Belém (PA) - Na primeira aparição do ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, na Blue Zone, área da COP 30 restrita aos negociadores climáticos e imprensa, o assunto foi o lançamento oficial de uma iniciativa chamada Raiz (sigla em inglês para Resilient Agriculture Investment for net-Zero land degradation).

Liderada pelo Brasil, o projeto ganhou a adesão de outros oito países: Arábia Saudita, Austrália, Canadá, Japão, Noruega, Nova Zelândia, Peru e Reino Unido, e contará com a colaboração de grandes nomes como FAO e Banco Mundial, entre vários outros participantes.

Dessa forma, a iniciativa ganha musculatura para apoiar governos de diferentes países na tentativa de acelerar a alocação e obtenção de recursos públicos e privados voltados à restauração em larga escala de áreas degradadas espalhadas ao redor do mundo.

A Raiz tem como referência soluções brasileiras de recuperação de áreas degradadas – bem sucedidas até aqui.

Trata-se do leilão bem sucedido para recuperação de áreas degradadas do Eco Invest Brasil, programa de hedge cambial do Tesouro Nacional, que destinou R$ 16,5 bilhões para bancos públicos privados financiarem a transformação de 1 milhão de hectares nos próximos anos, e do Caminho Verde Brasil, programa de recuperação de pastagens do Ministério da Agricultura e Pecuária que tem a ambição de restaurar 40 milhões de hectares de áreas degradadas em dez anos.

“É uma belíssima oportunidade e que isso passe a ser um modelo mundial, para que todos os países do mundo preservem e invistam em suas áreas, com crescimento verticalizado e sustentável”, disse Fávaro, em breve fala no lançamento da iniciativa, na manhã desta quarta-feira, dia 19 de novembro, na COP.

A ideia é que a Raiz preste assistência técnica aos governos dos países participantes, ajudando-os a mapear terras a serem recuperadas, entender o valor financeiro das propriedades e trazer os recursos necessários.

Está previsto, por exemplo, que seja feito um trabalho de mapeamento de paisagens degradadas onde serão priorizados os investimentos.

Para isso, o objetivo da Raiz é desenvolver uma ferramenta interativa de mapeamento, que permitirá análises precisas como forma de direcionar recursos para áreas com maior potencial de ganhos produtivos.

Em outra frente, a Raiz diz que os governos vão receber apoio na identificação de soluções de restauração e também na criação de uma avaliação de financiamento para a restauração de terras, que incluirá custos, retornos, lacunas e possíveis fontes de recursos financeiros adicionais.

Ainda no lado financeiro, a Raiz almeja reunir governos e investidores interessados em construir ou adaptar veículos de co-investimento que usem recursos públicos para reduzir riscos e custos de capital, mobilizando o capital privado – a exemplo do que fez o Eco Invest.

Por fim, a iniciativa pretende fomentar a troca de experiências e conhecimentos entre os participantes da coalizão.

Não será fácil colocar de pé essa iniciativa, dado que mais de 20% das terras agrícolas espalhadas pelo mundo, com cerca de 1 bilhão de hectares, estão degradadas.

Se 10% dessas áreas fossem restauradas, seria possível a produção de 44 milhões de toneladas de alimentos, suficientes para atender às necessidades nutricionais de 154 milhões de pessoas, nas estimativas da Raiz.

Ao mesmo tempo, há a necessidade de volume grande de recursos para fazer essa transformação. A Raiz calcula que hoje há um déficit de financiamento de US$ 105 bilhões que os governos não conseguem suprir sozinhos.

Nesse contexto, a iniciativa estima que o setor privado poderia investir até US$ 90 bilhões – quase todo o valor necessário – em soluções baseadas na natureza aplicadas à agricultura, mas os custos altos iniciais, prazos longos de retorno e rentabilidade variável dificultam a mobilização desses recursos, diz a Raiz.

A Raiz está sendo implementada por membros do Grupo de Ativação do Objetivo-Chave 8 da Agenda de Ação da COP.

A iniciativa será hospedada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, em parceria com a FAO e colaboração com a Iniciativa Global de Terras do G20 e a Food and Land Use Coalition.

O programa conta também com apoio técnico de parceiros nacionais, como o Instituto Clima e Sociedade (iCS) e Agroicone, e internacionais, como o Banco Mundial, Green Climate Fund, CGIAR, Climate Policy Initiative, Ambition Loop e Restor.

A iniciativa está nascendo cheia de boas intenções e vários atores participando. A ver se os esforços resultarão em transformação na prática.

Resumo

  • Iniciativa Raiz reúne Brasil e mais oito países para acelerar a restauração de áreas degradadas com apoio de FAO, Banco Mundial e outros parceiros.
  • Programa pretende dar assistência técnica para que países possam mapear terras degradadas, avaliar custos e criar mecanismos de co-investimento que reduzam riscos e mobilizem capital privado
  • O Raiz nasce com grande ambição global, mas enfrenta um déficit estimado de US$ 105 bilhões e desafio de transformar boas intenções em resultados concretos