Nos últimos dias integrantes do governo federal passaram a reforçar a preocupação com a alta nos preços dos alimentos, sinalizando que medidas devem ser adotadas para tentar frear a inflação desses produtos.

Nesta sexta-feira, depois de um encontro de ministros com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva veio à tona algumas das medidas que estão em estudo.

Uma nota divulgada pelo Ministério da Agricultura menciona que entre as ações possíveis está a redução da alíquota de importação de alimentos que estiverem com preços mais elevados no mercado interno em relação ao mercado internacional.

Ao conversar com jornalistas, na saída do encontro, o ministro Carlos Fávaro admitiu que o milho seria um dos exemplos.

“O milho no mercado interno está um pouco mais alto do que no mercado internacional. Não queremos fazer medida heterodoxa, mas esse é um caso que alíquota de importação pode ser revista”, afirmou.

O AgFeed conversou com Paulo Bertolini, presidente da Abramilho, entidade que representa os produtores de milho no País. Ele classificou como um “equívoco de análise” a possível medida.

“Se o Brasil é o segundo maior exportador de milho quer dizer que nosso preço no mercado internacional é competitivo, do contrário, não estaríamos exportando, por isso talvez haja um equívoco nessa análise de que preço internacional está mais barato que no mercado interno”, afirmou.

O dirigente ressaltou que a entidade aguarda para entender os detalhes e as intenções do governo no tema. “Talvez essa análise de preço de milho seja em lugares muito distantes, sem infraestrutura, sem ferrovia e rodovia e que nesse caso certamente o produto, não só o milho, mas tudo nesse lugar será mais caro do que locais próximos aos portos”.

Bertolini diz que o atual momento, em que produtores começam o plantio da segunda safra de milho, a maior do País, requer “estímulos a produção”, por isso se disse preocupado com a sinalização da medida que poderia causar um desestímulo.

“É um momento ruim para dar uma notícia dessas sem detalhes, aí vem esse susto quando estamos preparando o plantio da segunda safra”, disse.

O presidente da Abramilho afirmou ainda que a medida não faz sentido porque o Brasil tem um excedente para a exportação, por isso o correto seria um incentivo para reduzir custos de produção.

“A Abramilho não defende produção de mercado, defendemos o livre mercado, em todas as missões internacionais que vamos. Inclusive fizemos parte da Aliança Internacional do Milho”, acrescentou.

A nota divulgada pelo Mapa inclui declarações do ministro da casa civil Rui Costa.

"Os produtos que estejam com preço interno maior do que o preço externo, nós atuaremos na redução de alíquota para forçar o preço a vir, pelo menos, para o patamar internacional. Não justifica nós estarmos com preços acima do patamar internacional. Não tem a menor explicação para isso, já que o Brasil se constitui como um dos maiores produtores de alimentos de grãos do mundo", afirmou Costa

Para Bertolini, cresce a preocupação entre as lideranças do agronegócio de que o governo também avalie taxar exportações de alimentos sob a mesma justificativa, algo que vendo sendo negado pelos integrantes do governo Lula.

Costa reforçou que não haverá congelamento de preços, tabelamento ou rede estatal de supermercado. “Isso não existe”, disse a nota.

O texto destaca ainda que a super safra que será colhida em 2025 deverá contribuir para a redução dos preços dos alimentos.

"É importante dizer que o presidente determinou que a gente já comece a discutir medidas de estímulo, um novo Plano Safra que estimule mais, principalmente os produtos que chegam à mesa da população. E é a partir disso então que nós vamos nos debruçar", declarou Carlos Fávaro.

O presidente da Sociedade Rural Brasileira, Sérgio Bortolozzo, afirmou que eventuais reduções nas alíquotas de importação de alimentos devem trazer dificuldades maiores para o produtor rural brasileiro. Ele afirma que o excedente de produção ocorre porque o Brasil é competitivo no mercado internacional, mesmo sem os subsídios que agricultores de outros países recebem. “Isso vai provocar desabastecimento, porque vai desestimular a produção, não entendo que essa seja a política certa”.