que acompanha mais de 3 mil produtores, está em tratativas para um projeto semelhante.

“Nesse caso, o Senar já vem com a base de dados, o que enriquece esse processo de tomada de decisão”, explicou Rodrigues.