Em meio a uma aura de desânimo, incredulidade e ceticismo, se desenrola a semana decisiva da COP30, a COP da Floresta, em Belém do Pará, capital localizada estrategicamente na porta de entrada para a Amazônia Oriental, próxima a foz do Rio Amazonas.
A maior floresta tropical do planeta e o maior rio em vazão de água da Terra, o segundo mais extenso depois do Rio Nilo, parece que não terão na decisão de sua COP nada de grande relevância para a Amazônia ou seu povo, algo que, em qualquer lugar do mundo, seria indissociável.
Estive lá representado os produtores de soja brasileiros na AgriZone, muito bem-organizada e construída pela CNA e pela Embrapa. No dia dos grãos e fibras pudemos apresentar a carta manifesto dos produtores de soja, nossa humilde contribuição de pensamento para o debate.
Com quatro eixos, Segurança Alimentar, Segurança Energética, Ciência Tropical e Governança e Produtivismo Verde, o manifesto se propôs a apresentar diagnósticos e sugestões. Com a contribuição da academia, através da figura do professor Daniel Vargas, conseguirmos em poucas páginas sintetizar o que todos estão dizendo com grande competência.
Mas fomos além e, ainda mais importante, propusemos algo que extraímos também do inconsciente coletivo, mas que não foi ainda proposto e que, ao falar de uma COP da Floresta Tropical, se torna vital: uma agenda, a criação de um Fórum Internacional de Agricultura e Clima Tropical.
A nosso ver, o Fórum Internacional de Agricultura e Clima Tropical deveria ser uma das iniciativas diplomático-científicas brasileiras para consolidar uma rede internacional de pesquisa e governança das métricas e padrões tropicais aplicados ao uso da terra.
A ideia era juntar países como Brasil, Índia, Indonésia e Nigéria, que têm em comum escala, influência regional e capacidade técnica para reunir cientistas, instituições e governos comprometidos com a “tropicalização” da mensuração, relato e verificação (MRV), para atividades econômicas que lhes são vitais como a agropecuária, a bioenergia e as florestas produtivas.
O grande objetivo é dar voz aos trópicos na formulação de padrões globais, rompendo a dependência de critérios impostos à revelia e de fora para dentro.
É claro que isto depende de uma sensibilidade e percepção das contrapartes dos países citados, mas a medida mais importante, contudo, seria a ação da presidência brasileira da COP30.
O País tem autoridade para propor e lançar, sob o guarda-chuva da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), uma Força-Tarefa Global de Agricultura e Clima Tropical, com mandato de 2 anos, para planejar, estruturar e lançar o novo Fórum.
No médio prazo, este Fórum poderia reforçar as negociações e cooperações internacionais junto à Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e à própria UNFCCC.
O Fórum também poderia contribuir com harmonizações e ajustes regulatórios, compartilhamento estratégicos de bases de dados e apoio e formação de especialistas em ciência da produção tropical.
A força decisiva deste Fórum estaria em unir diplomacia e ciência rigorosa —de forma a permitir que o Brasil lidere, junto a outros países, a criação de uma nova governança do clima, mais justa e representativa.
Mas, agora, perguntamos: será que as autoridades brasileiras estão realmente preocupadas com uma agenda para a Amazônia e para o seu povo, ou dissociaram as coisas e estão perdidos em marchas insólitas, que não levam ninguém a lugar algum?
Não, meus amigos, não vemos essa agenda por parte das nossas autoridades. Nem de valorização do modelo sustentável que o Brasil criou e nem de alternativas para tirar o povo amazônida da pobreza, da miséria que se encontram, com os piores indicadores sociais do país.
Na ausência de decisões racionais que norteiem políticas públicas em prol de uma agenda agrícola tropical protagonista no contexto climático e de desenvolvimento para redução das desigualdades, fica o sentimento de dever cumprido por parte de entidades do agro ao expor de forma clara e objetiva diretrizes centrais da Carta-Manifesto dos Produtores na COP 30.
Que defendamos com convicção, em todas as mesas de negociação, o Verde como Valor, o Clima como Desenvolvimento e a Soberania como Caminho.
Maurício Buffon é presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil)