O anúncio já era esperado há duas semanas. Ricardo Faria, sócio fundador da Granja Faria, uma das maiores produtoras de ovos do País, estava prestes a obter mais um carimbo no passaporte de negócios da Global Eggs, holding que administra seus negócios no exterior.

Pois este carimbo foi obtido nesta quinta-feira, 27 de março. Depois de ir às compras no mercado europeu e adquirir a espanhola Hevo por 120 milhões de euros em novembro de 2024, a Granja Faria alçou um novo voo, dessa vez rumo ao mercado dos Estados Unidos, com a aquisição da Hillandale Farms, uma das cinco maiores produtoras de ovos do país.

A aquisição foio confirmada pelo próprio Faria em entrevista ao jornal britânico Financial Times, por um valor estimado em US$ 1,1 bilhão. “Os americanos adoram ovos. É um mercado com alto consumo”, declarou Faria em entrevista ao Financial Times.

Os rumores de que a holding estaria buscando oportunidades de entrada no mercado estadunidense começaram em meados de março, conforme matéria publicada pelo AgFeed.

Eles indicavam também a participação do banco BTG Pactual no negócio, o que, segundo o FT, deve mesmo acontecer. O banco vai injetar US$ 300 milhões na Global Eggs e com isso adquirir participação de 11% no negócio - o que avaliaria a Global Eggs em pouco menos de US$ 3 bi. Procuradas, tanto a Granja Faria, quanto a instituição financeira não concederam entrevistas.

Um acordo vinculativo foi assinado entre as partes, que aguardam a aprovação final da compra, incluindo parecer dos órgãos reguladores.

A Hillandale Farms é uma empresa familiar fundada em 1958 na Pensilvânia. A empresa tem sede em Greensburg, no estado da Pensilvânia, e unidades de produção também nos estados de Ohio e Connecticut. Nelas, cria cerca de 20 milhões de galinhas.

Em entrevista ao jornal britânico, o vice-presidente da companhia, Gregory Cessna, afirmou que a Hillandale concordou com o acordo porque Faria “quer manter o negócio”.

Com a aquisição, a Global Eggs dobrará sua capacidade de produção. Em 2024 a companhia registrou receita de US$ 2 bilhões e um Ebitda da ordem de US$ 500 milhões.

A holding também se prepara para a oferta pública de ações na Bolsa de Nova York, segundo deixou escapar André Esteves, sócio do Banco BTG Pactual, em evento recente em São Paulo, ao lado do agora parceiro Ricardo Faria.

A empresa brasileira chega ao mercado americano em um momento particularmente sensível. Nos últimos meses, o número recorde de abates de aves causadas pelo avanço do surto de gripe aviária causou escassez de ovos nas prateleiras dos supermercados nos Estados Unidos, levando os preços a patamares recordes.

Mas, de acordo com Faria, esse recorde nos preços não foi o principal fator para a compra, embora o cenário seja pertinente para a continuidade da estratégia de negócios da Global Eggs no mercado internacional.

“Os ovos já foram um produto para as classes de baixa renda. Nos últimos 15 anos, as classes de renda mais alta decidiram emagrecer, viver melhor e substituir alimentos como pão e leite por ovos no café da manhã”, acrescentou.

Ele inaugura, assim, uma possível invasão brasileira nesse mercado. Assim como a Global Eggs, a Mantiqueira Brasil, maior concorrente da Granja Faria no País, não esconde o interesse de fazer aquisições nos EUA e iniciar operações por lá.

O CEO da companhia, Marcio Utsch, já confirmou que a expansão da empresa inclui um movimento rumo ao país da América do Norte e o AgFeed apurou que executivos do grupo Mantiqueira, incluindo Murilo Pinto, filho do fundador Leandro Pinto, já estão de mudança para os EUA para prospectar oportunidades.

A Mantiqueira vai mcom apetite em caixa cheiro. Em janeiro, a JBS, maior processadora de proteína animal do mundo - com operações de porte nos Estados Unidos -, adquiriu 50% do controle e 48,5% das alçoes do grupo por R$ 1,9 bilhão.