Foi em 2017 que o paulistano Arthur Cursino decidiu trocar a rotina de empresário em São Paulo, administrando uma consultoria de energias renováveis com sede na Rua da Consolação, por um sítio no interior do estado em Tapiraí.

Cansado da vida agitada na capital, ele ainda trabalhou para a empresa em formato remoto por alguns anos. E até se aventurou como produtor rural em suas terras, cultivando gengibre, batata doce e milho.

Quando decidiu gravar vídeos contando sobre sua vida no campo e as dificuldades tecnológicas de estar fora de um grande centro urbano em suas redes sociais, começou a perceber que havia uma demanda de muitos produtores em busca de soluções de internet e tecnologia. Foi aí que a vida no campo se transformou em negócio.

“Quem mora no campo enfrenta muitos problemas similares: internet ruim, falta de sinal e segurança. Vi nisso uma oportunidade de negócio”, conta Cursino. Ele iniciou, então, um novo empreendimento, batizado a partir do seu “êxodo urbano”.

Nascia, ali, a Fuga Pras Colinas, que nasceu como uma consultoria, que ajudava moradores do meio rural a ter a melhor conexão, bem como dar um suporte para instalar equipamentos de segurança.

Mas o rumo do negócio mudou quando os clientes/produtores começaram a pedir que ele mesmo vendesse os equipamentos. Foi então que o executivo decidiu criar um e-commerce. Dessa forma, ele atua como um intermediador de vendas, sem estoque e sem estrutura logística de transportadora, num esquema conhecido como dropshipping.

“Vendo direto e o fabricante despacha. Cuido da negociação e também do suporte para garantir que o cliente vai receber e usar corretamente a solução”. No site da Fuga Pras Colinas são vendidos chips de empresas de telecom, antenas, roteadores, antenas de empresas como Starlink e até câmeras de segurança e pluviômetros.

Tudo é testado pelo próprio Arthur Cursino, que também publica vídeos nas suas redes sociais com os resultados dos testes. Ele conta que hoje os ampliadores de sinal Wi-Fi são os produtos mais buscados pelos cerca de 10 mil clientes da empresa espalhados pelo País.

No ano passado, a Fuga Pras Colinas faturou R$ 500 mil, e a projeção, segundo o CEO, é atingir R$ 4 milhões em receitas no Brasil neste ano.

Ele afirma que a clientela não segue um padrão e vai desde um pequeno produtor ou proprietário de um chalé até um produtor médio de leite ou café e até mesmo grandes fazendeiros com aeroporto na propriedade. 50% dos clientes se concentram no interior de São Paulo e Minas Gerais.

O ticket médio é de R$ 750 por cliente e revela um desafio da startup. Um dos objetivos de Cursino é tornar as compras mais recorrentes no site e, para isso, passou a criar kits.

No site, um dos kits de destaque envolve três roteadores Wi-Fi e custa R$ 1,9 mil. A criação desses kits fez o ticket médio subir de R$ 500 para o patamar atual.

“O produtor compra uma vez um bom equipamento, resolve o problema dele e não compra de novo. Por isso queremos aumentar a esteira de produtos e serviços, incluindo até energia solar e, quem sabe, crédito rural ou seguro. Hoje atendo a casa dele, mas quero atender a renda”, afirmou.

Com isso, a ideia é transformar a Fuga pras Colinas em um e-commerce mais amplo e passar a vender até insumos agrícolas, sem restrição para serviços de conectividade e soluções tecnológicas.

Há cerca de dois meses a empresa passou a testar a ideia também fora do País. Em uma pesquisa com alguns países na América Latina, Cursino notou interesse de argentinos e mexicanos nesse tipo de e-commerce. Em poucas semanas, conta, já fez seis vendas para o México.

“Como trabalho com muitos fornecedores internacionais, recebi propostas para vender em outros países. Despachar para o Brasil ou para fora é igual, então comecei alguns testes que deram certo”.

Agora, ele está em processo de estruturar um site local por lá, que funcionará no mesmo modelo de negócio da operação brasileira.

No mercado mexicano, Cursino vê um potencial de vendas de até R$ 2 milhões no primeiro ano. “Não tinha ideia de que o agro mexicano é tão forte”, comenta.

O negócio foi acelerado em 2021 pela Meta, dona do Facebook e do Instagram, em parceria com a aceleradora Baita, que possui sede na Unicamp. Depois, a Baita acelerou a empresa pela segunda vez e ainda investiu no negócio com um cheque de R$ 80 mil.

“Esse capital ajudou a estruturar o e-commerce, para que a empresa deixasse de ser uma consultoria”, conta. No final do ano passado, a startup foi acelerada pela NovoAgro Ventures, um Venture Builder focado no setor agropecuário.

Na tradução literal, venture builder significa "construtora de negócios de risco". Basicamente, é como se fosse uma fábrica de startups, ou seja, trata-se de uma instituição que auxilia no desenvolvimento de empresas em estágio inicial.

A empresa foi criada pela FCJ Group, companhia mineira que conecta investidores, startups, corporações e universidades para desenvolver negócios inovadores e que se proclama como o maior grupo de venture builder da América Latina, com 50 braços setoriais no estilo da NovoAgro Ventures.

Com a expansão internacional à vista, Cursino não descarta receber novos investidores na startup. Tudo vai depender do quão escalável a solução for em outros países. “Atualmente temos caixa para fazer expansão para o México. Uma captação seria para acelerar e buscar toda a América Latina”, afirma.