Na startup iCrop, que atua com gestão de irrigação, é hora de um novo ciclo. Segundo afirmou o CEO da empresa, André Boncompani, ao AgFeed, há alguns anos, em 2019, terceiro ano de vida da empresa, os sócios traçaram um planejamento estratégico, que se encerrava em 2025.
O plano foi cumprido. Assim, a partir do próximo janeiro, a empresa inicia uma nova fase, já mirando o horizonte de 2030. Com uma meta ousada: crescer 10 vezes até lá.
Apesar da ambição, a empresa não deve, segundo Boncompani, dar saltos maiores que a perna, mas seguir no estilo mineiro dos sócios, com muita tranquilidade.
Criada em 2016 quando Boncompani e mais sete sócios que já atuavam no ramo de irrigação, deixaram a Irriger, empresa mineira que hoje faz parte do grupo Valmont, onde atuavam, a empresa já conquistou voos interessantes desde então.
A iCrop hoje atua em 18 estados no Brasil, e possui um cliente médio de 500 hectares com irrigação. Segundo André Boncompani, o fazendeiro é geralmente alto tecnificado e possui uma média de duas safras e meia por ano.
Hoje são 600 mil hectares monitorados ativamente e, contando todas as safras de cada produtor, atuação em 2 milhões de hectares por ano.
Os clientes se dividem em B2C, que correspondem pela maior parte, e B2B. No B2C, o maior consumidor é a SLC Agrícola, uma das maiores donas de terra do País. No B2B, a companhia atende Bayer e Corteva, dando suporte às plataformas de agricultura digital desses players.
“O agricultor que busca a iCrop já resolveu toda parte técnica e precisa melhorar a gestão”, acredita o CEO.
A maior parte desses produtores clientes está no Cerrado brasileiro, mas a empresa também atua em estados do Sul e na Bahia. Por cultivo, há predominância de grãos como soja e milho, mas a startup possui mais de 30 culturas monitoradas.
Bomcompani estima que a empresa cresça a uma média de 30% ao ano, e projeta faturar pouco mais de R$ 50 milhões em 2024.
“O agro sentiu uma ‘pancada’ nesse ano, que foi mais difícil comercialmente, mas ainda devemos crescer 20%. Pensando em 2025, devemos aumentar esse percentual”.
Ele explica que, na plataforma da empresa, é possível mensurar a disponibilidade de água da fazenda. Com isso, além da preparação para a produção ser mais precisa, a ideia é conseguir gerar “créditos de água”.
De acordo com Boncompani, quando uma indústria contrata a iCrop, ela busca uma garantia de que não falte água na produção ao seu cliente. “Entramos e compilamos os dados para uma Bayer, que consegue olhar num dashboard se existe algum problema ou não”, explica.
A base tecnológica utiliza dados de clima e de satélite, além de informações de solo e equipamentos da própria propriedade. “A plataforma permite ao produtor fazer a gestão de demanda hídrica e melhorar sua estratégia de aplicação de água”, resume o CEO.
Uma vez que a plataforma recebe dados de estações meteorológicas, próprias e de parceiros, os dados se juntam com os do produtor.
Em cima disso, um algoritmo calcula o que acontece na planta. Com uso de inteligência artificial, a margem de assertividade fica ainda mais alta, estima Boncompani.
Até agora, a iCrop estava muito focada em trazer rentabilidade e resultados aos clientes. Nas palavras do CEO, a empresa sempre trouxe economia e geração de valor para os fazendeiros. Mas olha também uma oportunidade de crescer como um braço de sustentabilidade para esses negócios no agro.
“Falando no aspecto ambiental, o recurso água sempre foi secundário, mas isso tem mudado. Começamos a trazer essa noção de valor ambiental”, diz.
Na irrigação, por mais que haja uma reciclagem diferente de algumas indústrias que utilizam água e a tornam inutilizáveis, os volumes de uso ainda são grandes.
“O poder de uma ferramenta como a da iCrop de racionalizar o uso de água faz com que seja possível impactar uma grande cidade”.
De olho no exterior
Para crescer nesse ritmo, o olhar também está para fora do País. A companhia iniciou o processo de internacionalização há três anos.
Boncompani conta que viajou para algumas feiras especializadas em outros países para encontrar inspirações tecnológicas, mas percebeu que era o Brasil que poderia levar tecnologia para fora.
A iCrop começou pela África do Sul, onde, segundo o CEO, existe uma agricultura parecida com a brasileira e uma proximidade cultural que ajuda. “Também é mais barato, pois mesmo em reais conseguimos equilibrar as despesas”.
Hoje a empresa também atua no Egito, Romênia e em países da América Latina como Uruguai, Paraguai e Argentina. Nos países vizinhos, a equipe da iCrop gaúcha “estica” o atendimento.
O foco agora está nos Estados Unidos. O CEO conta que a empresa já está no segundo ano de testes por lá e possui alguns funcionários alocados no país.
“Estamos indo bem ‘mineiramente’ nos EUA e Europa, com tranquilidade e conhecendo o mercado”, disse.
Nos EUA, o estado que mais chama atenção é o Nebraska, que segundo o executivo possui a mesma área irrigada com pivôs centrais que o Brasil inteiro. “Ficou óbvio e inevitável o caminho de internacionalização”.
“Oito caras” que buscavam sobreviver no mercado
Com a compra da Irriger, onde os sócios da iCrop atuavam, pela multinacional, Boncompani e sua equipe, que sempre atuavam como consultores, viram uma mudança de estratégia nos negócios e decidiram empreender.
A ideia da multinacional era usar a estrutura da companhia para vender mais equipamentos, o que não era bem a praia dos sócios da iCrop.
“Sem grandes ambições, oito caras se juntaram para construir uma ferramenta e tentar sobreviver no mercado. A ideia era continuar a levar serviços para o cliente final, com tecnologia fácil de usar”, afirmou.
Diferente de outras startups de gestão no agro, a expertise da iCrop veio de profissionais com formação agronômica, e não tech. “A turma geralmente chega do mundo da tecnologia e vê o agro como oportunidade. Nosso caso foi oposto e acabamos crescendo mais do que o previsto”.
Com as dores de crescimento, a equipe de oito pessoas contratou mais 30 profissionais logo nos primeiros meses e a empresa especializada em gestão de irrigação se viu obrigada a pensar na gestão interna dos processos. Hoje já são cerca de 200 funcionários.
Nesses oito anos, a iCrop cresceu com recursos próprios, o chamado bootstrap. Sem rodadas de investimentos, Boncompani estima que foram captados cerca de R$ 6 milhões via Finep e BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais).
Para o futuro, com a ideia de ampliar a internacionalização, uma rodada de investimento ou uma nova captação de recursos livres entra no radar. “Uma empresa que tem ambição de crescer 10 vezes precisa de dinheiro. Começamos a perceber que é inevitável trazer recursos e isso está na mesa”.