Com mais de 120 anos de atuação no mercado de petróleo, a multinacional Gulf está presente em mais de 100 países e já foi considerada uma das “sete irmãs”, termo atribuído no passado às maiores companhias do setor do mundo – e, com isso, garantiu seu lugar nos livros de história.

Agora, a empresa começa a escrever novas páginas de sua trajetória no Brasil. E o seu novo foco está nas lavouras brasileiras, como uma nova concorrente, com grandes ambições, no setor de insumos agrícolas.

A história da Gulf, no Brasil e no mundo, tem diferentes fases. Por aqui, teve um período em que sua marca foi mais visível aos consumidores comuns. Como suas conterrâneas Texaco e Exxon (no Brasil conhecida pela marca Esso), chegou inclusive a controlar uma das maiores redes de postos de combustível do País até o fim da década de 1950.

Então, sua operação foi comprada pela companhia gaúcha Ipiranga, do Grupo Ultra, que ganharia tração em todo o país a partir dessa aquisição.

A Gulf só voltou a ter uma presença mais forte no país há dois anos, colocando de pé operações de postos de combustíveis, lubrificantes e um negócio menos óbvio, mas não menos importante: a fabricação de defensivos e adjuvantes derivados de óleos minerais para o agronegócio.

“Os investidores se atentaram à força do agronegócio brasileiro, à representatividade da América Latina, às possibilidades que também trazem os combustíveis renováveis, com o advento do biodiesel, do etanol, e do etanol de milho. Por isso tudo faz sentido estarmos com mais força no país”, afirma Paulo Campanhola, head de agronegócio da Gulf no Brasil, ao AgFeed.

A operação brasileira da Gulf responde à Gulf Oil International, com sede em Londres e que pertence ao conglomerado indiano Grupo Hinduja, que adquiriu a divisão internacional da Gulf em 1984 – nos Estados Unidos, país onde a empresa nasceu, a marca se fundiu com a Chevron na mesma época e depois foi revendida à outras companhias.

A família Hinduja é tida hoje como a mais rica do Reino Unido e uma das mais ricas da Índia, com um patrimônio estimado em US$ 22 bilhões, segundo a revista Forbes.

Além disso, o conglomerado controlado pelo clã vai muito além da Gulf, com negócios que incluem bancos, hospitais e empresas nas áreas automotiva, de mídia, telecomunicações e energia.

Embora a operação brasileira e internacional da companhia não divulgue dados de faturamento, os números da subsidiária indiana, que é listada na bolsa de valores NSE, ajudam a dimensionar o poderio do grupo.

Na Índia, segundo os dados mais recentes disponibilizados pela companhia, o faturamento da empresa no ano fiscal de 2023, encerrado em março de 2024, foi de 32,84 bilhões de rúpias indianas – o equivalente a R$ 2,2 bilhões no câmbio atual.

No Brasil, a empresa já opera há décadas, mas o começo de sua nova fase no país se deu a partir de 2023, quando adquiriu uma planta localizada num terreno de 75 mil metros quadrados em Iperó, cidade do interior paulista e que pertencia à Energis 8, do segmento agroquímico.

“É uma das maiores fábricas de lubrificantes do interior de São Paulo”, garante Campanhola, que já atuava na operação da Energis 8 e continuou na Gulf após a troca de comando da unidade.

Além da fabricação de lubrificantes e produtos voltados ao agronegócio, a Gulf firmou, também em 2023, uma parceria com a distribuidora Fit Combustíveis, que passou a ter representação exclusiva da marca em postos de combustíveis no país.

O acordo previa investimentos de mais de R$ 700 milhões e a abertura de 200 unidades com a marca Gulf já no primeiro ano da parceria, com foco principalmente no eixo Rio-São Paulo.

A presença da Gulf no agronegócio brasileiro não é exatamente nova, mas, até então, sua atuação era mais restrita.

No passado, a empresa inclusive chegou a ter uma fábrica de lubrificantes na cidade de Ribeirão Pires, na Grande São Paulo, e também produziu seus produtos com uma fábrica terceirizada em Bauru, no interior paulista. Essas iniciativas, no entanto, não foram adiante.

A empresa passou os últimos 20 anos comercializando apenas um produto no país, o defensivo Argenfrut RV, que é utilizado para o controle de ácaros, pulgões, moscas e fungos, utilizado no cultivo de frutas, café e na silvicultura.

