Até o começo deste século, era muito comum encontrar no mercado de capitais os chamados “clubes de investimentos”. A proposta era juntar investidores para formar fundos que pudessem ter acesso a ativos do mercado financeiro que só admitiam profissionais e grandes agentes.
Hoje, existem modelos parecidos, mas com a lógica inversa. São grandes investidores à procura de empresas ainda iniciantes com grande potencial de crescimento. Esse é o “clube” montado pela AgroVen.
A empresa montou um grupo de cerca de 300 investidores, a maioria deles empresários com algum grau de ligação com o agronegócio, para investir em startups que tenham “produto, cliente e receita recorrente”, como descreve Bernardo Costa, sócio-fundador que é o responsável por buscar casos e apresentá-los ao grupo.
Ele conversou com o AgFeed durante um encontro da AgroVen na sede da XP Investimentos, em São Paulo, esta semana. Costa afirmou que o mercado está muito aquecido e, por isso, a empresa deve acelerar o ritmo de investimentos em 2024.
“Nós somos muito pés no chão, geralmente adotamos uma estratégia de não investir em mais de três startups por ano. Em quatro anos, temos 10 investidas. Mas do jeito que está o cenário, esse ano devemos fechar com cinco ou seis investidas”, diz o executivo.
Ele conta que a AgroVen está muito próxima de colocar a 11ª startup em seu portfólio. “Não posso revelar o nome. Mas eles chegaram com uma demanda, nossos investidores resolveram oferecer um valor menor, e está quase tudo certo. Falta o sim de somente um investidor para fechar o investimento”.
O modelo adotado pela AgroVen realmente se assemelha a um clube. O evento na XP consistiu em uma plenária, onde duas agfintechs, Grão Direto e Traive, fizeram apresentações aos investidores parceiros da empresa, que participaram de forma presencial e remota.
Ao final das apresentações, os investidores deliberaram e discutiram alguns pontos sobre as duas startups. Logo após, foi realizada uma votação que aprovou a continuidade da avaliação sobre um possível aporte nas duas empresas.
A partir deste passo, a AgroVen vai promover uma avaliação mais detalhada do modelo de negócio, dos números e dos planos estratégicos de crescimento das startups, até chegar ao ponto de se decidir sobre o investimento.
Bernardo Costa explica que a partir da decisão de investir, a AgroVen oferece cotas aos investidores, de acordo com o valor definido para o aporte.
Entre as agtechs que já receberam aportes pela AgroVen estão a iRancho, que recentemente recebeu investimento de R$ 7,2 milhões do Banco do Brasil, e a Bem Agro, que em fevereiro fechou uma rodada liderada pela gigante norte-americana CNH com captação de R$ 10,2 milhões.
“Nós temos no portfólio empresas que já cresceram cinco vezes em valuation depois do nosso aporte. Mas não saímos dela. É um investimento de longo prazo. Tanto que em quatro anos, não saímos de nenhuma das investidas”, diz Costa.
Entre os investidores, estão grandes empresários e executivos. Alguns exemplos são Aloísio Maccheroni, controlador da Rio Bravo Investimentos, André Fachetti, da família fundadora da rede de hortifrutis Natural da Terra, e Marcelo Abdo, CEO da Ourofino Agrociência.
“Nós temos como meta ter pelo menos 80% dos investidores ligados ao agronegócio, de alguma forma. Mas nós temos pessoas de vários setores”, afirma Costa.
A AgroVen conta também com grandes corporações na ponta dos investidores, com destaque para Bayer e Minerva.