Reconhecido pela qualidade do seu rebanho e por suas operações agrícolas tecnificadas, o Grupo Santa Fé considera “totalmente evitável” um pedido de recuperação judicial, após o Tribunal de Justiça de Goiás conceder, nesta quinta-feira, 19 de dezembro, um stay period de 30 dias para suspensão e renegociação de suas dívidas.

Esse período deveria se iniciar nesta sexta-feira, 20 de dezembro, mas o recesso judiciário dobrará o prazo até meados de fevereiro.

Com isso, o conglomerado agropecuário liderado pelo empresário Pedro Merola espera equalizar seu endividamento, após reduzi-lo de R$ 435 milhões para R$ 279 milhões (o valor da causa) com vendas de propriedades rurais.

“Foram vendidas propriedades extremamente valiosas, ativos extremamente importantes, o que demonstra o interesse em renegociar as dívidas e que não há qualquer interesse de se entrar em recuperação judicial”, disse Murillo Lobo, advogado do Grupo Santa Fé, ao AgFeed.

De acordo com Lobo, antes mesmo do pedido de stay period o grupo agropecuário renegociou R$ 80 milhões em Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) emitidos em 2022.

Houve acordo com os credores e esses títulos ficaram fora do processo de renegociação extrajudicial, o que também preserva os Fiagros que detêm os CRAs da companhia.

A decisão favorável do desembargador Eliseu José Taveira Vieira foi precedida por uma derrota na primeira instância ao Grupo Santa Fé.

A juíza substituta Thalene Brandão Flauzino de Oliveira, de Santa Helena de Goiás (GO), indeferiu o pedido da agropecuária e pediu que fosse emendado a petição inicial “formulando o pedido de recuperação judicial e incluindo todos os documentos necessários para tanto”.

“O endividamento foi reduzido de forma agressiva e, como os prazos foram esticados pelo recesso judiciário, a recuperação é totalmente evitável, não é boa para ninguém e muito possivelmente não será necessária”, rebateu o advogado.

Drama

O pedido de prazo para a renegociação de dívidas sem a recuperação judicial encaminhado à Justiça mostra a deterioração financeira no Grupo Santa Fé a partir da conjunção de fatores como a queda no preço de commodities e perdas nas lavouras por motivos climáticos entre 2022 e 2024.

O grupo relata que nas áreas de sequeiro a produtividade da soja recuou de 65 sacas por hectare na safra 2022/2023 para apenas 47 sacas por hectare na safra 2023/2024, queda de 27,7%, superior à redução média de 22,3% reportada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a região do Cerrado.

“A produtividade do tomate industrial caiu de 90 para 19 toneladas por hectare, enquanto o feijão irrigado recuou de 51 para 29 sacas por hectare”, relata o documento.

A queda de 27% no preço da arroba do boi gordo entre janeiro de 2022 e dezembro de 2023 “resultou em uma drástica redução no número de animais confinados”. O plantel saiu de 41 mil cabeças em 2023, para 20 mil em 2024.

A modalidade de boitel - que aluga confinamento para animais de terceiros - teve recuo na taxa de ocupação de 85%, em 2022, para apenas 20% em 2024.

“A deterioração do cenário operacional impactou severamente a estrutura financeira do grupo. O endividamento com o sistema financeiro era de R$ 366 milhões em 2022 e foi para R$ 435 milhões em 2023, enquanto o EBITDA recuou de R$ 94 milhões em 2022 para R$ 78 milhões em 2023. 37. A geração de caixa negativa em 2024 agravou ainda mais este quadro, pressionando a liquidez da empresa e sua capacidade de honrar compromissos no curto prazo”, relatou a companhia no pedido encaminhado à Justiça.

Mesmo com as vendas de propriedades e renegociações, títulos foram executados por credores.

“A gota d’água foi a exigência de pagamento, ainda neste mês de dezembro, de parcela de R$ 4,7 milhões da operação garantida por CPR-F, sob pena de consolidação de bem imóvel de elevado valor e relevância na operação agropecuária do grupo, com mais de 1.000 hectares A dificuldade de caixa para honrar esse e outros compromissos em aberto que somam mais de R$ 15 milhões não deixou outra opção a não ser a busca da proteção legal da Lei nº 11.101/05”, informou.

O Grupo Santa Fé alegou ainda o risco de perdas de imóveis, de interrupção do fornecimento de energia elétrica essencial para operação dos sistemas de irrigação em uma área de 2.447 hectares e o risco de bloqueio de contas bancárias, impedindo o prosseguimento da atividade produtiva em pleno período produtivo.

Por fim, a empresa cita a necessidade de se manter o trato de 22 mil bovinos em confinamento; de se realizar investimentos imediatos e inadiáveis para a safra 2024/2025 e de garantir o emprego de 314 colaboradores, entre diretos e indiretos.