A estreia da MBRF na Bolsa não foi das melhores, mesmo em um dia de alta para o mercado nacional, que viu o Ibovespa atingir sua máxima histórica. Na apresentação da nova companhia aos investidores brasileiros, a ação MBRF3, que dá sequência à trajetória das ações da Marfrig, recuou 6,72%, cotada a R$ 19,70 no fim do dia.

Ao mesmo tempo em que os investidores digerem as informações e projeções do mercado para a nova companhia, a nova empresa deu detalhes da liderança, que agrega nomes tanto da BRF quanto da Marfrig.

O cargo de CEO da MBRF fica com Miguel Gularte. Considerado pelo mercado como um braço direito de Marcos Molina, controlador e presidente do conselho da MBRF, Gularte era CEO da BRF desde agosto de 2022, após ter comandado a Marfrig por quatro anos. Rui Mendonça Júnior, que era CEO da Marfrig, passa a ser consultor das duas empresas.

Abaixo de Gularte, o corpo executivo conta com oito vice-presidências. O cargo de vice-presidente de finanças, relações com investidores, gestão e tecnologia será assumido por José Ignacio Scoseria Rey, que era diretor de tesouraria da Marfrig.

Na Marfrig, o cargo de CFO era ocupado por Tang David, que agora ocupará um assento no conselho de adminsitração da nova empresa. Já o CFO da BRF, Fábio Mariano, ocupará a vice-presidência para o mercado Halal.

Ademais, Manoel Martins será responsável pela vice-presidência de Mercado Brasil e Marketing. Leonardo Dall’Orto continua como VP para o mercado internacional e supply chain, e agora assume também os negócios no Chile.

Alisson Navarro assume a Vice-Presidência de Bovinos, além dos negócios do Uruguai e da Argentina. Heraldo Geres ficará a cargo da Vice-presidente Jurídico, Tributário, Assuntos Corporativos e Gente. Artemio Listoni estará à frente da Vice-presidência de Operações Industriais e Logística. Fabio Stumpf permanece à frente da Vice-presidência de Agro e Qualidade.

Um relatório do Itaú BBA divulgado nesta terça-feira, 23 de setembro, avaliou a criação da MBRF com uma postura “positiva”, destacando que a combinação entre Marfrig e BRF traz complementaridade de ativos e abre espaço para ganhos de escala e diversificação no médio e longo prazo.

Segundo o banco, “as sinergias parecem significativas”, com destaque para iniciativas de cross-selling, logística e eficiência em despesas administrativas. Além disso, o relatório observou que a base acionária renovada traz novos elementos de governança e pode influenciar a liquidez do papel.

No curto prazo, porém, o documento pondera que o mercado pode reagir com cautela diante da complexidade da fusão e da necessidade de disciplina financeira. O analista Gustavo Troyano cita que a integração ainda “demanda execução no tempo certo e disciplina financeira”, e que a alavancagem será um ponto de atenção.

O Itaú BBA avalia que, embora a alavancagem deva começar em um patamar elevado (entre 3,0x e 3,5x), a expectativa é de queda gradual à medida que o ciclo do boi nos EUA normalize, o que reforça a necessidade de prudência na alocação de capital e foco na desalavancagem.

“A entrega inicial e visível deve ser um catalisador-chave para o caso de investimento”, afirma o relatório, que ainda não possui uma recomendação ou preço-alvo para a ação.

O Itaú BBA calcula uma dívida líquida em torno de R$ 37,6 bilhões, nível que considera administrável, mas que exigirá uma certa prudência na alocação de capital.

A nova empresa marca o capítulo final do sonho de Marcos Molina, fundador da Marfrig, que foi comprando participações na BRF aos poucos até se tornar controlador e agora chairman de um negócio que une as duas empresas.

Em um release enviado à imprensa, Molina destacou que a MBRF é uma empresa multiproteínas com escala global, que integra inovação, tecnologia, excelência e protagonismo na indústria alimentícia.

“Este é um marco histórico para nosso segmento e eu tenho um orgulho enorme da empresa que estamos construindo. A MBRF agrega um amplo conhecimento do mercado, eficiência operacional, marcas icônicas, respeito ao meio ambiente e uma base de clientes robusta. Estamos preparados para acelerar a nossa jornada de crescimento sustentável, gerando valor para clientes e acionistas, e correspondendo ao legado de confiança do mercado", afirmou.

A nova companhia nasce com faturamento acima de R$ 160 bilhões e presença em 117 países.

Resumo

  • Na estreia na B3, a ação MBRF3 caiu 6,72%, cotada a R$ 19,70, mesmo com alta do Ibovespa, refletindo cautela do mercado diante da complexidade da fusão
  • O corpo executivo da nova empresa MBRF reúne líderes de Marfrig e BRF, com Miguel Gularte como CEO e oito vice-presidências estratégicas
  • Itaú BBA vê complementaridade de ativos, sinergias significativas e oportunidades de cross-selling, mas alerta para alavancagem elevada e necessidade de disciplina financeira