“2025 foi o ano da influenza aviária. Nem nos meus melhores sonhos pensava no que estamos apresentando hoje: números positivos”. Foi assim que Ricardo Santin, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), iniciou sua apresentação durante a tradicional coletiva de imprensa de final de ano promovida pela associação.
Nas projeções da instituição, tanto referente à produção quanto exportação para o fechamento de 2025 e para 2026, números em alta nos dois anos na carne de frango, suínos e nos ovos.
A carne de frango deve encerrar o ano de 2025 com uma produção de até 15,3 milhões de toneladas, uma alta de 2,2% frente a 2024. De acordo com Santin, a expectativa há alguns meses era fechar o ano em 15,4 milhões de toneladas, mas o impacto da doença fez empresas redirecionarem a produção, além de uma diminuição no peso médio do abate.
A exportação deve chegar a 5,32 milhões de toneladas em 2025, uma alta de até 0,5% em relação às 5,29 milhões de toneladas de 2024, mesmo com os casos de influenza aviária no Brasil registrados na metade do ano.
Santin primeiro agradeceu os produtores rurais, citando que operaram com “coragem, cautela, previsão e biossegurança”, para que o episódio em granjas comerciais fosse único.
Na sequência, citou que o avanço se dará por conta do redirecionamento de exportação para outros mercados, mesmo que não os principais.
“De 150 mercados, mantivemos 122 mercados abertos e, com isso, mostramos os resultados positivos na exportação”, disse Santin.
Dados da ABPA mostram que, no acumulado de janeiro a outubro deste ano, o volume é apenas 0,1% menor do que no mesmo intervalo de 2024, com 4,37 milhões de toneladas ante 4,38 milhões de toneladas no ano passado.
Na visão de Santin, citando números ainda não finalizados de novembro e já projetando dezembro, o Brasil deve encerrar o ano com mais volume exportado na carne de frango em 2025.
“De janeiro a novembro passaremos a ficar 0,1% positivo, olhando a parcial da primeira quinzena. É um grande ganho, algo para se celebrar porque o Brasil num período de menos de 9 meses conseguiu uma recuperação fantástica”, disse Santin, que na sequência voltou a agradecer, mas dessa vez entidades governamentais: o Governo Federal, Carlos Fávaro e o Mapa, além de secretários da pasta como Luís Rua e secretários do estado do Rio Grande do Sul, como Márcio Madalena.
“Todos ajudaram a controlar o episódio único e isolado e mostrar ao mundo que temos capacidade de controlar a doença”, prosseguiu.
Na receita com exportações, porém, o acumulado de 2025 mostra uma baixa maior frente aos números de 2024. Após registrar US$ 8,17 bilhões nos 10 primeiros meses do ano passado, anotou US$ 8,03 bilhões neste ano, baixa de 1,8%.
Apesar da queda, Santin comemorou uma baixa em um patamar reduzido. Com volumes relativamente estáveis, Santin explica que a queda nos preços se dá porque algumas realocações de vendas podem gerar perdas de rentabilidade. “Um produto que valia 10 num país teve que ser vendido a 8 em outro”, citou.
O presidente da ABPA estima que os casos de influenza aviária e os consequentes bloqueios comerciais tiraram de US$ 100 milhões a US$ 150 milhões de vendas. “Mesmo assim, quando vejo o mercado dos EUA perdendo quase US$ 3 bilhões é uma vitória importante, que foi absorvida por outros destinos e ainda pode fechar o ano com uma perda ainda menor com os números de novembro a dezembro”, disse.
Olhando para 2026, a projeção é de uma alta ainda maior. Na produção, a expectativa é de 15,6 milhões de toneladas, uma alta de 2% em relação ao previsto para este ano. A exportação deve crescer 3,4% nessa mesma comparação, para 5,5 milhões de toneladas.
Segundo Santin, a conjuntura de demanda elevada somada a casos crescentes de influenza aviária e outras doenças em países exportadores e consumidores, como na União Europeia, pode ajudar o mercado brasileiro.
Ao avaliar o panorama dos concorrentes na exportação de frango, Santin cita que na União Europeia, as exportações caíram 1,4% de janeiro a agosto (últimos dados disponíveis). “Era uma região que previa crescer 1%, mas caiu e deve continuar a ter dificuldades. São o terceiro maior exportador mundial, mas infelizmente enfrentam muitos casos de influenza”, disse.
Nos Estados Unidos, o cenário não é tão diferente. De janeiro a junho, as exportações recuaram 7%. Santin vê que, mesmo com uma pequena retomada em julho, que pode equilibrar a exportação, casos de gripe aviária tem voltado ao hemisfério norte.
Além do Brasil, outro país que pode surfar esse cenário é a Tailândia, que cresce 7% principalmente com vendas para o Japão e Emirados Árabes. “Cresce pelo vácuo que os concorrentes deixam, que vai ser capturado pelo Brasil, Tailândia e outros exportadores como Turquia, Argentina e Ucrânia”.
