Há quase um ano na praça, o Fiagro da Suno Asset focado no mercado de terras (Suno Fazendas, negociado pelo ticker SNFZ11) voltou a se movimentar, mostrando apetite para aumentar seu portfólio.

A gestora anunciou nesta quarta-feira, dia 9 de julho, a aquisição de duas fazendas localizadas no município de Canarana, no nordeste do Mato Grosso, em meio ao Vale do Araguaia.

Tratam-se das fazendas Triângulo da Gaúcha, com uma área de 345 hectares e adquirida por R$ 18,2 milhões, e da Fazenda Xavante, com área de 471 hectares e comprada por R$ 33,4 milhões. A Suno fez a compra de forma parcelada e pagará as novas áreas em 10 anos.

Adaptando a compra aos termos comuns ao agro, a primeira fazenda foi adquirida por 191,7 mil sacas de soja e a segunda por 351,8 mil sacas. A Suno considerou a cotação da saca no primeiro dia de julho de 2025 negociada na praça de Canarana.

Com as novas áreas, o SNFZ11 salta de um para três ativos no portfólio, totalizando cerca de 1,2 mil hectares agricultáveis. Antes das aquisições, o Fiagro era dono apenas da Fazenda Coliseu, localizada em Gaúcha do Norte, também no estado.

As três propriedades estão voltadas para a produção de grãos, especialmente soja. O modelo de operação segue o mesmo utilizado com a Coliseu: a Suno compra a terra e arrenda para a Jequitibá Agro, que atua como operador.

Com isso, capta a renda mensal do “aluguel” enquanto aposta na valorização da terra no longo prazo.

Segundo explicou Vitor Duarte, CIO da gestora, o contrato com a Jequitibá garante que a Suno receba um quarto das sacas colhidas por safra, num esquema que garante, no caso da Coliseu, um mínimo de 15 sacas de soja por hectare.

Daí entra outra estratégia da Suno em seu Fiagro: investir na melhoria dessas terras compradas.

“Faremos na Triângulo e na Xavante o mesmo que fizemos na Coliseu. Na época em que compramos a primeira, faltava estrada asfaltada e a energia não suportava um sistema de irrigação”, disse ele ao AgFeed.

“Conseguimos fazer com que a operadora de energia se comprometa a levar energia para lá e conseguimos a outorga para a irrigação, que já está sendo instalada. Isso aumenta a chance de aumentar a produtividade de 60 sacas para 80, e como recebemos 25% disso, podemos aumentar nossa arrecadação”, resumiu.

A ideia é fazer o mesmo com as duas novas fazendas: melhorar infraestrutura e instalar pivôs de irrigação. Nessa safra 2024/2025, ainda sem a irrigação mas só com as melhorias infraestruturais, a colheita da Fazenda Coliseu já rendeu 17 sacas de soja por hectare para a Suno, duas acima do mínimo estabelecido.

Duarte considera que a Suno fez um bom negócio ao avaliar os termos do acordo. O preço por hectare, que na fazenda Triângulo da Gaúcha chega a 550 sacas por hectare, até foi maior do que na Coliseu, mas com a diferença de um prazo de 10 anos para pagar.

“Em Sorriso, as terras são negociadas de 1 mil a 1,2 mil sacas de soja (por hectare)”, exemplifica.

Na prática, mesmo considerando que a região de Gaúcha do Norte ainda tem gargalos logísticos, o fundo pagou menos da metade do valor por hectare em relação a áreas mais maduras do estado.

Isso reforça a tese central da Suno: comprar terras em regiões com potencial de valorização estrutural, problema que a gestora ressalta que vem melhorando com a chegada da BR-242 e da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO).

E como a Suno achou essa oportunidade? Duarte conta que foi um trabalho feito em conjunto com a Jequitibá, que identificou um proprietário com sérios problemas de liquidez. Pelo acordo entre as duas empresas, a Jequitibá comprou as fazendas e as revendeu para a Suno.

O modelo de pagamento ainda é vantajoso, segundo Duarte, porque a Suno já começa a receber o arrendamento enquanto paga aos poucos ano após ano.

Além dos ativos de terra, o Fiagro também detém um CRA de cerca de R$ 30 milhões, cuja emissão teve como objetivo financiar a Jequitibá, operadora das fazendas do fundo.

O recurso é usado pela operadora para implementar as melhorias nas fazendas ao mesmo tempo em que gera um rendimento de CDI + 4% ao ano para a Suno.

Na prática, a gestora empresta dinheiro à Jequitibá, recebendo uma remuneração fixa, e usa esse fluxo para bancar as parcelas das fazendas compradas.

Considerando o valor de R$ 30 milhões do CRA, que pode ser vendido em algum momento se a Suno precisar de liquidez, a Suno já tem fôlego para pagar pelo menos seis parcelas, ou seis anos, da compra das novas fazendas.

“A gente tem como pagar tranquilamente as seis primeiras parcelas com o que temos no CRA. E se precisar, no sétimo ano, podemos vender um ativo como a Coliseu, que deve estar ainda mais valorizada, ou fazer uma nova oferta de cotas”, diz Duarte.

O CIO da Suno Asset ainda acrescenta que essa compra dupla ajuda a resolver dois entraves comerciais que o fundo enfrenta desde seu lançamento no ano passado: o fato de ser monoativo, ou seja, só contava com a Fazenda Coliseu em seu portfólio, e uma remuneração mensal de dividendos considerada abaixo do desejado pelos investidores.

Até agora, o SNFZ11 pagava, por mês, R$ 0,06 por cota em dividendos, algo próximo a 8% ao ano, abaixo do patamar do CDI. Duarte evitou projetar quanto esse dividend yield pode atingir, mas acredita que vai atingir “patamares compatíveis com produtos de investimento de maior rentabilidade”.

Atualmente, o SNFZ11 tem cerca de 3,6 mil cotistas e patrimônio líquido de R$ 61 milhões, que leva em conta a Fazenda Coliseu e o CRA da Jequitibá.

Como a compra foi parcelada, as novas fazendas já entram na conta do fundo, mas como ainda há o compromisso de pagamento, o valor total do patrimônio líquido não muda por enquanto. Esse valor só vai crescer ao longo do tempo, à medida que o fundo for quitando as parcelas e, de fato, incorporando os ativos de forma definitiva.

Resumo

  • Suno Asset compra duas fazendas no MT por R$ 51,6 milhões, com pagamento parcelado em 10 anos e início imediato do recebimento de arrendamento.
  • Portfólio do SNFZ11 salta para três propriedades e 1,2 mil hectares, dobrando a capacidade de geração de receita mensal do fundo.