Indústria a céu aberto? Ex-Reunidas Baumgart, David Panades quer fazer da expressão uma realidade

“Tenho 42 anos e vim da indústria. O que sempre gostei de fazer foi reestruturação de negócios, private equity, M&A, fiz a venda da Schincariol para a Kirin. Há dois anos e meio, cheguei à Reunidas para profissionalizar o negócio".

Foi com essa pequena apresentação que David Panades, ex-CFO da Fazendas Reunidas Baumgart, de Rio Verde (GO), inicou a conversa. É sua forma de mostrar que era considerado considerado um peixe fora d’água dentro do agronegócio há menos de três anos, mas trouxe sua expertise de fora do setor para transformá-lo de dentro.

“Tinha comigo todas as ferramentas possíveis de tecnologia em termos de gestão profissionalizar o negócio. Cheguei no setor e percebi o quão carente ele é em mão de obra qualificada, e vim com a intenção de implementar o que há de melhor possível no mercado para otimizar gastos, sistemas de meta e tecnologias que mitigam risco e geram produtividade”, continuou.

Agora, passado o primeiro teste de fogo no setor, Panades resolveu empreender e levar essa expertise para novos clientes através de sua própria empresa.

Batizada de Integro, a companhia recém criada por ele e seu sócio Alessandro Alberto vai oferecer essa solução baseada em um sistema MES.
Sogla para Manufacturing Execution System (ou sistema de execução de manufatura), trata-se de um software projetado para otimizar processos de produção, monitorando, rastreando, documentando e controlando todo ciclo produtivo de uma indústria.

“As fazendas são indústrias complexas e a céu aberto, com variáveis que não controlamos. Esse tipo de software coloca réguas de negócio junto com algoritmos acionáveis. É um sistema com informações, mas que toma decisões automatizadas num intervalo curto de tempo, que melhora a eficiência do negócio”, explicou.

“Consegui criar esse software industrial para fazendas e transformá-las em uma indústria de alta performance. Isso permite monitoramento e conexão de tecnologias novas, mitigando risco”, acrescentou Panades.

Desde sua chegada à Fazendas Reunidas Baumgart, comandada por Alexandre Baumgart - membro da família que já foi conhecida como “os reis da Zona Norte paulistana”, império que conta com a Vedacit e empreendimentos imobiliários como o Shopping Center Norte -, Panades encarou a missão de transformá-la em uma “fazenda do futuro”.

Com a introdução de uma frota de robôs Solix, da Solinftec, que otimizam o uso de defensivos, e tecnologias de “gêmeos digitais” que controlam balanços e silos e sistemas com softwares de gestão, a fazenda de 25 mil hectares - sendo 10 mil de agricultura, para a produção de sementes de soja e milho safrinha, 9 mil para pecuária de ciclo completo e o restante de área preservada - apresentou também um salto produtivo.

Na safra 2023/2024, a Reunidas alcançou produtividade média de 78 sacas por hectare, superando a média regional de 50 sacas mesmo diante de condições adversas de chuva. Na temporada 2024/2025, a expectativa era uma produtividade levemente maior, de 80 sacas por hectare na média. Dentro desse universo, alguns talhões em que robôs da Solinftec trabalharam, a produtividade veio 10 sacas maior.

Mesmo criada há poucos meses, a Integro já conta com alguns clientes, incluindo a própria Reunidas Baumgart, mas o executivo também cita que já fechou contratos com o Grupo GRM, Mate Leão e Nestlé e tem negociações avançadas com outros nomes de peso na região.

David Panades cita que existem no momento “10 clientes grandes no pipeline” e que a meta é encerrar 2025 com uma carteira de 20 clientes, que devem somar algo próximo a 300 mil hectares.

Enquanto atuava na Reunidas, o executivo vivia entre idas e vindas à Rio Verde. Agora, se mudou oficialmente para a cidade, conhecida por ser a segunda maior em produção de soja do País.

“Trouxe minha família para a cidade porque aqui é uma das capitais do agronegócio, onde temos uma produtividade alta e acesso à tecnologias diversas. Precisava de um ambiente desse”, disse.

A Integro pretende atender todos os tipos de produtores, do pequeno ao grande, mas tudo depende de um mínimo de estrutura para receber o software.

Panades afirmou que tem uma forma de trabalhar “hiper focada” e, por conta disso, foi executando as melhorias na Reunidas e não olhou o mercado. Num primeiro olhar fora da propriedade dos Baumgart, percebeu que conseguiria adaptar a solução de forma modular a outras propriedades e culturas.

Ele calcula que a implementação do software em todas as tecnologias da fazenda demora de dois a três meses, a depender do nível de tecnificação do cliente. Ele cita, por exemplo, que uma propriedade que possui antenas 4G já elimina alguns passos, enquanto outros precisam buscar soluções de conectividade satelitais ou via rádio, por exemplo.

“É um grande cardápio de soluções tecnológicas. O software é único, adaptável a cada negócio com essas condições similares, fazendo como se cada fazenda fosse essa mesma fábrica”, finalizou David Panades.