O agronegócio desperta o apetite das pessoas mais ricas do mundo. E isso mexe com seu bolso e suas estratégias de investimento.

É o que revela um dos capítulos do relatório Informe das Ambições Multimilionárias, publicado pelo banco suíço UBS, especializado na gestão de grandes fortunas.

A instituição entrevistou 50 multimilionários para saber como se enxergam diante dos grandes desafios globais do momento, além de coletar dados de mais de 2.500 das pessoas mais ricas do mundo para monitorar como elas movimentam seus recursos.

A pesquisa mostra que 42% dos entrevistados acreditam que a agricultura inteligente é uma das áreas que têm mais oportunidades para gerar impacto futuro.

Os multimilionários colocam a tecnologia na produção agrícola no mesmo patamar de relevância de desenvolvimento econômico com mitigação da pobreza, disponibilidade de água potável e saneamento.

O UBS ressalta que as projeções da Organização das Nações Unidas projetam que a população mundial deve chegar a 9,8 bilhões de pessoas em 2050, ante os atuais 7,6 bilhões de habitantes do planeta.

“Os métodos atuais de agricultura intensiva se mostram insustentáveis, e a guerra entre Ucrânia e Rússia tem causado escassez de alimentos no Oriente Médio e na África”, diz o banco.

Nas entrevistas, o UBS percebeu que, para muitos milionários, encontrar formas de aumentar a produtividade agrícola é um problema natural, inclusive por serem proprietários de terras.

E onde tem problema, em geral, há oportunidades de investimento, que os donos do capital não deixam passar. Em um gráfico, o banco mostra a evolução das patentes acumuladas registradas por agtechs que têm multimilionários entre os investidores. O número saiu de 182 em 2010 para mais de 5,5 mil ao final de 2022.

Ao dividir a participação de multimilionários famosos por segmento, o de proteínas alternativas é o que atrai mais interesse. Nomes com Elon Musk, Jeff Bezos, Bill Gates e Mark Zuckerberg investem neste tipo de empreendimento, segundo o relatório.

Estes mesmos nomes estão por trás de empresas de vários outros setores, como medição e neutralização de carbono, defensivos e fertilizantes, agricultura vertical e máquinas e equipamentos agrícolas inteligentes.

Das 10 maiores rodadas de investimentos em agtechs, realizadas desde 2010, quatro são de empresas que atuam com defensivos e fertilizantes. Outras três foram no segmento de supervisão e administração de cultivos inteligentes.

No ranking, há ainda mais duas operações de agricultura vertical, e uma de proteínas alternativas.

Segundo o UBS, os multimilionários são mais ativos no começo da cadeia, ou seja, na produção agropecuária.

“Por exemplo, empresas ligadas a multimilionários estão testando formas de reduzir a emissão de gás metano pelo gado, reduzindo o uso de herbicidas com pulverização seletiva, e desenvolvendo tecnologias inteligentes para cultivo de arroz”, diz o relatório.

O banco chama atenção para o fato de que muitas destas agtechs ainda estão em fase de desenvolvimento. Assim que tiverem atuação mais efetiva, “elas têm potencial para resolver o problema alimentar criado por uma população crescente”.

O levantamento do UBS leva em conta dados coletados até março de 2022. Naquele momento, o banco detectou 2.668 multimilionários no mundo, com patrimônio total de US$ 12,7 trilhões. Este número é um pouco menor que em março de 2021, quando o clube de mais ricos do mundo tinha 2.755 membros, com patrimônio de US$ 13,1 trilhões.

Ainda segundo o banco, este número deve ter diminuído ainda mais nos meses seguintes, principalmente por conta da queda dos preços de diversos ativos.