Sempre sincero em seus comentários desde que assumiu o comando da gigante alemã dos químicos Bayer, há quase dois anos, Bill Anderson não fugiu à regra ao analisar os números de 2024 e trazer as projeções para 2025 e para os próximos anos, dados divulgados nesta quarta-feira, dia 5 de março, pela companhia.

No radar, a perspectiva de dias melhores – mas a partir de 2026. Em conferência para apresentar os números, Anderson disse que 2025 ainda será mais um ano "crucial" e “díficil” para o projeto de reestruturação da companhia, que entra agora em seu segundo ciclo, com a perspectiva de vendas estáveis, mas queda nos lucros pelo terceiro ano consecutivo.

“Falando francamente, vemos 2025 como o ano mais difícil da nossa jornada. É também um ano em que temos a oportunidade de progredir em nossas maiores prioridades”, disse ele em um vídeo postado juntamente com a apresentação dos resultados.

"Para chegarmos às oportunidades futuras, primeiro precisamos navegar por tempos que
continuarão desafiadores.”

O guidance apresentado pela companhia prevê que, em 2025, as vendas fiquem no mesmo nível de 2024. Elas fecharam o ano passado em 46,606 bilhões de euros, recuo de 2,2% em relação a 2023.

A Bayer projeta que as vendas girem entre 45 bilhões de euros (o que seria um recuo de 3% em relação ao ano passado) e 47 bilhões de euros, em números ajustados.

O Ebtida (sigla para lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) antes de itens especiais deve ficar entre 9,5 bilhões de euros a 10 bilhões de euros, abaixo dos 10,123 bilhões de euros registrados em 2024 – quando já havia caído 13,5% em relação ao ano anterior.

A expectativa da Bayer é que o lucro básico por ação fique entre 4,50 euros e 5,00 euros, menor, portanto, que os 5,05 euros registrados no ano passado.

Apesar dos resultados pouco animadores previstos para esse ano, o CEO "sincerão" projetou uma luz no fim do túnel para os investidores, com a perspectiva de desempenho melhor no ano que vem.

Para cumprir o que está prometendo, a Bayer afirmou vai impulsionar os esforços para trazer mais lucratividade da divisão Crop Science nos próximos anos. A ideia é que essa área esteja gerando mais de 1 bilhão de euros de lucros até 2029.

Por ora, no entanto, a realidade é diferente. A divisão apresentou resultados ruins em 2024 e puxou os números da companhia como um todo para baixo – contrabalanceado pela área de produtos farmacêuticos.

No acumulado do ano passado, as vendas do segmento agro caíram 2%, chegando a 22,259 milhões de euros, com queda generalizada na maioria das regiões. Por segmento, a maior queda nas vendas em 2024 veio dos fungicidas, com redução de 8,3%, seguido por herbicidas, com recuo de 7,7%.

No caso dos herbicidas, especificamente, considerando apenas produtos feitos com glifosato, a queda foi de 5,7%, sob impacto da queda dos preços, especialmente na América Latina.

Nos Estados Unidos, a companhia enfrenta uma série de litígios judiciais envolvendo o herbicida Roundup, à base de glifosato, acusado de ser o agente causador de câncer em centenas de agricultores que o utilizaram em suas lavouras.

O Roundup – e a série de processos judiciais que vieram junto com ele – é uma herança da Monsanto, que foi comprada pela Bayer em 2018, por US$ 60 bilhões, e tinha esse produto no portfólio.

Para melhorar seus resultados em 2026, a companhia também planeja "conter significativamente", até o fim do ano que vem, os litígios judiciais envolvendo o Roundup.

"No ano passado, tivemos resultados positivos em seis dos oito julgamentos realizados em primeira instância e estamos recorrendo dos outros veredictos", disse Anderson em um comunicado junto aos resultados.

Ao todo, a companhia contabiliza já ter fechado acordos em 114 mil processos de um total de 181 mil.

"Continuaremos nos defendendo na Justiça, respaldados pelo forte consenso científico e regulatório. No entanto, também estamos preparados para buscar acordos quando isso for do interesse da empresa", complementou.

Nova geração de transgênicos

Além das quedas nas vendas de herbicidas e de fungicidas, no acumulado de 2024 também houve contração de 4,3% nas vendas de sementes de milho, sob efeito do declínio de área plantada na América Latina, e de 3,7% nas sementes de soja.

Mesmo com queda nas vendas, a Bayer continua apostando em novos produtos. Um deles, que vai chegar ao mercado brasileiro em 2028, é a tecnologia de soja transgênica HT4, comercializada nos Estados Unidos com a marca Vyconic.

A quarta geração de tecnologias transgênicas para a soja foi oficialmente anunciada agora, depois de anos de espera, e traz tolerância a cinco herbicidas: glifosato, mesiotrina, glufosinato, 24D e dicamba.

Menos despesas

Desde que Anderson chegou à companhia, em 2023, a Bayer tem passado por um forte processo de redução de custos.

A ideia da companhia é diminuir suas despesas em 2 bilhões de euros até 2026. Somente no ano passado, foram 500 milhões de euros em economias. Para este ano, a previsão é de mais 800 milhões de euros.

Essa redução passa, principalmente, por demissões. Somente no ano passado foram cerca de 7 mil postos cortados ao redor do mundo, principalmente na área gerencial, dentro de um modelo operacional batizado de Dynamic Shared Ownership (DSO), que diminui a quantidade de hierarquias dentro da companhia.

A julgar pelo desempenho das ações da Bayer na bolsa de Frankfurt no começo desta quarta-feira, os investidores parecem ter comprado as promessas de Anderson para o futuro. Por volta das 11h, os papeis da companhia subiam 2,96%, cotados a 24,42 euros cada.