Ribeirão Preto - O idioma falado é outro naquele canto quase escondido da Agrishow. Longe dos estandes das máquinas de grife e atrás da muralha formada pelas monumentais pistas de testes de veículos, está o Pavilion China. Ou China Pavilion, dependendo de qual banner você lê.
No galpão coberto, 57 expositores, boa parte da província de Shandong, vendem quase tudo para o agronegócio.
Lá tem estande de máquina para descascar alho, de plásticos para fardo para algodão, de discos e rolamentos, de filtros de óleo, de processadoras de madeira e de bolsas para armazenagem.
Tem também espaço para tratores (reais) de jardinagem e até para tratores virtuais.
Virtuais, no caso, porque o visitante só conhece o veículo de fato por meio de fotos nas paredes, ou em um catálogo. Ou mesmo por um vídeo mostrado por um despachante, um dos poucos brasileiros presentes no Pavilion China.
O espaço reservado para a Tavol é pequeno para expor os modelos da companhia com 20 anos e 2 mil veículos produzidos por ano na unidade em Tai’an, no leste chinês. Mas Jia Luhua, diretor da montadora e um dos poucos que falam inglês no pavilhão, estava otimista.
“A gente teve boas conversas com possíveis clientes e esperamos que se transformem em mais vendas e que, nos próximos anos, tenhamos um local maior”, disse Luhua.
A empresa está no segundo ano de Agrishow e já vendeu uma unidade de seu maior modelo, um trator de 280 cavalos de potência, para um produtor de Mato Grosso, segundo seus representantes, que mostram um vídeo na tela de um celular com a unidade em operação na lavoura.
O preço está em torno de R$ 370 mil, mas o valor varia de acordo com o dólar, como explicou José Marcelo Sguarezi, da Chanceler, empresa que atuou na importação do veículo.
Além de mais negócios, para 2026 Luhua espera trocar o pequeno estande por um na parte de fora do pavilhão, onde poderá expor seus veículos.
O fato de ter pouca visibilidade na maior feira do agronegócio da América Latina incomoda alguns expositores do Pavilion China.
É o caso da Handan Baisite Plastics, especializada em bolsas para armazenagem de grãos, já com alguns clientes brasileiros produtores de soja, milho e café e também “veterana” de dois anos de Agrishow.
Apesar de terem feitos alguns contatos na feira, a reclamação dos expositores presentes, segundo um tradutor de origem taiwanesa ouvido pelo AgFeed, era que o lugar não seria ideal para a exposição dos produtos.
A mesma reclamação vem de duas executivas da Kesen Machinery. Os clientes brasileiros da empresa especializada em máquinas para processamento de madeira em Zibo, também na província de Shandong, estão apenas em fotos de um catálogo distribuído pela companhia.
No estande, uma das máquinas da Kesen divide a atenção com a quantidade de garrafas de guaraná, um varal com bandeirinhas alternadas de Brasil e China e uma promotora de vendas da companhia com sua vestimenta tradicional.
Com 22 anos de mercado e 10 mil clientes em 61 países, a Kesen parecia ter como desafio naquele momento conquistar ou prospectar sua primeira venda na Agrishow deste ano. “Aqui é muito afastado e não tem muita atenção do público”, disse Han Lin, executiva da empresa
Desafio também enfrentou o staff da ZJEIC. A empresa especializada em drones agrícolas e para construção sofreu para colocar um dos seus modelos no pequeno estande disponível na feira.
Ao contrário das dezenas de concorrentes que mostram seus modelos em operação em estandres espalhados pela Agrishow, o drone chinês é só para exposição estática.
“Temos muitos clientes em potencial e esperamos mais para o futuro no Brasil”, afirmou Cai Yun, vendedor da ZJEIC, companhia de 16 anos e que diz ter exportado para 30 países mais de 16 mil drones da linha com 60 produtos.
Mas desafio mesmo é se comunicar com os dois representantes da Shandong Maria Agricultural Machinery. No estande da empresa de máquinas colhedoras e processadoras de alho de Quingdao, os negociantes só se comunicam em mandarim.
Para mais informações, entregam um catálogo onde o possível cliente é informado que a empresa na região considerada a “capital do alho da China”, oferece 12 séries de 156 produtos que já operam em 450 mil hectares de 30 países, incluindo o Brasil.
No final da visita, perto do horário do encerramento das atividades, alguns estandes já estavam fechados, em outros vizinhos batiam um papo animado e, em outro, um representante parecia dormir sobre a mesa, ao lado de outro concentrado na leitura de um livro.
Retrato da persistência para vender produtos mais simples, em um pavilhão quase invisível na feira que é considerada uma das vitrines do agronegócio mundial.