Carlos Nogueira Filho, CEO da fabricante de máquinas e equipamentos agrícolas Incomagri, é, por exigência do ofício, assíduo frequentador de feiras agrícolas em todo o País e mesmo fora dele. Mas certamente vai guardar uma lembrança especial da última edição da Bahia Farm Show, realizada no começo de junho em Luís Eduardo Magalhães (LEM), no oeste baiano.
É possível que, em uma futura linha do tempo, o evento esteja marcado como aquele em que a companhia, fundada há 22 anos por seu pai, subiu um patamar na lista das principais indústrias do segmento. Isso por conta de uma estrutura com 42 metros de largura e capacidade de transportar 180 mil litros de defensivos agrícolas.
“É o maior pulverizador já construído no Brasil e um dos maiores do mundo”, diz ele sobre o Overlander 18.000, desenvolvido pela companhia para equipar a “máquina monstro” da alemã Nexat, lançada comercialmente no País durante a feira baiana.
As dimensões e o sistema revolucionário da Nexat, que acopla módulos específicos para cada etapa do cultivo, ganharam a atenção do mundo em 2022, com vídeos da máquina em operação viralizando nas redes.
Desde o ano passado, duas delas vinham sendo testadas, em condições reais de trabalho, em uma fazenda do grupo Agro Basso, também em LEM. E já com os implementos dos parceiros brasileiros da marca em ação.
Assim, a Bahia Farm Show foi também o momento da confirmação oficial da Incomagri como a fornecedora do módulo de pulverização que vai equipar o sistema “tudo em um” no Brasil – e também dos outros parceiros, como Baldan e J. Assy (módulo de plantio), Amazone (adubação), GTS e MacDon (colheita).
“Para a Incomagri é uma grande vitrine”, afirma Nogueira. “Alguns segmentos e produtores que não tinham tanta familiaridade com a empresa acabam conhecendo melhor nossa filosofia de trabalho”.
“Temos a visão de estar entre as empresas com maior capacidade de inovação tecnológica no segmento de máquinas e implementos agrícolas e eu vejo que isso mostra o quanto nós estamos trabalhando forte em eletrônica embarcada”, completa.
A Incomagri está longe de ser uma desconhecida no setor de máquinas agrícolas. Ao longo de pouco mais de duas décadas, ela se diferenciou no segmento por ter escolhido um camonho diferente de crescimento, apostando em verticalização e diversificação.
Com equipamentos tanto para a pecuária quanto para a agricultura, a companhia faz de tanques para caminhões pipa, trituradores de milho e misturadores de ração a distribuidores de adubo e pulverizadores autopropelidos de alta tecnologia para pulverização de precisão.
Sediada em Itapira, no interior paulista, logo nos primeiros anos a Incomagri apostou na estratégia de não colocar todos os ovos na mesma cesta. A família Nogueira já atuava no setor de máquinas desde os anos 1950, mas três décadas depois, o pai e os tios do atual CEO criaram uma empresa e logo fizeram a primeira aquisição, uma fabricante gaúcha de distribuidores de fertilizantes e de ordenhadeiras.
Pouco depois veio a segunda, com uma indústria paulista de misturadores de ração e de tanques distribuidores de esterco líquido.
“A estrutura foi crescendo, novos galpões foram sendo construídos e, desde o princípio, o negócio foi bastante verticalizado”, diz Carlos Nogueira Filho. “A gente procura produzir dentro de casa a maior parte dos componentes que agregam nas nossas máquinas”.
Assim, a Incomagri domina processos de corte, dobra, solda, pintura, montagem, e mais recentemente, de rotomoldagem, que é a moldagem do plástico em uma espécie de forno. “A grande maioria dos fabricantes terceiriza, mas nós temos interno”, afirma o CEO.
Os últimos anos, entretanto, trouxeram um novo desafio para essa cultura: a incorporação da tecnologia eletrônica, com a introdução de sensores nos equipamentos.
A Incomagri, que já tinha tradição em equipamentos para pulverização, fez, então, sua maior aposta. Em 2022, lançou a primeira versão do Overlander, sua primeira máquina autopropelida.
“Foi um grande movimento na nossa área da engenharia para colocar em pé esse projeto. Trabalhamos cinco anos para poder disponibilizar para o mercado, testamos safra e safrinha por dois anos até a máquina estar apta para o mercado”, conta Nogueira.
“A partir daí, seguidamente, a gente vem emplacando lançamentos com alta tecnologia embarcada”. O primeiro Overlander tinha tanque com capacidade para 2.000 litros de defensivos. No ano seguinte, a capacidade foi aumentada para 2.700 litros.
Na Agrishow deste ano, o modelo Headshot trouxe, com a mesma capacidade, a tecnologia Weed-It, para pulverização localizada, com sensores que identificam a presença da planta daninha na lavoura e liberam os bicos pulverizadores apenas sobre ela.
Segundo Nogueira, o sistema é capaz de gerar economias de até 85% no volume de herbicidas aplicados, além de permitir que o equipamento trabalhe em diversos modos de aplicação obtendo, em todos eles, vantagens em relação a sistemas convencionais.
Outra frente em que a Incomagri está trabalhando é no desenvolvimento de uma máquina para plantio de mudas de eucalipto em parceria com a startup AutoAgroMachines.
