Seis meses. Esse foi o tempo desde a criação da plataforma Catalyst, iniciativa da Corteva lançada em março com o objetivo de se associar a empreendedores para buscar tecnologias disruptivas, até o primeiro investimento em uma agtech, anunciado nesta terça-feira, 17 de setembro.

A gigante americana do mundo agro anunciou um investimento de US$ 25 milhões na startup Pairwise, especializada em edição gênica. Com a compra de ações da agtech, o movimento é o primeiro da Corteva em um negócio com esse tipo de tecnologia.

Na rodada atual, além do investimento, a empresa e a Pairwise firmaram a criação de uma joint venture de cinco anos. No negócio, a investidora utilizará as tecnologias da agtech para acelerar seus próprios esforços de edição genética e melhorar a resiliência das culturas diante de eventos climáticos extremos e mudanças climáticas.

Em uma entrevista concedida ao AgFeed em junho deste ano, o líder da plataforma Catalyst, Tom Greene, afirmou que a iniciativa possui "caixa" para "acelerar a descoberta e o ritmo da inovação".

Somado a isso, afirmou que está muito atento a parcerias e ao trabalho das startups, "trabalhando realmente para levar os produtos aos agricultores em um ritmo mais rápido".

Além dos US$ 25 milhões da Corteva, a Pairwise captou mais US$ 15 milhões com outros investidores, incluindo o Leaps, da Bayer, e o fundo Aliment Capital. Com os US$ 45 milhões captados nessa rodada tipo série C, a startup chega aos US$ 155 milhões em financiamento desde sua fundação.

Em rodadas anteriores, a empresa captou recursos também com a Deerfield e a Temasek, o fundo soberano de Singapura.

A Pairwise desenvolve atualmente tecnologias para as culturas de milho, soja, trigo, canola e amoras. No ano passado, a startup passou a utilizar a tecnologia CRISPR - que altera diretamente o DNA dos seres vivos.

Nos últimos meses, a startup tem mudado sua posição estratégica, deixando de ser uma produtora de alimentos e passando a ser uma provedora de tecnologia. Até hoje, a Pairwase era conhecida principalmente por produzir amoras sem sementes e mostardas menos amargas, mas passou a licenciar produtos e se associar com sementeiras conhecidas globalmente.

O CEO e cofundador da empresa é Tom Adams, um PHD em microbiologia que atuou por quase 20 anos na Monsanto, e seu carro-chefe é o Fulcrum, uma plataforma de tecnologia que dá às empresas acesso a ferramentas para edição genética.

Com isso, a Pairwise fornece a tecnologia e quem desenvolve são as próprias empresas. Adams acredita que trabalhar com grandes empresas inovadoras pode dar à startup uma oportunidade de causar um impacto em maior escala.

“Decidimos que, realmente, nossa competência principal é tecnologia, não marketing”, disse Adams, um ex-executivo da Monsanto, em uma entrevista ao site americano Agriculture Dive. “Mas a tecnologia em si pode ser aplicada a muita coisa, e está realmente resolvendo os problemas da agricultura”, completou.

Mais parcerias

Os recursos captados devem acelerar essas parcerias. No ano passado, a empresa fechou uma parceria com a Bayer para acelerar o cultivo de um híbrido de milho de baixa estatura da gigante alemã.

Em fevereiro deste ano, o AgFeed foi até Sorriso (MT) e conheceu mais sobre essa variedade genética, que está em testes e deve chegar ao mercado brasileiro e argentino entre 2026 e 2027.

Nas palavras de Mateus Torrezan, agrônomo que atua no desenvolvimento de mercado da Bayer para a região do Cerrado, esse milho com estatura menor traz alguns benefícios frente à planta convencional.

Primeiro, a estatura menor acaba adensando as folhas, e isso confere uma proteção maior ao pé, que fica menos suscetível ao tombamento e quebramento. "Pelo seu tamanho reduzido, o ponto de equilíbrio, que geralmente está onde fica a espiga, está mais próximo do solo", disse ao AgFeed em fevereiro.

Outro ponto é o acesso. No cenário atual, a aplicação após o milho pendurar, ou seja, soltar sua inflorescência masculina, só é possível de ser feita via aviões agrícolas. Com a menor estatura, isso pode ser feito com menos custos, por meio de máquinas terrestres.

Atualmente, o México e os EUA já contam com algumas espécies de milho de baixa estatura comercializados pela Bayer. A diferença é que essas espécies são oriundas de cruzamento genético com plantas locais, e não se tratam de processos biotecnológicos. Dessa forma, o rito regulatório é inexistente.