Na trajetória de uma startup, a linha reta nem sempre é o caminho mais curto. Criada no final de 2019, a Gavea Marketplace lançou-se ao mercado como uma bolsa digital de negociação livre de commodities agrícolas, com tecnologia blockchain.

Chegou a captar US$ 3,5 milhões de investidores para o projeto, mas logo percebeu que, além do trajeto original, havia rotas paralelas a percorrer, enquanto o plano original ganhava corpo. Um deles era a criação de uma plataforma que permita a grandes empresas do setor criar ambientes privados de negociação com seus fornecedores.

A estrada parece  promissora. Segundo Diogo Iafelice, um dos fundadores do negócio, empresas como Amaggi, FS bioenergia, Grupo AFB, Agro Amazônia e Cofco já são clientes.

A Gavea foi criada por Iafelice, empreendedor nascido em uma família de traders mato-grossenses, o ex-diretor do BTG Vitor Uchôa, e o analista de software Bruno Holtz. Com sua tese original, eles chamaram a atenção de investidores e a empresa passou por duas rodadas de investimento.

Na primeira, a startup recebeu US$ 500 mil na fase pré-seed da gestora Dommo Invest. No ano seguinte, para gerar liquidez no negócio da bolsa de commodities, chamada de open market, captaram mais US$ 3 milhões numa rodada liderada pelo fundo de venture capital Astella.

Com o passar do tempo, porém, os executivos do negócio foram percebendo que a ideia dessa bolsa era “disruptiva até demais”, nas palavras de Iafelice. Segundo ele, os sócios notaram uma resistência, por parte de empresas e produtores, à ideia de digitalizar os processos de compra e venda de grãos e insumos.

“Pessoas não vão negociar altos volumes monetários em produtos de alto valor agregado como R$ 50 milhões num sistema de autoatendimento. Percebemos que precisávamos respeitar a cultura desse mercado”.

No início deste ano, eles  deram início à operação do chamado Private MarketPlace, serviço que é o novo foco da empresa, enquanto mantém a evolução da ideia original. Nessa plataforma, ao invés do oceano aberto de negociação do open market, empresas do setor conseguem criar um espaço privativo para vender seus produtos de forma direta a seus clientes.

Com isso, a empresa customiza seu marketplace na plataforma, usando a tecnologia mas com sua própria identidade visual. Por meio de convites privados, pode chamar seus clientes para a plataforma e realizar suas negociações dentro de um “espaço seguro”, com a segurança da tecnologia blockchain.

“A figura da empresa que está com seu marketplace na nossa plataforma dá um conforto pro usuário, pois ele sabe que está navegando em algo que tem a chancela da companhia”, comenta Iafelice, diretor de growth da Gavea.

Com o blockchain, Iafelice explica que é possível tokenizar os ativos comercializados na plataforma. Na prática, um comprador do produto, mesmo que seja por meio de uma revenda do primeiro comprador, consegue saber a origem do grão e se a área que ele foi cultivado possui as certificações ambientais corretas.

"Achamos que o processo de escala, por conta do tamanho da disrupção, era um pouco mais demorado que gostaríamos e gerava uma concentração grande demais na largada, e buscamos uma forma de acelerar", afirma o CEO da Gavea, Victor Uchôa.

"O Private Marketplace entrega os benefícios da modelo anterior, mas gerando maior engajamento nos clientes, que se sentem donos das suas prprias plataformas e estão dispostos a trazer toda sua base, pulverizando nossa base de usuários".

A Gavea está atualmente numa nova rodada de captação, na qual planeja captar até US$ 15 milhões. Com o montante, a empresa pretende aumentar a equipe comercial no novo negócio e espera começar a também internacionalizar o serviço.

A antiga ideia, da bolsa de commodities, continua ativa e encorpando. Por ela já foram realizados US$ 4 bilhões em ordens de compra, envolvendo o equivalente a 8 milhões de toneladas de grãos. Em 2022, a plataforma realizou sua primeira operação internacional.

 

Nota da Redação: a reportagem foi atualizada às 11h18 do dia 18/05, a partir de novas informações atualizando as publicadas originalmente.