Em um momento de pouco capital disponível e de dificuldades macroeconômicas, com os juros nas alturas travando o mercado de venture capital, a KPTL, com mais de R$ 1 bilhão de ativos sob gestão, se prepara para acelerar seu plano de exits em startups ao longo do ano que vem.

“Entramos em 2026 com uma agenda de desinvestimento madura”, afirmou Renato Ramalho, CEO da gestora, em conversa com jornalistas nesta quarta-feira, 3 de dezembro, na sede da gestora em São Paulo (SP).

Com um portfólio de 70 startups, incluindo agtechs conhecidas como Agrotools e Ecotrace, a casa realizou duas saídas neste ano, ambas fora do agro: a Suri, uma startup que desenvolve chatbots com inteligência artificial e foi adquirida pela Totvs, e a CHP, que atua com geração distribuída de energia, comprada pelo Grupo WLM.

Em paralelo, a gestora participou de três investimentos em startups. Um deles foi em uma agtech, a Neosilos, de Curitiba (PR), que está recebendo neste mês um aporte de R$ 500 mil do Fundo Finep Startups, veículo gerido pela KPTL e pertencente à Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, do governo federal.

A empresa já tinha recebido R$ 500 mil do órgão e agora está recebendo um novo aporte, dessa vez utilizando o fundo gerido pela KPTL.

Criada em 2021, a empresa desenvolveu um equipamento capaz de analisar, em poucos minutos e com uso de inteligência artificial, a qualidade de grãos como milho e soja, prometendo tornar o processo mais confiável, preciso e ágil. Agora, protótipos vêm sendo testados pela startup com cooperativas paranaenses.

“É o tipo de empresa que gostamos. Um empreendedor disposto a quebrar o paradigma da classificação de grãos no Brasil”, afirma Diego Bertolin, associado da gestora.

Os outros investimentos da casa foram na GRTS Digital, de transformação digital da gestão de relações trabalhistas, e na i4sea, focada em inteligência climática.

Daqui em diante, segundo Ramalho, a tendência é de que tanto novos investimentos como os exits – que podem incluir inclusive agtechs investidas – dependam da dinâmica de mercado.

“Captar com juros a 15% não é trivial. 2026 deve ser um ano divertido com eleições e Copa do Mundo. É o Brasil sendo o Brasil. A macroeconomia não vai mudar tanto, mas o Brasil aparece tendo mais liquidez dentro dos mercados emergentes”, afirma.

Falta capital no mercado, reconhece Ramalho, o que vem afetando o volume de transações feitos pela gestora. “O segundo semestre de 2025 não foi ruim de procura pelos nossos ativos, mas não conseguimos concluir o volume de transações que estávamos querendo”, afirmou.

Apesar do ritmo de operações menos acelerado do que a casa esperava, Ramalho atenta para o fato de que o foco da KPTL – que prioriza startups que trazem ferramentas e soluções inovadoras para as cadeias onde estão inseridas — faz com que a gestora tenda a sofrer menos com oscilações macroeconômicas.

“Inovação é muito mais resiliente às questões macro. Se o CDI está a 10% ou 15%, isso acaba sendo pouco importante porque investimos em startups que atendem funções essenciais”, diz Ramalho.

Para comprovar sua tese, o gestor ressalta que, mesmo em um ano adverso, o portfólio de todas as investidas da KPTL somou R$ 1,1 bilhão em faturamento bruto, alta de 31% em relação a 2024.

A KPTL também espera que os investimentos em climatechs continuem com bom dinamismo, embalados pelas discussões da COP 30, a conferência do clima da ONU realizada no mês passado em Belém (PA), e também vem ampliando suas iniciativas de advocacy.

A principal delas é a Bioeconomy as Solution (BAS), criada em 2023 com a Rede Brasil do Pacto Global da ONU, e que promoveu vários debates e eventos ao longo dos últimos anos reunindo empreendedores, investidores e gestores públicos para encontrar caminhos para o fomento à inovação na bieoconomia da Amazônia.

A partir de agora, a proposta da KPTL é transformar a iniciativa em um hub multissetorial para destravar investimentos na região.

Ramalho compara o momento – e o potencial – dos investimentos na bioeconomia da região ao vivido pelo agro no passado.

“O agro passou por uma dinâmica parecida há 15 anos. Estamos vendo nascer outro setor, com muitos atores, pouca potência e pouca especialização. O BAS busca convergência: governo, indústria, universidades e empresas pensando bioeconomia de forma conjunta. Isso já começa a acontecer, ainda que em estágio inicial”, analisa o CEO da KPTL.

Um obstáculo relevante, segundo ele, é a falta de alinhamento entre os estados da região Norte em políticas públicas para inovação e desenvolvimento de startups locais.

“No Pará, vemos mais coisas acontecendo. Mas em outros estados isso não ocorre da mesma forma”, compara Ramalho.

Resumo

  • KPTL entra em 2026 com uma agenda de desinvestimentos, ainda que diante de um cenário de juros altos, pouca liquidez e menor apetite do mercado
  • Apesar dos desafios, a gestora participou de aporte de R$ 500 mil na agtech Neosilos, do Paraná, voltada a reconhecimento de grãos via IA, e em mais duas startups
  • Em paralelo, a KPTL amplia sua atuação em advocacy com um hub multissetorial para destravar investimentos em bioeconomia na Amazônia