Segundo dados do Ministério da Agricultura e da iniciativa ConectarAgro, que reúne empresas de diversos segmentos para incentivar a conectividade no campo, 73% das propriedades rurais brasileiras ainda não têm acesso pleno à internet. Preencher essa lacuna oferece um mercado grandioso e há muita gente grande correndo para conquistá-lo.
Entre alguns nomes conhecidos há também marcas novatas, mas com trunfos para abocanhar um naco desse bolo. Um deles é a NetyLink, empresa do grupo Elsys que vende um serviço com nome aparentemente contraditório: internet fixa sem fio.
Criado oficialmente em abril, o negócio, com sede em Valinhos (SP), já nasce com duas metas bem definidas e ambiciosas para uma estreante: atingir 100 mil assinantes até o final do ano e um faturamento mensal recorrente de R$ 30 milhões já no primeiro ano de funcionamento.
Seu trunfo é justamente a Elsys, empresa de 35 anos de história, que começou desenvolvendo equipamentos eletrônicos e, depois de alguns anos, entrou no mercado de TVs com foco em receptores de parabólica, produtos com alta penetração no meio rural.
“Foi aí que conhecemos o Brasil de verdade, do interior”, contou ao AgFeed o CEO da Netylink e da Elsys, Damian Zisman.
No mercado da internet, a Elsys já comercializou roteadores de internet 3G e, posteriormente entrou para o 4G com o Amplimax, um equipamento de conexão de internet banda larga e telefonia, com um modem e antena.
“Como nossos serviços de distribuição de TV e internet estão muito concentrados no interior, a Elsys já tem capilaridade em mais de 30 mil lojas que trabalham com nossas soluções de produtos e serviços”, afirma o CEO.
É com o Amplimax que a Netylink vai buscar esse mercado. A tecnologia embarcada é a FWA (Fixed Wireless Access, em inglês). Ela permite a entrega de um link de internet com alta velocidade sem a necessidade de cabos pela rede de postes municipais.
Para isso, são utilizadas ondas de rádio que criam uma conexão entre uma torre de celular e uma antena externa, fazendo a retransmissão do sinal que chegará via Wi-Fi nos dispositivos.
Segundo o executivo, a ideia de criar a Netylink surgiu por uma vontade da Elsys de levar uma solução completa aos clientes. O CEO explica que a Elsys desenvolvia produtos que dependiam de um fornecimento de internet vindo de terceiros.
Agora, a empresa vai contratar redes de outras operadoras, a que for mais indicada para a região, e vender para o cliente final. “Ele usa um plano Netylink”, diz.
O novo braço de negócios da Elsys funciona com dois planos por assinaturas, um de R$ 299 por mês, voltado ao público geral, e outro de R$ 499 por mês para clientes “profissionais”, que demandam mais usuários conectados ao mesmo tempo.
Para além de surgir como uma opção de conexão para onde não há estrutura para cabeamento, a Netylink se posiciona como um serviço complementar para empresas que dependem de internet 24 horas por dia.
Ainda uma empresa recém-criada, a Netylink vem testando seu modelo de negócio no estado de São Paulo. Até agora, a demanda de cada cliente tem sido variada, conta Danilo Pacagnella, head de Marketing da Elsys e da Netylink. Desde empresários que trabalham de home office fora de grandes centros urbanos, onde não há opção de contratação de uma internet de fibra óptica, até pequenos produtores que precisam de uma rede para conectar a solução de irrigação ou para monitorar a fazenda em tempo real já contrataram o serviço da Netylink.
“Estão surgindo várias demandas no meio rural. Estivemos na Agrishow e conversamos com alguns potenciais clientes maiores. Falamos com empresas de equipamentos agrícolas que se interessaram em levar conectividade junto de seus equipamento”, contou Pacagnella.
Além de produtores, empresas da agroindústria também estão contratando os serviços da Netylink. Pacagnella cita que uma rede de distribuição de ração animal na região de Nova Odessa (SP), que possui internet de fibra, sofre com a instabilidade da conexão e, por isso, utiliza a rede da Netylink de forma complementar, para não ficar sem conexão na empresa.
A ideia da Netylink é que a internet seja apenas o primeiro serviço prestado. A empresa já roda alguns testes que envolvem câmeras e outras formas de coleta de dados que demandam conexão. “A conexão é um meio, e não o fim. A conectividade abre um leque de oportunidades”, diz o CEO. A Elsys já vende serviços que incluem câmeras de monitoramento e até energia solar e a ideia é que a Netylink seja um elo para conectar tudo.
Depois de validar e conquistar o mercado do interior de São Paulo, o plano de expansão da Netylink “não é linear”, segundo Danilo Pacagnella. Ele cita que, por uma questão de demanda, seja pela dificuldade de outros tipos de conexão e por relevos distintos, a região amazônica e o estado de Minas Gerais podem ser os próximos passos do negócio.
“Já estamos validando em outros estados e isso envolve treinamentos e pesquisas antes de começar a vender e instalar. Até o final do ano o plano é estar em todo Brasil”, conta o head de marketing.