Alcançar a maioridade costuma marcar o início de um novo ciclo na vida das pessoas, repleto de transformações e escolhas ambiciosas.

No mundo corporativo, esse simbolismo também ajuda a explicar a trajetória do Grupo Fictor, fundado há 18 anos como uma empresa de soluções tecnológicas e hoje consolidado como uma holding que investe em segmentos como alimentos, infraestrutura e serviços financeiros.

O amadurecimento da Fictor vem acompanhado de uma agenda ousada de crescimento, que inclui a aquisição de frigoríficos, a ampliação da plataforma de serviços financeiros com soluções voltadas para o mercado B2B e novos investimentos em geração de energia renovável.

O grupo também acelera sua internacionalização, com operações iniciadas em Portugal e nos Estados Unidos, e aposta na construção de uma identidade institucional mais visível, com o lançamento de uma campanha publicitária que reforça a ideia de que a Fictor está por toda a parte – no supermercado, nas operações financeiras e em diversas outras atividades do cotidiano.

“Sempre tivemos um perfil mais low profile, trabalhando nos bastidores”, diz Rafael Gois, sócio e presidente da Fictor. “Agora, com o tamanho que atingimos, chegou a hora de dizer ao mercado tudo o que fazemos.”

O setor de alimentos responde atualmente por 70% do faturamento do grupo, que mira os negócios principalmente na cadeia de proteína animal.

Para crescer, a empresa aposta em fusões e aquisições, com foco em frigoríficos de médio porte - aqueles com capacidade de abate de 120 mil aves por dia e que, em muitos casos, enfrentam problemas de sucessão familiar ou dificuldades financeiras.

A empresa mapeou 16 frigoríficos que pretende adquirir nos próximos 18 meses, com um investimento que pode ultrapassar R$ 1 bilhão.

O diferencial da Fictor, segundo Gois, está na forma como estrutura os negócios: adquire unidades em situação delicada, injeta capital para garantir a continuidade das operações e passa a pagar os antigos proprietários com a geração futura de caixa das próprias empresas.

A estratégia de expansão da Fictor é baseada na formação de clusters regionais, modelo que permite ganhos de escala e eficiência operacional.

O grupo iniciou esse movimento em Minas Gerais, avançou recentemente para o Rio Grande do Sul e estuda novas operações em São Paulo e no Rio de Janeiro.

“Nós ganhamos justamente na escala”, afirma Gois. “Hoje temos um corpo diretivo único que administra vários frigoríficos.”

A centralização do comando se soma à integração da cadeia produtiva, gerando sinergias que vão desde genética e incubatórios até a fase de engorda.

O plano da Fictor é ultrapassar a marca de 500 mil aves abatidas por dia em cada cluster antes de avançar para novas regiões.

O mercado financeiro confia na estratégia. As ações da Fictor Alimentos tiveram valorização de cerca de 300% em 2024, um sinal inequívoco da confiança dos investidores na visão de longo prazo da empresa.

A segunda frente de negócios da Fictor está concentrada nos serviços financeiros, uma divisão que começou para atender às próprias necessidades do grupo e hoje ganha musculatura no mercado B2B.

A companhia montou um ecossistema financeiro completo, formado por fundos de investimento, gestora, securitizadora, instituição financeira e emissão de cartões de crédito, com bandeira Amex.

O carro-chefe da operação é a utilização de cartões de crédito no financiamento de matérias-primas e serviços entre empresas, o que resultou em R$ 450 milhões transacionados desde março.

Além do B2B, a área financeira atua no crédito consignado para servidores públicos, com presença em 120 prefeituras e um ritmo de concessão de empréstimos de cerca de R$ 50 milhões por mês.

O tripé da Fictor se completa com a divisão de infraestrutura, que reflete o alinhamento da companhia com aquilo que Rafael Gois chama de “DNA econômico do Brasil”: terra, sol, vento e energia limpa.

Cerca de 90% dos investimentos nessa área estão concentrados em geração de energia, com destaque para projetos solares, hidrelétricos e o aguardado leilão de potência de termoelétricas, previsto para o segundo semestre de 2025.

“O Brasil tem todas as condições para ser a maior potência mundial em energia renovável”, diz Gois. “Mesmo que o país não queira, está fadado ao sucesso nesse segmento.”

O crescimento da empresa também passa pela internacionalização. Nesse caso, a Fictor busca não apenas abrir novos mercados, mas também proteger o grupo contra riscos cambiais.

Segundo o CEO, a ideia é ter receitas em moeda forte para equilibrar o portfólio.

Em Portugal, a Fictor escolheu Lisboa como porta de entrada na Europa, de olho em projetos de energia e infraestrutura.

Nos Estados Unidos, o grupo estreou no início de abril com a compra de uma empresa que oferece crédito B2B.