Uma base em Minneapolis, porta de entrada para o cinturão produtivo dos Estados Unidos, com um time pequeno comandado por uma executiva local. É assim que a Seedz, startup brasileira que atua com uma plataforma de softwares para auxiliar na gestão dos produtores rurais, está dando seus primeiros passos no mercado norte-americano.

“Já estamos olhando, mas é um plano para longo prazo. Acredito que temos uma estrada muito grande para caminhar no Brasil ainda”, disse ao AgFeed Matheus Ganem, CEO da Seedz, sobre a aventura nos Estados Unidos.

Em fase de implementação em 10 países da América Latina, a empresa entendeu que, no ramo em que atua, não basta levar a tecnologia desenvolvida aqui. O desafio da adaptação às realidades locais é difícil e consome tempo e recursos.

“Quando olhamos para Argentina, Uruguai, Paraguai, é mais próximo da nossa realidade. Mas os países andinos, por exemplo, têm uma agricultura muito diferente da nossa”, afirma.

A questão dos recursos, segundo Ganem, está equacionada. No final do ano passado a empresa realizou uma rodada de US$ 16,5 milhões, liderada pela Alexia Ventures. A proposta é utilizar o capital para investimentos, inclusive o projeto de internacionalização.

A presença de uma equipe nos Estados Unidos chamou a atenção de quem cobre o ecossistema local de AgTech. O site AgFunder News, um dos mais ativos por lá, chegou a noticiar a chegada da empresa e o analista Shane Thomas, do UpStream Ag Insights, apontou que a concorrência dos brasileiros, lá, será dura contra competidores já estabelecidos como Farmers Edge, Telus Agricultures e AgVend.

Ganem confirma a informação da presença nos Estados Unidos, diz que espera ter os primeiros clientes ainda este ano por lá, mas diz que a operação americana deve ser implantada aos poucos. Segundo ele, a consolidação nos mercados latinos deve acontecer antes, e só depois o foco se voltará à América do Norte.

O empreendedor admite que há desafios a serem superados. Nos Estados Unidos, além do fato de já ser um país mais aderente à tecnologia, alguns elos da cadeia apresentam mais dificuldades, como o segmento de defensivos e fertilizantes, mais concentrado que no Brasil.

Ao mesmo tempo, diz que tem um trunfo para estabelecer o negócio por lá. “O que facilita é que temos parcerias com várias multinacionais”, afirma.

Ele afirma que, quando lançou a Seedz, em 2017, foi difícil convencer as grandes empresas sobre a ideia. “Nós começamos com uma empresa de cada segmento, e rodamos assim por um ano. Deu certo, e hoje temos, destas 1.800 cadastradas e mais de 100 que têm contratos recorrentes”.

Cita como exemplos companhias como Syngenta, UPL, Mosaic, AgroGalaxy, Sinagro e Agro Amazônia. Mais do que um marketplace, a intenção da empresa é se posicionar como um ambiente de relacionamento entre marcas e produtores rurais e de SaaS (software as a service) voltados para o segmento.

No último ano, a empresa começou a ampliar sua atuação, chegando até a quem oferece crédito ao produtor, como o Itaú. Neste sentido, a Seedz também já ensaia a entrada no mercado de crédito. Segundo Ganem, foram realizadas poucas operações até agora, via compra de debêntures pela empresa.

“Nós chegamos a quase lançar um FIDC no começo do ano, mas recuamos por conta dos juros altos. Estamos conversando com bancos e outros parceiros”, diz Ganem.

As aquisições também fazem parte da estratégia da Seedz. Nos últimos anos, a empresa já comprou uma empresa que desenvolve softwares de planejamento de safra e interação social e outra com foco na gestão de propriedades.

A última compra, fechada no final do ano passado, foi a da Gaivota, agtech que desenvolveu uma plataforma com a ambiciosa proposta de reunir, em um só ambiente, do acompanhamento e monitoramento ambiental de safra à gestão dos fluxos de compra, venda e financiamentos.

"Esta é uma empresa que foi fundada por três brasileiros com formação em Stanford, e que fornece serviços de dados colhidos via satélite”, diz o CEO da Seedz. Ele afirma que as aquisições foram feitas com troca de ações, e os vendedores se tornaram sócios das empresas.

Ganem explica que as receitas da Seedz vêm da mensalidade paga por agricultores para utilizar os serviços, uma taxa paga pelas empresas quando o produtor utiliza os créditos do cashback, e mais recentemente das operações de crédito.

Com cerca de 100 mil produtores cadastrados, segundo Ganem, a empresa não divulga dados de receita, mas o CEO garante que já atua com fluxo de caixa positivo. “Acredito que no terceiro trimestre, teremos mais caixa que antes do aporte”, projeta.