Todos os anos, equipes da Barn Investimentos percorre alguns dos principais eventos agropecuários do País. Recentemente, por exemplo, Thiago Mendes, sócio da gestora, esteve no Show Safra, em Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso.
Agora, ele se prepara para embarcar para Ribeirão Preto, para mais uma edição da Agrishow, maior feira de tecnologia agrícola da América Latina.
Desta vez, não apenas como espectador e com olhar de prospecção para futuros investimentos, mas também para transmitir a empresas e investidores ligados ao agro a experiência adquirida após aportes importantes no setor.
Mendes será um dos palestrantes no Rural Summit, evento organizado pela Rural Ventures, em parceria com The Yield Lab e Arara Seed, que reunirá startups, hubs e investidores da linha de frente do ecossistema de inovação do agronegócio no dia 2 de maio no Dabi Business Center.
O encontro, com parceria do AgFeed, aproveita a grande afluência de público à cidade durante o período da Agrishow para promover discussões sobre temas de interesse nas áreas de inovação e, sobretudo, negócios.
Para ele, trata-se de uma oportunidade rara de promover uma aproximação importante. “A gente tem um desafio muito grande de conversar com o produtor”, diz.
“Quando você vai para uma feira grande, que realmente o produtor frequenta, você vê o abismo que tem entre quem está para dentro da porteira e as startups, a gente, os fundos”.
Mendes levará para o evento alguns cases de sucesso e outros ainda em curso de investimentos da Barn no agro. Atualmente, diz, cerca de 60% do portfólio de investidas da empresa está no agro, em empresas como Grão Direto, Agrolend, Agrotoken, Rúmina, Agritask, Avicanna e Nextron.
O mais recente investimento anunciado foi na fintech Marco, especializada no financiamento de capital de giro para pequenos e médios exportadores da América Latina, principalmente do agronegócio, em janeiro passado – a Bar participou de uma rodada em que a empresa levantou US$ 12 milhões.
“Ao longo da nossa história, foram nove investimentos no agro”, conta Mendes. O único exit, até agora, aconteceu na Strider, empresa mineira adquirida em 2018 pela Syngenta e transformada na base da plataforma digital global Cropwise, da multinacional de insumos.
Ainda, a transação é uma das mais relevantes do agtech brasileiro. Nela, em quatro anos, o investimento feito pela Barn se valorizou 16 vezes.
O setor também deve ocupar lugar de destaque em futuros investimentos. Mendes revela que a gestora está “em meio caminho” na captação de seu terceiro fundo, com expectativa de chegar a US$ 100 milhões, sobretudo junto a investidores institucionais e corporativos.
“É um fundo para ter pelo menos um terço, se não mais, no agro, um fundo de Growth. Ou seja, com foco em empresas que já superaram a barreira inicial do risco, natural no universo das startups, e se preparam para um período de crescimento.
“A gente também avalia a possibilidade de colocar mais recursos em rodadas subsequentes, do tipo série A ou subsequentes, com cheques maiores”, explica.
A captação está durando um pouco mais do que o esperado, em função de uma maior aversão ao risco por parte de investidores. Em entrevista ao AgFeed em agosto do ano passado, o fundador da Barn, Flavio Zaclis, havia adiantado que pretendia encerrá-la até o fim de 2023.
Mendes avalia, no entanto, que houve uma mudança de humor desde o início de 2024 e a nova expectativa é de ter um primeiro fechamento do fundo no próximo trimestre.
“A gente pegou mercados muito ruins nos últimos dois anos”, diz. “Nossa expectativa é realista, mas acredito que teremos períodos melhores de investimento nesses dois próximos anos”.
Educação para o investidor rural
Para Mendes, eventos como o Rural Summit ajudam a destravar, se não os investimentos, o primeiro passo para que ele aconteça, que é o conhecimento das reais necessidades do produtor e vive-versa.
“Todo mundo que está nessa caminhada de investir no agro, tecnologia e inovação, precisa desse conhecimento e dessas discussões disseminadas para, de outro lado, o produtor também entender o que é uma startup, como usa, como se relaciona ou até participa da inovação”, diz ele.
“A gente tem que ter essa aproximação porque a cadeia inteira, no fim do dia, ela acaba lá no produtor” diz. “Ele é um cara tecnificado e que gosta de inovação”.
Mendes entende que o diálogo mais frequente e intenso entre as duas pontas pode ajudar a corrigir uma distorção que afasta muito do capital de risco do setor agtech.
Citando dados de levantamentos feitos sobre o segmento de inovação no agro, ele lembra que o País possui hoje cerca de 2 mil startups ligadas ao setor, entre agtechs e foodtechs. “Mas se você vai entender profundamente o que acontece nesse universo, você vê que 99% nem deram o primeiro passo ainda, que é de conquistar os primeiros produtores”.
Segundo ele, os fundos de ventuire capital, como a Barn, estão capitalizados, mas esse dinheiro não costuma ir para o agro na proporção da importância do setor no País. Mendes avalia que isso acontece, em grande parte, em função de dificuldades únicas no setor, que tem ciclos de crescimento diferentes, por exemplo, de empresas de bens de consumo.
“Os ciclos do agro são longos, é difícil chegar no produtor, mais caro. Então, no Brasil, ainda tem aí uma dificuldade de se entender como alocar dinheiro nas startups do agro. A nossa tese conversa muito com isso. Para a gente, a tese do agro é acertar as empresas líderes e algumas tendências específicas e não fazer o investimento espalhado em várias empresas que aparecem e que estão no early stage”.