No próximo dia 10 de fevereiro, a cidade de Cascavel, no Oeste do Paraná, vai se transformar, por cinco dias, na capital do agronegócio brasileiro.

Assim como acontece todo ano, basta abrirem-se os portões do Show Rural Coopavel, um dos principais eventos agropecuários do País, para que se inicie uma rotina de lançamentos e negócios envolvendo as principais marcas de setores que vão de insumos agrícolas a máquinas e tecnologias.

É também um primeiro termômetro do apetite dos produtores rurais por aquisições, já refletindo o andamento da primeira safra do ano agrícola.

Anfitriã do evento e uma das maiores cooperativas do País, a Coopavel espera receber este ano cerca de 360 mil pessoas nos cinco dias da feira, que em 2024 movimentou R$ 5 bilhões.

"A gente tem tido uma média de 330 mil visitantes nos últimos anos e esse aumento esperado com certeza impacta na movimentação de negócios", afirma Dilvo Grolli, presidente da cooperativa.

Há no ar, portanto, um otimismo moderado, calejado por um ano difícil, que deixou marcas em todo o setor – e afetou, também, até algumas pujantes cooperativas agrícolas.

Cada uma a seu modo, elas encararam os desafios e hoje olham para um cenário mais promissor. A paranaense Cocamar, por exemplo, congelou investimentos com a quebra da safra 2023/2024 e só voltou a fazer aportes na metade final do ano.

A goiana Comigo quase seguiu o mesmo caminho ao constatar as incertezas da temporada, mas voltou atrás e resolveu ampliar suas estruturas, trilha seguida por outras como a gaúcha Cotrijal e a paranaense Lar, que também seguiram adiante em seus planos de expansão.

Já a Coopavel colheu os frutos da receita que vem adotando nos últimos anos: diversificar suas atividades para enfrentar tempos bicudos de frente.

Dessa forma, a cooperativa conseguiu manter seu faturamento estável em 2024. O resultado deve ficar em R$ 5,3 bilhões, com crescimento de apenas 2% em relação à 2023, que foi de R$ 5,2 bilhões.

Isso, mesmo tendo recebido menos grãos no período: 950 mil toneladas no ano passado contra 1 milhão de grãos no ano anterior.

A continuidade do crescimento decorre do fato, segundo Dilvo Grolli, de que o faturamento da cooperativa é distribuído, em insumos, grãos, frango, suínos e demais agroindústrias – ao todo, a Coopavel tem 18 estruturas industriais.

"Nenhum produto pode ter mais de 25% do faturamento da Coopavel e isso faz com que você tenha um equilíbrio melhor em um ano em que o agronegócio não esteja bem", afirma Grolli.

Grolli considera que a safra 2024/2025 está melhor que o ciclo anterior. “Porém, na segunda quinzena de dezembro e nesses primeiros dias de janeiro, nós estamos com um clima muito seco, com pouca chuva”, afirma.

A estimativa do Paraná é de que o ciclo atual gere 25,3 milhões de toneladas de grãos, 19% a mais que as 21,3 milhões de toneladas obtidas na safra 2023/2024.

O presidente da Coopavel acredita que o número deve diminuir por conta da baixa pluviosidade. “Tenho certeza de que isso vai impactar, com uma quebra de 10% da safra prevista em várias regiões, inclusive aqui no Oeste do Paraná”, afirma.

Ainda assim, ele diz que não teme mudanças em razão da diversificação das atividades da cooperativa e projeta um faturamento próximo de R$ 6 bilhões em 2025.

Roteiro de investimentos

No ano passado, a Coopavel fez investimentos de R$ 250 milhões, com foco em ampliação de capacidade de armazenagem, abertura de duas novas filiais, em Bom Sucesso do Sul e em Vitorino, além de incremento de dez filiais já existentes - ao todo são 34 unidades espalhadas pelo Oeste e Sudoeste do Paraná.

Para 2025, a projeção da Coopavel é de aportar entre R$ 300 milhões a R$ 320 milhões, com foco em ampliar novamente a capacidade de armazenagem e também a operação de agroindústrias.

A insistência em reservar recursos para estruturas de armazenagem faz parte de um plano da Coopavel de ampliar a capacidade em 270 mil toneladas de grãos entre 2023 e 2025, com uma expansão entre 90 mil a 100 mil toneladas a cada ano.

