O Grupo Safras já tem um rascunho do seu plano de recuperação judicial. São linhas de ação distintas nos três braços - armazéns, biocombustíveis e agroindústrias - para recolocar a companhia em pé e renegociar uma dívida de R$ 1,78 bilhão.
Antes, os gestores da empresa correm contra o tempo para incluir dezenas de documentos no pedido feito à 4ª Vara Cível de Sinop (MT) no dia 4 de abril e torcem para que a juíza Giovana Pasqual de Mello dê continuidade ao processo.
O tempo pode também ser aliado para a retomada das operações de armazenamento do Grupo Safras.
Segundo envolvidos no desenho do plano de recuperação ouvidos pelo AgFeed, “o item 1.1” será o retorno à captação de grãos nos 12 armazéns da companhia, cinco deles operados pelo conglomerado e sete arrendados.
A escalada da crise iniciada em 2023 zerou os estoques desses armazéns, principalmente por meio do arresto judicial de grãos. Na atual safra de soja, a companhia não recebeu a oleaginosa para não aumentar a dívida e, naturalmente, evitar novos confiscos por parte de credores.
Mas, se o tempo, nos dois sentidos da palavra, ajudar, a estrutura para receber até 713 mil toneladas de grãos estará aberta para a safrinha de milho, que pode chegar a 50 milhões de toneladas em Mato Grosso, sede da companhia.
Esses depósitos estão prontos para retomar a captação, têm um custo baixo mensal estimado em R$ 50 mil para manutenção. Com os armazéns operando, o Grupo Safras espera gerar caixa, principalmente na compra e venda de grãos, não só da armazenagem pura.
Mas, para reiniciar as operações, é preciso financiamento e confiança do produtor. Trazer novos financiadores fará parte do plano de recuperação judicial, de acordo com fontes da companhia, assim como a criação da figura do produtor-parceiro.
Nos moldes do que ocorreu na recuperação da AgroGalaxy, aprovada esta semana, o Grupo Safras pretende dar condições especiais para incentivar credores enquadrados na recuperação judicial. São eles os produtores que se comprometerem a seguir entregando grãos para a companhia durante a recuperação judicial.
Esse produtor terá algum tipo de benefício para receber o crédito antigo. Esse produtor-parceiro e os grandes produtores de milho credores do Grupo Safras também são os alvos para a usina de etanol de milho que a empresa possui em Sorriso (MT).
Os acionistas da companhia estão dispostos a se desfazer do ativo, mas a ideia é que um dos grandes credores assuma a unidade. A usina, com capacidade de até 120 mil litros por dia, operou até fevereiro deste ano, mas suspendeu as atividades por causa do alto preço do grão na entressafra.
Além de produtor de milho, o perfil ideal é que seja pecuarista, já que o DDG, subproduto da produção etanol utilizado na alimentação animal, tenha um destino direto. Fundos de investimentos ou credores financeiros devem ser descartados em um primeiro momento para a venda dos ativos da usina de etanol de milho.
Grande aposta
A maior aposta na geração de caixa durante a recuperação judicial é a agroindústria operada pelo Grupo Safras, em Cuiabá (MT). Atualmente, a empresa arrenda a unidade que pertence ao Estado, cuja posse é da Allos Participações.
A receita atual na unidade vem do processamento de soja para a Engelhart, trading do BTG Pactual em um contrato de prestação de serviços por dois anos. O Grupo Safras considera a Engelhart um parceiro estratégico, mas avalia que a operação para a trading não gera caixa suficiente para pagar as dívidas.
Por isso, estuda um novo modelo para gerar mais fluxo de caixa na unidade de Cuiabá e, assim, pagar os credores. Por fim, os créditos restantes terão o tratamento clássico de quaisquer recuperações judiciais: deságio e pagamentos parcelados.
No próximo dia 21 termina o prazo para que o Grupo Safras atualize o pedido de recuperação judicial, com a entrega de documentos e certidões faltantes, e retire um total de R$ 420,642 milhões em débitos extraconcursais, que não estão sujeitos a recuperações judiciais.
Se cumpridas as exigências, a juíza da 4ª Vara Cível de Sinop (MT) decidirá se acatará, ou não, o pedido da companhia, cuja crise iniciada em 2023 a partir da expansão desordenada e mal planejada se transformou no pedido de socorro ao Judiciário para se reerguer.