O ano de 2024 não foi fácil para a cooperativa paranaense Cocamar, uma das maiores do País.
Com a quebra de safra, houve retração no recebimento de grãos, o faturamento caiu e investimentos programados para serem feitos ao longo do ano foram congelados.
Mas, conforme as perspectivas da safra 2024/2025 foram se revelando mais positivas que o ciclo anterior, a Cocamar voltou a fazer aportes na metade final do ano e já está se preparando para inaugurar sua primeira estrutura de armazenagem em Mato Grosso no próximo mês.
"Mesmo com um ano em que enfrentamos um problema enorme, com uma perda de safra gravíssima, conseguimos fechar o ano de forma positiva", afirma José Cícero Aderaldo, o Zico, vice-presidente executivo da Cocamar.
A cooperativa deve encerrar o ano com um faturamento de cerca de R$ 10,7 bilhões, menor que o registrado em 2023, de R$ 13,018 bilhões.
“Nós tivemos problemas climáticos terríveis, registramos uma perda de 40% na safra de verão e 35% na safra de soja. Perdemos o recebimento de mais de um milhão e meio de toneladas neste ano”, afirma o executivo.
Para 2025, a cooperativa paranaense projeta uma safra “dentro da normalidade”, segundo Aderaldo, com um faturamento esperado de mais de R$ 14 bilhões, crescimento de cerca de 30% em relação a 2024.
A Cocamar projeta receber 2,75 milhões de toneladas de soja nesta safra.
“A expectativa para a safra é boa. O plantio se deu em um momento ideal e a janela de plantio foi boa. Até agora o clima tem contribuído. Teve algum problema na largada do plantio, com falta de chuva, que acabou afetando algumas regiões, mas são pequenos lotes que tiveram algum tipo de problema”, diz Aderaldo.
No começo de 2024, quando viu que a safra ia apresentar um desempenho mais fraco, a Cocamar congelou investimentos de R$ 250 milhões que tinha previsto fazer neste ano e fez um plano de redução de despesas.
“Eram alguns entrepostos e armazéns que queríamos construir esse ano, mas achamos melhor não avançar porque tínhamos receio de como seria o resultado da cooperativa”, afirma Aderaldo.
Ainda assim, a Cocamar fez alguns investimentos em cidades do Paraná, comprando estruturas para montagem de entrepostos em Andirá e Uraí, um armazém em Sabáudia e uma nova loja em Rolândia.
Já a definição do retorno dos investimentos paralisados neste ano fica para um segundo momento, no fim do primeiro trimestre de 2025, segundo Aderaldo.
“A gente só vai definir se vai implementar em 2025, a partir do recebimento da safra de soja”, afirma.
O demonstrativo financeiro da cooperativa ainda não está fechado, mas Aderaldo diz que o número final de 2024 será positivo. “Nós vamos ter um balanço superior a R$ 400 milhões de resultado”, afirma.
A cooperativa antecipou a distribuição de R$ 169 milhões em sobras aos seus 19 mil cooperados – a maioria deles pequenos produtores – neste mês de dezembro.
“A força do cooperativismo, a gestão moderna e transparente e um planejamento estratégico muito bem definido, somada à resiliência do produtor rural, superando as dificuldades, permitiram essa distribuição de resultados”, afirmou o presidente executivo da Cocamar, Divanir Higino, na ocasião.
Plano de expansão
Em 2025, a Cocamar vai também definir seu plano estratégico para os próximos cinco anos – e planeja voltar à crescente de faturamento que vinha registrando no ciclo anterior.
“A nossa meta, ao longo dos últimos ciclos, era dobrar a cooperativa de tamanho e dobrar o faturamento a cada 5 anos. Temos conseguido fazer isso. Mas não dá para você fazer isso ficando no mesmo lugar. Você tem que ir para novas regiões, comprar ou construir novos armazéns”, afirma.
Nesse contexto, o próximo ano deve ser permeado pela continuidade de investimentos dentro e fora do Paraná que já haviam sido feitos e que não foram congelados, mesmo com a conjuntura ruim deste ano.
O primeiro deles será feito no próximo dia 20 de janeiro, quando a Cocamar vai inaugurar a primeira unidade de recebimento e armazenamento de grãos em Mato Grosso, na cidade de Água Boa, no Vale do Araguaia.
Trata-se da primeira estrutura do tipo da Cocamar no estado. Construída desde o ano passado em um terreno de 20 hectares, a estrutura terá capacidade de armazenamento de 150 mil toneladas de grãos e vai suprir a demanda de produtores locais por serviços, assistência técnica e produtividade.
“A região é altamente deficiente de armazéns. Por lá, o produtor chega a ficar entre 3 a 4 dias em filas para entregar a soja dele nos armazéns, algo inimaginável para os cooperados da Cocamar no Paraná, por exemplo”, afirma Aderaldo.
A cooperativa já está presente em outros estados além do Paraná, como Goiás, São Paulo e Mato Grosso do Sul, mas ainda não havia expandido suas operações para o Mato Grosso até então.
Aderaldo diz que a entrada no maior produtor de grãos do País parte de duas premissas.
“A primeira é a cooperativa conseguir diversificar seu risco geográfico. Quando você está em uma única região, como a gente, que está no Paraná, o clima pode impactar muito a gente. Se tivéssemos uma operação no Mato Grosso, não teria o mesmo impacto que tivemos”, afirma.
“E a segunda é que, diversificando o risco, também abrimos oportunidade para os nossos cooperados que estão no Paraná, para que eles também possam ir para outros estados, arrendar uma terra ou comprar uma terra, porque a cooperativa está lá e pode dar o suporte para ele”, emenda.
Outro investimento a ser feito pela Cocamar no ano que vem é uma nova fábrica de esmagamento de soja, que vai se somar a outras unidades que a cooperativa já possui em seu complexo de indústrias.
A nova fábrica, que começará a ser construída no primeiro semestre de 2025 e vai custar cerca de R$ 800 milhões aos cofres da cooperativa, terá capacidade de processamento de 5 mil toneladas de grãos por dia, volume que poderá ser ampliado para 7,5 mil toneladas no futuro.
A capacidade total de moagem será de 2,5 milhões de toneladas de soja ao ano, e com isso, a produção de óleo de soja vai passar de 200 mil toneladas para 350 mil toneladas ao ano.
De acordo com Aderaldo, o investimento se justifica pelo aumento do volume de recebimento de grãos registrado pela cooperativa nos últimos anos.
“Em 2023, nós recebemos 2,3 milhões de toneladas de soja e a gente só esmagou 1 milhão de toneladas. A maior parte da nossa soja hoje está sendo comercializada in natura e esse não é o nosso propósito”, afirma Aderaldo.
A expectativa da Cocamar é receber, em 2027, 3 milhões de toneladas de grãos e processar pelo menos a metade do volume total.
O projeto da indústria de soja faz parte dos planos da cooperativa de investir mais de R$ 1,5 bilhão até 2027 em diferentes iniciativas em seu parque industrial em Maringá.
Além do projeto da nova usina de soja, também há a possibilidade de ampliação de sua indústria de biodiesel, também localizada em Maringá e que hoje tem capacidade de produção de 90 mil metros cúbicos do biocombustível, a construção de um novo terminal ferroviário para o embarque dos produtos e ampliar a capacidade de armazenamento de farelo e do pátio de triagem na sede da cooperativa.