Relendo um texto que escrevi em dezembro de 2023, senti que não poderia deixar de voltar a esse assunto, desta vez me antecipando ao que está por vir em poucos dias: a COP 30, que terá início no próximo dia 10 de novembro, em Belém.
Sem nenhum tom de pessimismo, mas de realismo, fico pensando o que mudou ou vai mudar do texto que escrevi há dois anos.
Entre eles houve uma COP29 - e duvido alguém lembre do que foi decidido e do que foi implementado a partir dela.
Claro que estou sendo exagerado e sem dúvida aceito as críticas de quem esteve envolvido e trabalhou muito numa cidade tão longe do Brasil.
Por ser no Brasil, estamos vivendo de perto os bastidores desta COP e, se nas outras a questão de hospedagem também foi um problema, aqui adquiriu ares de tragédia nacional.
Aqui barcos de luxo estão virando hospedagens flutuantes com diárias estelares e críticas por todos os lados.
Notícias fervilham de todos os lados. Desde a ausência já prevista de Trump ao fato de que a maioria dos países ainda não apresentou os resultados das suas NDCs.
Para quem não tem obrigação de saber NDCs (em inglês, Nationally Determined Contributions), são as Contribuições Nacionalmente Determinadas, planos de cada país para reduzir emissões de gases de efeito estufa e se adaptar aos impactos das mudanças climáticas, conforme os objetivos do Acordo de Paris.
A cada olhada nas redes sociais nos deparamos com eventos e lançamentos em Belém.
A agenda deste ano é desafiadora, trata temas de grande relevância e, como sempre, nos enche de esperança de que dessa vez vai.
Talvez seja a idade, estou dois anos menos jovem que em 2023, mas confesso que estou um pouco mais ranzinza e com pouca paciência para tanto confete e serpentina e tão pouca efetividade nas COPs.
Fico pensando nas anteriores e o que será feito de diferente nessa para que não fiquemos com gosto amargo passados os dias de reuniões , apresentações , acordos , etc..
Sigo acreditando que as COPs são necessárias porque, simplificando ao extremo, tratam-se da reunião de condomínio do Planeta. E como toda reunião de condomínio, são uma “zorra”.
Interesses distintos, estágios de maturidade dos condôminos com variações gigantescas, uns que não querem pagar a conta... Resumindo, a cada reunião que passa, o condomínio esquenta mais e a conta tende a ficar mais cara para todos nós.
Assim como nas reuniões de condomínio, gera-se uma ata e é esperado que se cumpra o que foi decidido. Mas, pelo que tenho visto (e claro que posso estar equivocado), não ocorre o mesmo nas decisões tomadas nas COPs.
O síndico ONU até tenta, mas tem apenas a força da oratória. Quem realmente decide é quem detém o poder econômico (e, agora, também o bélico).
Volto ao que escrevi em 2023, porque, infelizmente, continua atual.
O sucesso de uma COP não está no acordo firmado ao término do encontro entre as partes. Está na sua execução em tempo e forma.
Complemento com outra pergunta que me fiz e que ficou martelando minha consciência : Quem monitora a execução dos acordos firmados ao nível governamental e ao nível das corporações presentes ao encontro ?
Entendo que não seja um processo simples , mas agora trago para o lado de todos que foram fisicamente ou participaram da COP remotamente.
Necessitamos encontrar meios de traduzir todo o esforço alocado para discutir o que fazemos no condomínio Terra.
Quem vai monitorar os acordos firmados e divulgar para que saibamos? Se cada organização que tiver ido a Belém prestar contas públicas do que fez por lá e apresentar o seu plano de ação, já vai ser um avanço.
Objetivos que não se medem e não se reportam, não servem para nada.
Deixo novamente um chamado para darmos um grande BASTA e exigir que os acordos além de serem cumpridos sejam informados do seu andamento.
Mas observem que não estou propondo sair fazendo protestos ou levantando bandeiras. Falo de um sistemático e profissional follow up do que foi acordado. Factual e com dados concretos e públicos.
É hora de usarmos algo simples e poderoso .
Assim como na Apolo 13, que ao detectar um vazamento na cabine em pleno voo para pousar na Lua , chamou os cientistas em Cabo Canaveral e disse “Houston , nós temos um problema”, me dirijo a você leitor e falo: “ Nós temos um problema e uma oportunidade”.
Podemos aceitar que o destino nos levará a cozinhar em fogo brando pelos próximos anos ou acordar de nosso sono de inconsciência e passar a cobrar que no mínimo tenhamos claridade dos acordos e do que será feito .
Mas a quem cobrar?
Estou fazendo e sugiro que cobremos de quem foi a COP. Colegas de profissão , instituições , empresas , etc. Se foram lá é porque acreditam que valeu usar tempo, esforço e dinheiro para contribuir para um mundo melhor. Nada mais justo que os ajudar com o nosso apoio e que sintam que valeu a pena brigar por todos nós.
Vamos deixar que uma nova “COPwashing” aconteça?
É o que vai acontecer mais uma vez, se não fizermos diferente das COPs anteriores.
O papel aceita tudo e o filme já conhecemos, dessa vez com cenários diferentes, mais atores, mais discussões, mais marketing, mais glamour, mais floresta.
Minha inquietude e provocação é sobre quem ou que instituições sejam públicas ou privadas vão dar conta de monitorar , avaliar e tornar público tudo o que será acordado na COP 30.
A meu ver, acordos sem seguimento ou cobrança farão que tenhamos sim uma COPwashing. Finalizo esperando estar errado ou apenas dosando mal minhas expectativas e frustrações.