Atolada em dívidas, a startup francesa Ynsect, dona de um dos mais ambiciosos propjetos de produção de proteínas a partir de insetos do mundo, tinha uma última carta na manga.
No dia 17 de janeiro passado, a empresa anunciou que estava abrindo uma nova oferta pública para buscar potenciais investidores ou até compradores. Pediu proteção à justiça francesa para ganhar tempo e afirmou que já tinha conversas encaminhadas com potenciais.
Ganhou um mês de fôlego, mas o prazo obtido foi de apenas um mês – encerrado na semana passada. Mas não houve comprador ou investidor disposto a socorrer a companhoa, que enfrenta dificuldades de fluxo de caixa.
Com isso, não restou outra alternativa à empresa que não fosse o pedido de entrada em um processo de recuperação judicial, encaminhado na segunda-feira, 24 de fevereiro, ao Tribunal Comercial de Evry.
"Não foi possível chegar a um acordo sobre o financiamento de um plano de salvaguarda, apesar das extensas negociações e do trabalho que ocorreram", afirmou um porta-voz da empresa ao site AgFunderNews.
"A Ynsect permanece, portanto, sob a proteção do Tribunal Comercial de Evry e está buscando ativamente um ou mais compradores como parte de um plano de venda", prossegue o representante da startup.
Em setembro de 2024, a companhia já havia entrado com um plano de salvaguarda.
Esse é um instrumento jurídico francês que é utilizado por empresas em dificuldades para suspender a cobrança de dívidas no curto prazo, ao mesmo tempo em que as empresas correm para encontrar um comprador.
Na França, o passo seguinte para as empresas, caso a salvaguarda não dê certo, é o plano de recuperação judicial, em que o juiz pode decidir inclusive pela liquidação da companhia.
Em dificuldades financeiras, a Ynsect havia tido uma receita de 5,8 milhões de euros em 2023, contra um passivo de aproximadamente 104 milhões de euros, excluindo títulos.
Os números de 2024 ainda não foram fechados pela Ynsect, mas segundo informações da imprensa francesa, a startup precisaria de pelo menos 130 milhões de euros para retomar o ritmo de suas operações.
A situação atual é bem diferente do crescimento acelerado vivido pela startup ao longo da última década.
Criada em 2011, a empresa tem hoje 214 funcionários, quatro unidades na França, e conseguiu obter quase US$ 580 milhões de investidores desde então.
Entre os donos dos cheques, estão nomes como Astanor, BPI France, Crédit Agricole, Upfront e Footprint Coalition, do ator Robert Downey Jr.
A última rodada de investimentos havia sido feita em 2023, quando a startup conseguiu um aporte de 160 milhões de euros. Então, já havia anunciado uma reorganização operacional.
O plano incluia o fechamento de uma fábrica, demissões e um redirecionamento de mercado para alimentação de animais por estimação.
A Ynsect não é a única empresa do setor a passar por dificulades na França. Também em janeiro passado, a Agronutris, outra startup francesa de proteínas de insetos, também entrou com um procedimento de salvaguarda.
A startup produz proteínas feitas de insetos como foco em aquicultura e animais de estimação e havia conseguido levantar 100 milhões de euros em 2021 com investidores para construir uma fábrica comercial na cidade de Rethel, que começou a operar em 2023.
Mas, alegando que o ambiente de financiamento mudou "significativamente" desde 2021, agora impactado negativamente por incertezas econômicas, a Agronutris está tentando agora sobreviver.
A debácle desses novos mercados, que inclui também a agricultura vertical e proteínas alternativas, está associada à dificuldade das empresas de ganhar escala e trazer resultados aos investidores ao mesmo tempo em que o mercado de venture capital está mais avesso à risco.
De certa forma, startups como a Ynsect também pagam o preço do pioneirismo de suas operações, segundo disse uma fonte da indústria ao AgFunderNews.
"Definitivamente há viabilidade para a indústria e operações em escala são bem-sucedidas em todo o mundo. Mas alguns desses participantes mais barulhentos – a Ÿnsect, por exemplo, despertou muita atenção da mídia, bem como dólares de investidores – foram pioneiros com muitos dos desafios que os pioneiros enfrentam e tinham falhas ou desafios individuais específicos em suas abordagens ou tecnologias", afirmou.