A receita também deve se recuperar ano que vem, com Santin avaliando justamente esse cenário de diminuição de oferta de outros países exportadores, como EUA e União Europeia. “O aumento de influenza nesses locais diminui a produção local, então a tendência é que os preços sejam realocados, recuperem a normalidade em 2026 e, alguns lugares, até subir por essa diminuição de oferta”, afirmou Santin.
Outro fator que deve ajudar o setor no ano que vem é o custo. A ABPA projeta que, mesmo com uma previsão de menor produção de milho, a safra ainda deve superar 140 milhões de toneladas. “Vai ter milho para todo mundo: frango, suínos, pecuária de leite, consumo humano, etanol e ainda um bom excedente de exportação”.
“Quando olhamos 2026, vemos que os fatores estruturantes fazem tudo para que seja um ano positivo”, acrescentou.
Avanço também na carne suína
Nos suínos, o Brasil deve encerrar 2025 com uma produção de 5,5 milhões de toneladas, uma alta de 4,6% frente ao ano anterior.
Santin cita que o número é até um pouco acima do previsto há alguns meses, e cita uma alta no preço médio no abate e um consumo forte tanto internamente quanto externamente.
A exportação deve bater 1,49 milhão de toneladas, avanço de 10% em um ano. Santin cita um desempenho “absolutamente positivo nos 10 primeiros meses deste ano” na exportação, com avanço de 22% em receita, que atingiu US$ 3 bilhões, e uma alta de 12% no volume com 1,26 milhão de toneladas.
O presidente da ABPA destacou que mesmo com a China, um dos principais importadores históricos, comprando quase 30% menos em volume na comparação entre 2025 e 2024, o Brasil cresce as vendas por outros mercados, como Japão, que aumentou suas compras em 25%, e Filipinas, principal destino, com avanço de 56%.
Os concorrentes na exportação, como União Europeia e Canadá até crescem, mas já veem uma curva de crescimento perdendo fôlego. Assim como no caso das aves que sofrem com a influenza aviária, Santin relembra que o Velho Continente tem enfrentado a peste suína africana, que foi detectada em javalis selvagens por lá.
“A Espanha, que soma 23% do mercado europeu de exportação, já teve alguns países que fecharam o mercado. A China fechou oito plantas na Catalunha”, citou.
Santin ainda vê um aumento do consumo interno de carne suína nos EUA como panorama positivo para o Brasil.
“É bem provável que o Brasil se transforme no terceiro maior exportador mundial de carne suína, porque nossas contas jogam o Canadá para uma faixa de 1,35 milhão de toneladas, e nós, com 1,49 milhão de toneladas. O Brasil conquista uma posição boa para a suinocultura, com 15% do market share global”, afirmou o presidente da ABPA.
Boa notícia nos ovos
A produção de ovos deve encerrar 2025 em 62,2 bilhões de unidades, uma alta de 7,9% frente a 2024. A exportação deve avançar 116% frente a 2024, chegando a até 40 mil toneladas de ovos.
Santin acredita que está sendo criada uma “cultura exportadora” nesse mercado, e brincou que cumpriu uma meta que ele mesmo se atribuiu há 17 anos, quando chegou na ABPA, de fazer o Brasil exportar mais de 1% da produção nacional, o que vai acontecer neste ano.
O avanço da exportação neste ano se deu, tanto por uma internacionalização de empresas nacionais, como Granja Faria e Mantiqueira, quanto por uma demanda aqeucida nos Estados Unidos.
“EUA chegou em números interessantes de importação na metade do ano, porque havia influenza aviária muito forte lá. Houve um pico em maio, até o tarifaço, e depois caiu. A tarifa inviabiliza a exportação. Já saiu a tarifa sobre a carne e café, esperamos que saia sobre o ovo, carne suína e tilápias”, disse Santin.
Para o ano que vem, a ABPA projeta uma produção de 66,5 bilhões de unidades de ovos, um avanço de 6,8% frente aos 62,2 bilhões de ovos de 2025. A exportação do produto deve avançar 12% em 2026, chegando a 45 mil toneladas. O consumo do ovo per capita deve chegar a 307 unidades por habitante no próximo ano, uma alta de 7% em um ano.
“Não vai faltar ovo para o brasileiro, quando avaliamos as matrizes já alojadas. Sem problema de grãos e doenças, vamos crescer na produção e exportação. Se os EUA voltar a importar ovos ano que vem, podemos até ver esse percentual aumentar”, afirmou Ricardo Santin.
Resumo
- Produção de frango deve fechar 2025 em até 15,3 milhões de toneladas (+2,2%) e as exportações em 5,32 milhões de toneladas. Receita recua 1,8% no ano
- Nos suínos, a produção chega a 5,5 milhões de toneladas, com exportações subindo com Brasil ganhando espaço mesmo com China comprando menos.
- Produção de ovos cresce 7,9% para 62,2 bi de unidades e exportações disparam 116%. ABPA projeta novo avanço em 2026 com demanda externa firme e custos de ração estáveis