Mesmo com o cessar-fogo anunciado pelo presidente Donald Trump, a escalada no conflito entre Irã e Israel - e, desde o final de semana, com a participação dos Estados Unidos - teria impacto limitado para o comércio do agronegócio brasileiro.

Mas o fato de países da região serem destinos importantes para as exportações mantém governo e setor privado em alerta se houver acirramento ou retomada na disputa.

O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Luis Rua, afirmou ao AgFeed que o “ineditismo” do conflito envolvendo as três nações poderia trazer efeitos cujos impactos seriam difíceis de mensurar.

Segundo ele, a ameaça de fechamento pelo Irã do Estreito de Ormuz, aprovada pelo parlamento local, teria impacto relevante para as exportações brasileiras, principalmente de proteína animal, para Iraque, Bahrein, Kuwait e Omã.

“Ali é o principal canal para acessar o golfo de Omã e chegar aos países, mas já vimos, ao longo da história recente, que, quando há dificuldades, a navegação encontra caminhos”, afirmou o secretário.

Rua também cita a importância do próprio Irã como grande fornecedor de ureia, matéria-prima para fertilizantes, apesar da pouca dependência que o Brasil tem daquela nação.

“O Irã responde pelo fornecimento de 9% da uréia do mundo, mas o Brasil importa pouco de lá e não teria tanta dificuldade de oferta, porque pode buscar na Nigéria e na Rússia. O que preocupa são os preços internacionais se houver uma interrupção nas exportações iranianas”.

Outro temor, além dos preços da logística e fertilizantes, segundo o secretário, seria a escalada nos preços do petróleo, já que plásticos e diesel são insumos fundamentais para a agricultura.

Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), até brinca quando fala sobre o conflito em uma região importante para o setor logo após a crise dos primeiros casos de influenza aviária no Brasil

“Não tenho tido muita folga e entre as pastas de e-mail tem uma que se chama ‘crise’”, afirmou na noite desta segunda-feira, logo após Trump anunciar o cessar-fogo.

Segundo ele, sem o arrefecimento na crise local o setor teria dificuldades de exportar, diretamente, 28 mil toneladas por mês para Iraque, Bahrein e Kuwait, mas encontraria saídas. Enfrentaria problemas também na Arábia Saudita e Emirados Árabes, dois mercados mais importantes, também com alternativas.

“Estamos esperando que o anúncio de Trump, de fato, se efetive porque guerra não é boa para ninguém. Exportamos mais de 400 mil toneladas por mês, esse impacto não é algo que mexe na rentabilidade, mas geraria alternativas custosas”, disse Santin

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) informou que a equipe técnica da entidade que reúne as empresas de proteína animal bovina avalia os possíveis impactos de conflitos na região para as vendas externas e que só deveria se pronunciar quando houver algum material a respeito.

As exportações de carne, açúcar e milho seriam as mais ameaçadas com a escalada do conflito e um possível fechamento do estreito de acesso ao Golfo de Omã, para Frederico Favacho, sócio do Santos Neto Advogados e especialista em contratos internacionais de agronegócio.

“O Oriente Médio é a região que mais cresce dentro das exportações do agronegócio, é um importante mercado brasileiro, com até 7% do total, e para as proteínas animais, como a carne halal para os muculmanos, por exemplo”, afirmou.

Assim como o secretário Luis Rua, Favacho cita o aumento de custo de produção como outro fator negativo para o agronegócio com uma escalada do conflito, “que mexeria em petróleo, diesel, fertilizantes e gera trajetos mais longos e mais caros”.

Outro ponto relevante, segundo o sócio do Santos Neto Advogados, seriam as decisões políticas e diplomáticas do Brasil, com impactos no comércio, de não entrar em conflitos, pregar o diálogo, ou manter até mesmo de condenar Israel e ser mais favorável a países árabes.

“O Brasil adota política neutra e favorável a acordos, ganha sempre mercados e olha conflitos até para definir as políticas comerciais”, concluiu.

Resumo

  • Países da região são destinos importantes para produtos como milho e carnes bovina e de frangos, mas governo avalia que impacto da guerra seria relevante para exportações
  • Para ABPA, com a continuação do conflito indústria brasileira de frangos teria dificuldades para exportar 28 mil toneladas mensais
  • Mercado do Oriente Médio é o que mais cresce e já representa 7% das exportagões do agronegócio