O mercado de pulverizadores e drones agrícolas é uma crescente no País e no mundo. Segundo dados do Sindag (o Brasil conta atualmente com 100 milhões de hectares pulverizados por cerca de 2,5 mil aeronaves, entre aviões e drones).
Dentre os drones, o sindicato estima que são cerca de 10 mil voando pelo interior produtivo nacional. Considerando um cenário mais amplo, um estudo realizado pela Mordor Intelligence apontou que o mercado global de drones agrícolas deve alcançar a marca de US$ 4,3 bilhões (R$ 23,11 bilhões) até 2029, mais do que o dobro do valor estimado para 2024, que gira em torno de US$ 2,08 bilhões (R$ 11,02 bilhões).
Some-se isso à agenda de descarbonização que o poder público e diversas empresas privadas têm adotado e o resultado final é uma tendência: aeronaves movuidas por motores elétricos.
É nesse segmento que a startup gaúcha Miglia quer ganhar mercado. Fundada e liderada pelos irmãos engenheiros Lucas e Rafael Esperança, a companhia acabou de receber um aporte de R$ 3 milhões para acelerar o desenvolvimento de sistemas de propulsão aeronáutica. O investimento foi feito por um investidor anjo, também gaúcho e que atua no mercado de tecnologia.
Em entrevista ao AgFeed, Lucas Esperança, que atua como CEO da Miglia, afirmou que a ideia é trazer novas pessoas para a empresa e estruturar uma linha de produção. “Unindo a parte comercial e a engenharia para aumentar a rentabilidade”.
A empresa estreou no mercado no ano passado, e fabricou cerca de 16 motores ao longo do ano. Nesse período, faturou algo em torno de R$ 500 mil.
A meta é encerrar 2024 com R$ 1 milhão faturados. Com o crescimento dos próximos anos, Rafael Esperança projeta se consolidar no País até 2027 para então entrar no mercado de exportação. Daqui cinco anos, a expectativa é faturar algo em torno de R$ 50 milhões.
Um dos mercados potenciais lá fora é dos EUA. Segundo o CEO, o mercado por lá é um pouco avesso a tecnologias chinesas, que dominam o mercado através da DJI.
Dentre as vendas, a empresa desenvolveu o motor do drone da Arys, uma empresa de São Carlos, e o da Psyche, companhia de São José dos Campos que recentemente fez uma captação de R$ 15 milhões para produzir em escala seu megadrone pulverizador.
A empresa realizou o primeiro voo do Harpia P-71, seu drone, em março deste ano, com um motor desenvolvido pela Miglia.
Agora, Esperança afirma que a empresa já está em contato com outras empresas que desenvolvem aeronaves de pulverização e sistemas de cargas via drones.
A empresa foi criada em 2019, na ideia de produzir motos elétricas. Tanto Lucas quanto Rafael são formados em engenharia mecânica. Os dois começaram a empreender naquele ano, unindo serviços de impressão 3D em várias frentes. Além deles, a companhia tem como sócio Luis Henrique Veran, especialista em eletrônica de potência e softwares de controle. Ele será responsável pelo desenvolvimento dos controladores eletrônicos.
Lucas, que já teve contato com a área da aviação e de drones, estudou o mercado e viu uma oportunidade de pivotar o negócio. “Vi muitas startups surgindo e ao mesmo tempo, na América Latina, não havia ninguém fabricando sistemas de propulsão elétricos. Foi aí que a Miglia nasceu, trabalhando para oferecer todo o sistema de produção”.
O foco da empresa está nos drones de pulverização, mas a ideia é no futuro também entrar no mercado de aviões tripulados, como os eVTOLs, os “carros voadores”, e também em aviões agrícolas. “Não há diferença na motorização de drone e de aviões, o que define é o tamanho da hélice e potência”, explica.
Os irmãos sócios afirmam que o processo de fabricação criado por eles, que produz motores em 50 dias, é um diferencial na competitividade de custo. Até antes do aporte, os dois tocavam e produziam sozinhos os motores, com ajuda de alguns fornecedores. Agora, com equipe, a ideia é ter uma linha de produção.
O mercado vislumbrado pela Miglia também esbarra no elevado número de acidentes envolvendo a aviação agrícola.
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a taxa de acidentes no Brasil em 2020 foi de 131 casos para cada um milhão de decolagens, sendo 20% com fatalidades.
“Acreditamos que a substituição de aviões por drones é uma alternativa, controlada por profissionais ou autônomos, mantendo a necessidade da atuação humana”.