O produto, no entanto, não era fabricado no Brasil, mas sim importado da Argentina, onde a companhia tem uma fábrica em Buenos Aires, e era comercializado entre os produtores rurais brasileiros por um distribuidor de insumos agrícolas.

Agora, a Gulf está produzindo o Argenfrut nacionalmente e também somou outros dois outros produtos ao seu portfólio no país: os adjuvantes Agefix E8 e Oma, marcas adquiridas da Energis 8 junto com a planta de Iperó, englobando os produtos dentro de uma linha chamada Gulf Agro.

O Agefix E8 ajuda na eficácia dos defensivos agrícolas e é utilizado em culturas diversas como citros, banana, soja, milho e algodão. Já o Oma é utilizado principalmente no cultivo de bananas, para a potencialização dos fungicidas.

Com os três produtos sendo fabricados na planta de Iperó, a companhia planeja chegar a uma produção de mais de 20 milhões de litros em março de 2026 – quando se encerra o ano fiscal de 2025 da companhia.

Trata-se de um salto em relação ao ano passado, quando a Gulf terminou produzindo 13 milhões de litros, mas ainda bastante abaixo do potencial que a planta tem, de fabricação de cerca de 65 milhões de litros de produtos por ano.

“A Gulf está potencializando essa fábrica para crescer a sua capacidade de produção e não descarto a possibilidade de crescer até mesmo em imóveis ou armazéns adicionais”, adianta Campanhola.

A companhia pretende ampliar o portfólio de produtos em algum momento, mas ainda não tem um plano definido para tornar isso realidade.

“É um projeto que ainda caminha por pesquisa e desenvolvimento e não temos uma meta para começar a rodar. Mas a Gulf sempre inova e sempre foi uma empresa pioneira no mercado de lubrificantes. Não vai ser diferente no mercado de spray óleos”, afirma Campanhola.

Os produtos da Gulf são comercializados tanto via distribuidores, como também no modelo de venda direta a empresas e cooperativas, segundo Campanhola, que conversou com a reportagem do AgFeed entre uma viagem e outra pelo interior do Brasil.

“É a minha rotina. Ora estou em Iperó, ora em São Paulo, ora nos polos agrícolas do Brasil”, diz o executivo, que esteve no Mato Grosso do Sul, onde na semana passada participou de diferentes compromissos e voltou animado com as perspectivas de negócio.

No estado, ele teve encontros com representantes da Coamo, a maior cooperativa agrícola do Brasil, que possui uma base em Dourados.

A Coamo ainda não comercializa os produtos da Gulf e está fazendo testes de qualidade e eficiência agronômica para poder comercializá-los junto a seus mais de 29,4 mil cooperados.

Outras cooperativas de grande porte já compram produtos da Gulf, segundo Campanhola. É o caso da Lar e C.Vale, do Paraná, e da Cooxupé, de Minas Gerais.

Além da Coamo, Campanhola também fez uma reunião com executivos da Amaggi, já cliente da companhia e que, segundo o executivo, está às vésperas de renovar mais um contrato com a Gulf. “Eles são exigentes e escolhem a dedo seus fornecedores”, conta o executivo.

A Gulf já atende também a diversas empresas de grande porte, entre elas a trading LDC, a Cutrale, referência no setor de citros, o Grupo Branco Peres, com atuação em citros, pecuária e cana-de-açúcar, a Agroterenas, que opera com cana, grãos e citros, e a Eldorado Brasil, de celulose.

Como se pode perceber pela diversidade de empresas, os produtos da Gulf são utilizados em várias culturas: soja, milho, citros, silvicultura, cana-de-açúcar, café algodão e fruticultura.

Os maiores mercados da empresa no país são as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, mas a Gulf já chega a todo o território nacional e também ao Paraguai, atendendo clientes de grãos do país vizinho.

“A ideia da Gulf é expandir em territórios. Nós temos gerências hoje no Panamá, que vêm atuando para que a gente possa atuar em outros países dentro da América Latina, caso da América Central, por exemplo, com bananas e frutas de modo geral, já que lá é uma região grande produtora”, afirma Campanhola.

Campanhola não esconde o entusiasmo ao falar da empresa. Membro da terceira geração de uma família de pecuaristas e engenheiros agrônomos, o executivo trabalha há quase duas décadas no mercado e está empolgado com o desafio de colocar os produtos da Gulf de pé no Brasil.

“O negócio da Gulf está muito grande no Brasil e está sendo muito motivador trabalhar na empresa”.