Grolli diz que a necessidade de expandir a armazenagem decorre tanto do déficit histórico do Brasil e do Paraná, estimado pela Conab em 130 milhões de toneladas em nível nacional e entre 12 a 15 milhões de toneladas em nível estadual, quanto das necessidades da produção de carnes.

"O Paraná tem uma forte presença em frango, suínos e leite, que demandam ração. Nós temos que ter capacidade de armazenamento, porque vamos necessitar desses produtos diariamente", afirma.

"Temos que ter um cuidado maior com esses produtos para armazéns, porque se recebe soja em janeiro, fevereiro e março e depois só vai receber no próximo ano. Com o milho, a mesma coisa, maio, junho e julho.

No lado das agroindústrias, a Coopavel acaba de fechar um investimento para fortalecer o processamento do trigo - sempre com a ideia de diversificar a fonte de renda de seus procedores.

No apagar das luzes de 2024, em 26 de dezembro, a cooperativa adquiriu o Moinho Dona Alda, de Bom Sucesso do Sul, e um armazém de grãos de propriedade da família Munaretto, que era uma das donas do moinho.

A estrutura tem capacidade nominal de moagem de 270 toneladas por dia e de 90 mil toneladas de trigo por ano.

A Coopavel já tem um moinho próprio e outro em parceria. Grolli diz que a estrutura própria da cooperativa, em Cascavel, tem capacidade de moagem de 150 mil a 160 mil toneladas, e que a cooperativa recebe mais de 200 mil toneladas de trigo.

"Mas se somarmos os dois moinhos, o de Cascavel e o Dona Alda, precisaremos de 250 mil toneladas", afirma.

Grolli diz que, para suprir a demanda pelo cereal de inverno, será necessário o incentivo de produção no sudoeste do Paraná.

"Por lá, eles têm tradição com soja, milho de segunda safra e feijão. O trigo é em menor escala. E agora vai haver uma opção de diversificação para a propriedade, de incentivo ao trigo e de garantia de compra", afirma.

Também no fim do ano, a cooperativa fechou uma outra compra, sempre com a ideia de diversificação, para entrar no mercado de peixes.

A Coopavel comprou a Pescados Cascavel, empresa com presença no Brasil e em mais de 40 países, e que agora vai se chamar Fripeixes.

A estrutura tem volume de produção de 25 mil toneladas por dia e poderá chegar a 60 mil toneladas de peixes por dia. "É mais uma oportunidade de diversificação para as pequenas propriedades", afirma Grolli.

Além do abate de peixes em si, a ideia da Coopavel é também construir uma fábrica de rações para peixes a partir do segundo semestre deste ano, utilizando o know-how da cooperativa com produtos para nutrição anomal.

Na parte de fertilizantes, há a ideia de fazer uma ampliação da estrutura que a Coopavel já tem, aumentando a produção de 150 a 160 mil toneladas ao mês para 180 mil toneladas ao mês em suas duas unidades industriais – a depender do consumo dos mais de 7,5 mil cooperados.

Em paralelo, a Coopavel está finalizando uma indústria de insumos biológicos, a futura Biocoop, e agora aguarda liberações do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para começar a operar a estrutura.

O investimento de R$ 40 milhões foi feito de olho no aumento da demanda por insumos biológicos prevista para os próximos anos, segundo Grolli.

"O Brasil gasta R$ 85 bilhões por ano em insumos químicos. Em biológicos, menos de R$ 10 bilhões e a projeção é de que, até 2030, passe para mais de R$ 20 bilhões", afirma.

Grolli fala c0m a autoridade de quem completará 40 anos à frente da Coopavel, marco temporal que reflete a longevidade típica dos líderes cooperativistas no Paraná – e também no cooperativismo de forma geral.

No cenário paranaense, exemplos do gênero não faltam. Irineo da Costa Rodrigues, presidente da Lar, está no cargo desde 1991. José Aroldo Gallassini, um dos fundadores da Coamo, exerceu a presidência-executiva entre 1975 e 2020. Jorge Karl esteve no comando da Cooperativa Agrária durante 24 anos, de 1999 a 2023.

Questionado se pensa em aposentadoria, o presidente da Coopavel despista. "Sou administrador de empresa e eu tenho uma visão estratégica que a renovação faz parte de um contexto de sempre trazer mais pessoas", afirma.

"Meu mandato vai expirar em 2027. Existe um conselho na Coopavel e esse conselho sempre é ouvido e sempre vai nos orientar sobre como vai ser a renovação e em quais os setores. Eu sou fiel à decisão do conselho", emenda.