Era dezembro de 2023, a Morro Verde Fertilizantes apresentou ao mercado um plano de investimentos que podia chegar a R$ 1 bilhão.
O discurso do fundador e chairman da empresa, Felipe Holzhacker Alves, na época, em uma reportagem do AgFeed, era de expansão acelerada, diversificação de portfólio e ganho de escala.
Dois anos depois, a trajetória não foi linear, mas a companhia entra em 2026 com um cenário bem mais favorável e fechando um 2025 de avanço na rentabilidade, bem melhor de um ano “punk” em 2024.
Dona de uma mina em Pratápolis (MG), a Morro Verde atua em toda a cadeia de fertilizantes naturais - da mineração à distribuição - com um portfólio que tem como carro-chefe um fosfato natural, mas também conta com calcário e potássio natural.
O CEO da empresa, George Fernandes, disse ao AgFeed que 2024 foi marcado, além do avanço de juros, por renegociações com bancos, baixa no preço dos produtos e dificuldades para obter algumas licenças, equação que fez a Morro Verde adiar projetos industriais.
O ano de 2025, contudo, mostrou uma virada de chave, e a empresa encerra o ano com recorde de produção, melhora operacional e um novo ciclo de investimentos que deve impulsionar ainda mais os números em 2026.
“Estamos encerrando 2025 com recorde de produção. Produzimos quase 280 mil toneladas de fosfato, o maior volume da nossa história, além de algo entre 220 mil e 230 mil toneladas de calcário”, afirmou George Fernandes.
Em 2024, a empresa produziu cerca de 180 mil toneladas de fosfato, relembrou. O avanço de produção compensou uma baixa do preço que, segundo Fernandes, passou de R$ 350 por tonelada no ano passado para a casa dos R$ 320 esse ano.
O executivo não deu detalhes sobre o faturamento do grupo, mas citou que 2025 será estável frente a 2024. “A receita vai fechar em linha, mas crescemos Ebitda em uns 15% de 2024 para 2025. Fizemos uma reestruturação de custos, pessoal e conseguimos reorganizar a empresa. Mesmo com preço caindo, aumentamos produção”, disse.
“Tudo isso enquanto construíamos uma nova planta de britagem, sem parar a operação, sem acidentes de trabalho e sem problemas estruturais na mina. Foi um ano desafiador, mas motivo de muito orgulho para todo o time”, acrescentou o executivo.
O investimento nessa nova planta foi de R$ 20 milhões, revelou George Fernandes, e deve fazer com que a capacidade de produção de calcário suba para 700 mil toneladas, e o de fosfato em cerca de 400 mil toneladas anuais.
Fernandes cita que a expectativa é praticamente dobrar de tamanho em 2026 com a nova unidade. “É algo excelente do ponto de vista de custos, principalmente se o mercado continuar com preços em uma trajetória de queda”, diz.
O preço tem sido um ponto sensível na produção de fertilizantes, tanto para preços em excesso quanto para preços em queda.
No último dia 16 de dezembro, a Mosaic do Brasil informou que suspendeu temporariamente a produção de SSP (superfosfatado simples) em duas de suas unidades no País - uma em Araxá (MG) e outra em Paranaguá (PR).
A empresa indicou que a razão dessa paralisação seria "adotar cautela em relação ao recente aumento nos preços do enxofre". O enxofre é um dos insumos base para a produção de fosfatados.
Segundo a agência de preços Argus, os preços do enxofre saltaram neste ano de uma faixa histórica entre US$ 80 e US$ 180 por tonelada para níveis próximos de US$ 500 FOB no Oriente Médio, pressionados por um descompasso entre oferta e demanda global.
“A Mosaic fecha mas nós e outros concorrentes - Nutrigesso e Massari - estamos com fábricas abertas e produzindo. Uma parceria entre nós, empresários locais, é ótima para atender a demanda do mercado interno”, disse Fernandes, da Morro Verde.
