A agtech PecSmart, que usa Internet das Coisas (IoT) e inteligência artificial para dar inputs às cadeias da pecuária, está prestes a finalizar uma rodada de investimentos. A busca é por R$ 670 mil, que serão buscados via EqSeed, plataforma de financiamento coletivo.

Segundo o CEO da empresa, Diego Kurtz, o valor vem para complementar uma captação iniciada no ano passado, na qual a empresa levantou R$ 2 milhões via Finep, do governo federal, num programa para startups que utilizam IA.

O dinheiro da captação via EqSeed e pelo Finep servirá para a PecSmart investir em pesquisa e desenvolvimento e expandir equipe comercial, conquistando novos clientes.

Kurtz afirmou ao AgFeed que os recursos servirão para dar robustez ao portfólio da empresa. Com seus produtos, a empresa afirma conseguir identificar doenças em animais em estágio inicial e automatizar processos como pedidos de ração, rotas de entrega e controle de inventário para cadeias de produção animal.

As soluções são viabilizadas através de três ferramentas desenvolvidas dentro de casa. A primeira é a SmartMic, que capta sons de suínos e, com os dados em mãos, consegue identificar a incidência de doenças respiratórias nos animais.

Outra é a Smartfeed, que monitora o nível de consumo de ração no silo, além de enviar dados de estoques de granéis em tempo real para silos.

Por último, a SmartCam captura imagens de granjas e, com ajuda da IA desenvolvida pela startup, fornece um relatório para que o produtor programe a produção de acordo com preços do mercado.

Com mais recursos, a empresa espera desenvolver produtos novos e levar o Smartfeed para novos players. “Queremos entrar nos processos de roteirização, ajudando os clientes a pensar na logística para entrega de ração com base nos estoques. Atualmente já ajudamos a agroindústria, mas queremos ampliar o monitoramento para portos, mineração e silos horizontais”, disse o CEO.

Além disso, a startup, que já está presente em sete estados, quer colocar mais força no Centro-Oeste. “O investimento buscado via EqSeed é fundamental para tracionar nossa equipe comercial, casando com os avanços em P&D”, diz.

De acordo com Igor Monteiro, sócio e diretor de investimentos da EqSeed, a PecSmart possui tecnologia de ponta, atua em mercados enormes e, ainda, consegue diversificar sua operação dentro do setor de produção animal por causa da sua abrangência em diferentes tipos de produção.

“A empresa já validou sua tecnologia em grandes clientes e agora está pronta para investir para crescer mais”, comentou.

A PecSmart foi criada em 2019 e, de lá pra cá, acumula uma cartela de clientes com gigantes do agro. O principal parceiro atual é a BRF, dona da Sadia e Perdigão, onde atua na cadeia de suínos, aves e na parte de grãos para ração. Além dela, a empresa diz ter com clientes a SLC Agrícola e a Bunge.

A ideia da PecSmart nasceu na pesquisa de mestrado do CEO, que chegou a aplicar, na época, os conhecimentos em algumas cooperativas catarinenses. Na época, contudo, iniciou um doutorado e deixou a ideia incubada até 2019, quando viu que o mercado demandava serviços ligados à IoT.

Então, ele e o outro sócio-fundador, Ricardo Cipriani, fundaram a empresa e começaram a rodar uma etapa de validação do negócio em seu primeiro cliente, o frigorífico Pamplona.

“A experiência por lá durou um ano e serviu para escalarmos os serviços dentro da própria empresa. Começamos com um foco grande em processamento de imagens em suínos, mas, uma vez mergulhados lá, vimos outras possibilidades”, disse.

O primeiro serviço foi o de imagens e depois o Smartmic, que capta sons. “Usamos a IA para filtrar os sons e sintomas clínicos. Com isso, ajudamos o produtor, veterniário e gestor a tomar a decisão na hora certa”, disse.

Por fim, a última solução criada foi o Smartfeed. O CEO notou que a empresa já monitorava o desempenho dos animais e a saúde, mas não o consumo. Após verificar o mercado, viram que existia uma brecha para atuar.

“Nossa solução nasceu nas granjas de suínos, depois foi para granjas de aves, para bovinos de leite confinados e até mesmo piscicultura, fábricas de ração e empresas de armazenamento de grãos”.

Antes da rodada atual, a empresa já havia passado por programas de aceleração, incluindo o da Acate (Associação Catarinense de Tecnologia) e pela aceleradora Hards, onde conseguiu mais de R$ 330 mil de investidores corporativos.

Em 2022, captou R$ 1 milhão com o Seed4Science, fundo de investimento da Fundepar focado em empresas com alto potencial de crescimento. Além disso, entre investidores-anjo e subvenções, arrecadou mais R$ 300 mil nos últimos anos. Com isso, a empresa já havia recebido R$ 1,6 milhão em financiamentos antes do Finep entrar na jogada.

Segundo o CEO, a a decisão de buscar a EqSeed se deu justamente pelos cases de sucesso vistos anteriormente e pelo olhar mais atento ao agro que a plataforma tem dado.

Monteiro, da EqSeed, revelou na semana passada ao AgFeed que a empresa deve ter um olhar especial para o agro durante o ano de 2024. Segundo ele, essa é uma das principais demandas dos mais de 70 mil clientes da plataforma.

Em janeiro, a agtech JetBov, especializada em gestão de pecuária, captou R$ 1,7 milhão via EqSeed.

Até agora, foram três empresas com um pé no campo que já levantaram capital por meio da EqSeed. Além da JetBov, a CargOn, a Scicrop e a Horus Aeronaves já levantaram dinheiro com investidores da base da plataforma.

A Cargon, Plataforma digital de gerenciamento do transporte de cargas, levantou, no ano passado, mais de R$ 3 milhões na EqSeed, numa rodada total de R$ 5 milhões que também envolveu a TechInvestor, fundo paranaense da Viasoft.

A Scicrop levantou R$ 2 milhões há dois anos e atua como uma plataforma de dados e análises preditivas para o setor. Já a Horus, que já recebeu investimentos de R$ 3 milhões da SP Ventures no passado, levantou, em 2022, R$ 2 milhões na EqSeed. A empresa atua com monitoramento agrícola com drones.

Por mais que seja uma plataforma de financiamento coletivo, não é qualquer startup que pode se inscrever no site e buscar um aporte. Segundo o sócio, menos de 1% das startups que se mostram interessadas em captar dinheiro através da plataforma efetivamente entram na jogada.

Monteiro explicou que a ideia da EqSeed é, de um lado, ajudar as empresas que têm dificuldade de acessar capital institucional, e do outro, dar acesso a investidores pessoa física de perfil variado, seja financeiro ou até mesmo de expertise.

Até hoje, já passaram cerca de 50 startups nos últimos 10 anos na empresa, com R$ 85 milhões arrecadados.