Desde que o fundo Mubadala Capital, de Abu Dhabi, assumiu de vez o controle da Atvos, uma das maiores companhias sucroalcooleiras do Brasil, no fim de 2022, a agenda de modernização e tecnologia passou a ocupar posição central na estratégia da empresa.

Nesse contexto, no ano passado, a companhia lançou o programa de inovação aberta Inov@tvos, prevendo investimentos de R$ 3 bilhões entre 2024 e 2026. São mais de 30 iniciativas, incluindo parcerias com startups.

Até o momento, dois acordos já foram firmados — um deles com a BemAgro, agtech especializada no processamento de dados e na geração de relatórios agronômicos, e outro com uma startup ainda sob sigilo — e outras duas parcerias com startups em early stage devem ser fechadas antes do fim do primeiro semestre de 2025, segundo Alexandre Maganhato, CTO da Atvos.

"Os dois negócios estão encaminhados para serem tratados no primeiro semestre. A gente precisa de testes finais quando a safra recomeçar, entre abril e maio", afirma o executivo.

No caso da BemAgro, a Atvos entrou neste ano em uma rodada de R$ 15 milhões, liderada pela fabricante de máquinas CNH Industrial, com participação de Suzano, Rural Ventures, AgroVen e MM Agro.

Já no caso das novas startups a serem investidas, a ideia é que a Atvos firme contratos em troca de uma participação das empresas, segundo Maganhato.

"A grande dificuldade das startups early-stage é que elas não têm um contrato a longo prazo. O que a gente está procurando é que a startup venha com a tecnologia e a Atvos entre com o know-how agrícola e com um contrato longo", diz o CTO da Atvos.

Diferentemente do modelo de corporate venture capital, em que grandes empresas criam fundos específicos para investir em startups, a Atvos tem outro foco.

"Entendemos que não precisamos de um venture capital apenas para gerar retorno financeiro. Nosso objetivo é resolver problemas operacionais rapidamente. Em um segundo momento, podemos ter uma receita com as startups, mas o ganho operacional imediato é muito maior", afirma Maganhato.

"Em um segundo momento, a gente pretende, claro, ter um revenue vindo das startups, mas a gente entende que o ganho de operação é muito maior", acrescenta.

Uma das startups, que Maganhato prefere não revelar o nome por ora, está desenvolvendo uma plataforma digital que permitirá à companhia fazer o mapeamento ideal de talhões de canaviais, melhorando a produtividade da operação.

Embora essa tecnologia já exista e seja utilizada pela companhia, hoje está dispersa em vários softwares, segundo Maganhato.

"É um software com muita otimização, com roteirização, a gente faz todo o mapeamento dos talhões, daquelas estradas que a gente mesmo desenha e gerencia", afirma o CTO da Atvos.

A outra startup, também com o nome sob sigilo, está desenvolvendo uma máquina para conseguir tratar falhas de plantio no campo de forma automatizada.

"Hoje em todas as usinas, ou em muitas delas, a falha de plantio é tratada de forma manual. A gente vem discutindo um protótipo de tratar essa falha de plantio de forma automatizada", afirma Maganhato.

A Atvos já consegue identificar essas falhas de forma digital utilizando os serviços da BemAgro.

“Utilizamos drones e uma plataforma que identifica a falha de plantio automaticamente. Agora, de posse dessa informação e tendo os mapas dos canaviais, que mostram onde está a falha, é buscar realmente uma máquina plantadora para tratar só os locais onde há falha de plantio, e não o plantio contínuo”, explica Maganhato.

Em uma recente visita aos Estados Unidos, durante uma feira de veículos autônomos, Maganhato notou que o foco do mercado americano estava em garantir que as máquinas trabalhem de forma autônoma.

"Nós não estamos preocupados com autonomia total. O que queremos é uma operação mais sincronizada", disse.

"Se conseguirmos sincronizar bem as colhedoras, os tratores de transbordo e os equipamentos de plantio, nosso objetivo será reduzir o número de equipamentos ao final do processo", acrescentou o executivo.

A missão é complexa, considerando que a Atvos possui mais de 1,2 mil equipamentos em operação. "Qualquer redução nesse número já é um ganho significativo", concluiu Maganhato.

O desafio é complexo, dado que a quantidade total de equipamentos da companhia supera 1,2 mil unidades, somando toda a operação, segundo Maganhato. "Qualquer número que a gente consiga reduzir, já é muita coisa."