“Hoje existem máquinas disponíveis no mercado, mas com um valor muito alto de aquisição, importadas”, diz. “Estamos buscando uma solução nacional que entregue valor no campo com bastante autonomia, bastante eficiência”.
O grande desafio, segundo ele, é fazer o plantio com qualidade, algo que tem sido uma demanda dos grandes players do setor de papel e celulose. “Eles estão em uma curva de aprendizagem com a mecanização, com muitas operações manuais, o que nos coloca esse desafio de transformar o setor”.
O desafio Nexat
A maior oportunidade para fazer o grupo mudar de patamar e ganhar mais visibilidade no concorrido mercado das máquinas agrícolas surgiu a partir de vídeos postados nas redes sociais há cerda de dois anos.
Neles, Nogueira conheceu o sistema inovador da Nexat, que chamava atenção pelo gigantismo e pelo projeto de tráfego dentro das lavouras, com maior amplitude entre os eixos para reduzir o impacto das rodas sobre o soli.
Depois, foi conferir in loco a novidade na Agritechnica, uma das maiores feiras do setor no mundo, realizada a cada dois anos na Alemanha.
“Por surpresa, eles vieram até a Agrishow em 2023, fizeram uma pesquisa com os fabricantes que tinham potencial de inovação e capacidade tecnológica”, conta.
O conceito da Nexat é trabalhar com parceiros locais, que desenvolvam os implementos com tecnologia adaptada às necessidades de cada mercado e possm, depois, oferecer assistência técnica mais próxima aos clientes.
“Nós estamos no Brasil, nossas peças estão no Brasil e eles entendem que essa nacionalização dos parceiros é muito importante, gera mais confiança para o consumidor”, diz.
“Foi um projeto muito rápido. Eles nos procuraram e nós não hesitamos em topar a ideia de, junto com eles, construir o maior pulverizador do Brasil e agregar alguns diferenciais para que essa tecnologia traga resultado no campo”, diz.
Mais uma vez a área de engenharia da Incomagri foi posta a prova. As dimensões (“assustadoras”, segundo Nogueira) do projeto, que exigia dois tanques de aço inoxidável de 9 mil litros e uma barra de 42 metros de extensão, exigiram uma nova abordagem técnica no desenvolvimento.
Porém, segundo ele, essa não foi a maior complexidade enfrentada por sua equipe. Para o CEO da Incomagri, a grande dificuldade foi aprender a trabalhar em parceria com os alemães em uma rotina de grande troca de informações.
“A distência tem sido o maior desafio, por essa situação de nossa máquina nascer desagregada do sistema deles, depois ter que fazer essa união e tudo tem que funcionar muito bem”, explica Nogueira.
A Nexat usa o protocolo de comunicação Isobus para que sua máquina receba informações dos diferentes módulos acoplados e esse foi outro aprendizado hoje incorporado ao conhecimento da equipe da Incomagri.
Segundo Nogueira, o Overlander 18.000 é hoje uma máquina preparada para embarcar qualquer tipo de tecnologia, inclusive os sensores Weed-It. E, depois de vencida a prova de desenvolvimento da barra de 42 metros, a empresa já trabalha em outra mais longa, que deve chegar a 70 metros.
Legado no mercado
Assim, a Incomagri já carrega um legado técnico dessa experiência. E espera colher também um legado de mercado. A comercialização dos implementos para a máquina monstro é feita pela própria Nexat, que tem a expectativa de vender de dois a três equipamentos este ano.
Mas, mais importante que isso, é a percepção dos clientes de que a companhia está capacitada para produzir máquinas de alta tecnologia.
Nogueira voltou da Bahia Farm Show entusiasmado, também por que os negócios, depois de um ano estacionados, voltaram a acelerar em 2025. No primeiro trimestre, a companhia registrou, crescimentos “de 30% a 40% todo mês”.
Segundo ele, o período entre maio e outubro costuma ser o mais decisivo para o desempenho do setor e ele mantinha o otimismo ao ver que várias cadeias produtivas, como a de café e da pecuária, estão em um bom momento.
A empresa já atua também no mercado externo, sobretudo em países da América do Sul e da África, mas as vendas externas ainda representam, em média, cerca de 5% do faturamento.
Atualmente, as receitas da empresa, cujo valor total ele não revela, estão divididas em 40% vindas da agricultura e 60% dos produtos para a pecuária. Mas a tendência, avalia, é de inversão, em função do crescimento mais recente sobretudo dos negócios na área de pulverização.
“A agricultura será nosso grande negócio dentro de uns três anos, com as tecnologias embarcadas de pulverização sendo cada vez mais relevantes”, prevê. “Vamos dar um salto da casa das dezenas para as centenas de milhões de reais”.
Resumo
- Paulista Incomagri desenvolveu maior pulverizador de defensivos do Brasil e será fornecedora oficial da alemã Nexat no País
- Com lançamento, empresa familiar espera ter mais visibilidade entre os principais players do setor de máquinas agrícolas de alta tecnologia
- Companhia criada há 22 anos fabrica implementos para uso na pecuária e na agricultura e registrou crescimento entre 30% e 40% no primeiro trimestre