Uma aposta na agricultura regenerativa
Diante desse ambiente mais hostil, a Morro Verde passou a se apoiar de forma mais clara na tese da agricultura regenerativa como vetor de crescimento e diferenciação comercial, apostando na combinação entre fertilizantes naturais, formulações customizadas e ganhos agronômicos de longo prazo.
A leitura da empresa é de que, mesmo em um cenário de preços pressionados, há espaço para crescimento em nichos que entregam eficiência técnica e construção de solo.
“Eu acho que o mercado deve ter um aumento no consumo de fertilizantes naturais, o que é bom pra nós. Vamos surfar um pouco mais nessa “moda” com capacidade de produção maior”, disse o CEO da Morro Verde.
Para Fernandes, o risco de a tendência se mostrar passageira existe, mas os resultados técnicos sustentam a tese no longo prazo. “Espero que não seja só uma moda. Quando você olha de perto os resultados técnicos, o fertilizante natural entrega produtividade semelhante no curto prazo e melhores resultados no longo prazo, com construção real de solo”, afirmou.
Além do aumento de volume e do foco nessa “nova agricultura”, a empresa aposta cada vez mais em formulações customizadas, combinando o fosfato natural com outros nutrientes conforme as características de cada solo.
“Não é só vender fosfato. É entender o solo, e o produtor ver que ele pode misturar boro, magnésio, enxofre, potássio. Essa inteligência de formulação é o que começa a fazer diferença agora”, disse.
Tirando o pé do acelerador
Na entrevista concedida ao AgFeed em dezembro de 2023, o fundador e chairman Felipe Alves detalhava um plano ambicioso: elevar a capacidade de produção de fosfato de cerca de 400 mil toneladas para 1,5 milhão de toneladas nos anos seguintes, além de diversificar o portfólio, investir em amônia verde no Paraguai, criar mecanismos de cashback de crédito de carbono e ampliar uma rede de parceiros comerciais.
À época, a empresa vinha crescendo entre 30% e 35% ao ano e havia faturado R$ 150 milhões em 2022. O cenário macroeconômico, no entanto, tratou de impor limites. “2024 foi um ano muito difícil para a companhia”, resumiu Fernandes.
“O custo da dívida no Brasil inviabiliza projetos industriais. Pagar 15% de CDI mais 4% ou 5% de spread bancário, em operações que precisam ser renovadas a cada cinco anos, simplesmente mata a empresa".
O impacto foi direto sobre os investimentos mais pesados. Um dos principais projetos da Morro Verde - a construção de uma planta de concentração de fosfato, capaz de transformar minério de baixo teor em produto de alto teor exige cerca de R$ 300 milhões, estima Fernandes. Com juros elevados, a conta não fechou.
Diante desse contexto, a estratégia foi sobreviver, ajustar custos e manter o foco no posicionamento central da empresa: fertilizantes naturais, sem mistura química, voltados à regeneração do solo no longo prazo.
“O que a Morro Verde fez desde o início foi quase heroico: colocar uma nova planta de pé, resistir à tentação de misturar produtos químicos e sustentar a proposta de fertilizante natural”, afirmou Fernandes.
O principal mercado da empresa hoje é o de cana-de-açúcar, especialmente no interior de São Paulo e no Sul de Minas, além de café. Há também casos pontuais em culturas como arroz no Rio Grande do Sul, com resultados considerados relevantes.
Em regiões de uso intensivo do solo, como áreas de cana com décadas de cultivo contínuo, a recuperação da fertilidade é vista como um diferencial competitivo. “São solos que ficaram pobres ao longo do tempo. Multicultura, poucos nutrientes, sem construção de longo prazo. O fertilizante natural entra justamente aí”, disse Fernandes.
Resumo
- A Morro Verde Fertilizantes encerra o ano com recorde de produção, melhora operacional e um novo ciclo de investimentos, após um período difícil em 2024.
- Uma nova planta deve fazer com que a capacidade de produção de calcário suba para 700 mil toneladas, e a de fosfato em cerca de 400 mil toneladas anuais.