Com o crédito restrito - em meio às altas dos juros, da inadimplência e mais garantias exigidas pelas financeiras - a divisão agrícola das Basf ampliou e até criou ofertas alternativas para o financiamento do produtor.
A companhia turbinou as operações de Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs) e passou a aceitar até mesmo créditos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) obtidos pelos clientes na troca por insumos nas operações de barter.
Segundo levantamento do braço de agroquímicos e insumos da Basf, de todo o montante das vendas realizadas no Brasil em 2024, 43% dos negócios fechados foram por meio de operações financeiras alternativas de crédito. A empresa não divulgou valores do total das operações, apenas as realizadas com o uso de FIDCs
No ano passado, as operações com o uso desse instrumento financeiro movimentaram R$ 869,4 milhões. O total representa alta de 25% sobre os R$ 696,6 milhões de 2023 e avanço acumulado de 95% ante os R$ 451,1 milhões de 2022.
E 2025 começou no mesmo ritmo de crescimento, com o anúncio da captação, pela companhia, de R$ 800 milhões na terceira emissão do FIDC Opea Agro Insumos para financiar a venda de insumos agrícolas a distribuidores, cooperativas e produtores rurais.
Esse FIDC foi lançado em 2022, mas a parceria entre Basf e Opea dura oito anos e inclui cinco emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA).
“Além de oferecer tecnologias para proteção de cultivos, sementes, biotecnologia e agricultura digital, queremos melhorar e facilitar a experiência dos nossos clientes em fechar negócios”, informou Marcelo Batistela, vice-presidente da Basf Soluções para Agricultura no Brasil.
Em entrevista ao AgFeed em setembro do ano passado, o gerente de Operações de commodities estruturadas e gestão de risco da multinacional alemã no Brasil, José Roberto Louzado Junior, previu que na safra 2024/2025 a fatia de operações alternativas chegará a 50% do total de negócios da Basf. No mercado em geral, ele estima que 30% dos insumos sejam comercializados via barter.
A captação de R$ 800 milhões concluída em janeiro foi a terceira emissão de um FIDC pela Basf, com o objetivo de impulsionar a venda de insumos agrícolas para seus clientes.
Nas operações FIDC, os recursos captados são utilizados na compra de insumos agrícolas por parte dos clientes da Basf, que incluem distribuidores, revendas, cooperativas e produtores rurais.
Na operação, a Basf cede seus recebíveis referente à venda de insumos agrícolas a prazo safra, ou seja, com pagamento após a colheita, com o objetivo de ampliar esse tipo de crédito.
Além dos fundos de crédito, a empresa também é pioneira em opções diferenciadas de barter, operação de troca já consolidada no setor, mas foge do padrão de escambo de insumos por produção futura. Em 2021, por exemplo, a Basf iniciou no Brasil a realização de barter com emissões de Créditos de Descarbonização por Biocombustíveis (CBIOs).
Previstos na Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), os CBIOs são emitidos por usinas e indústrias produtoras de biocombustíveis e calculados a partir do carbono mitigado no processo de fabricação. Esses certificados são comprados normalmente pelas empresas emissoras, como petroleiras e distribuidoras como forma de compensação, mas também são negociados no mercado secundário.
Outra modalidade de barter que a Basf consolidou no último ano foi a operação realizada com créditos de ICMS. A companhia, que não detalhou o volume negociado nessas operações, afirma que esse tipo de barter viabiliza a transferência do crédito excedente de ICMS que não seria acessado pelo cliente, em forma de troca de insumos da Basf
Após avaliar os créditos do cliente e os próprios débitos, a Basf propõe o barter. “Buscamos entender as necessidades dos parceiros para viabilizar alternativas que agreguem valor a nossa oferta de produtos e serviços”, informou Lousado Junior.