O mar não está para peixe quando o assunto é venture capital. Quando o assunto é agro, para além da dinâmica macroeconômica menos favorável a investimentos de risco, a dinâmica logística extensa no País para testar novas tecnologias freia mais ainda esse tipo de movimento.
De olho nesses gaps e no momento mais difícil do mercado, a Rural, nova identidade da antiga Rural Ventures, fez um ajuste em seu modelo de negócios para ser vista como muito mais do que uma firma de investimentos de venture capital.
A ideia, segundo explicou Fernando Rodrigues, fundador da Rural, é posicionar a empresa, cada vez mais, como um ecossistema de agtechs. Um movimento que, de acordo com ele, se deve à constatação de que o ecossistema das agtechs está muito fragmentado.
“Startups se cadastram em hubs de inovação, que no fim do dia, estão segregados e distanciados. Não só fisicamente, mas na linguagem”, avalia.
“O que nós estamos propondo é conectar tudo isso numa linguagem única e simples. Tecnologia para mim é algo que não tem barreiras, se funciona no Mato Grosso, deve funcionar em Minas Gerais ou no Rio Grande do Sul”, acrescenta.
Um passo nessa direção foi dado na semana passada, com o lançamento do R² Conecta, uma solução que une startups do agro, corporações e investidores numa só plataforma. Na prática, o sistema, que conta com quase 430 startups, faz um matching entre esses três players.
A ideia é otimizar processos naturais de busca e contatos por meio de uma plataforma com informações detalhadas sobre as agtechs incluindo pitches gravados, Q&As, resumos e análises feitas por uma equipe de curadores da Rural.
Mesmo com poucos dias de mercado, a solução já é utilizada por companhias como Basf, Ubyfol, 3Tentos, Novamérica, Hoganas e Silo Agro. Ao todo, são 10 clientes, segundo Rodrigues, que ainda conta com um produtor rural no escopo. A lista de prospecções já beira as 50 empresas.
Segundo Juliana Chini, head de Inovação Aberta da Rural, o diferencial da IA contida no R² Conecta é a profundidade de dados da base de startups. Uma curadoria é feita pela própria Rural em conversas gravadas com os CEOs.
“O conteúdo é curado, produzido e atualizado sobre o mercado de agtechs. Muitas vezes ao entrar no site de uma startup não dá para entender direito o que ela faz. Nós gastamos no mínimo meia hora para destrinchar o fundador para que ele explique no detalhe o negócio”, conta.
A ideia de ser um ecossistema serve para ir além do que os hubs de inovação do agro fazem. Por isso, Rodrigues acredita que os próprios hubs podem ser clientes do serviço do R² Conecta. “Nossa ideia é trazer os hubs de inovação que queiram se conectar. Não vamos substituí-los e sim facilitar seu trabalho”.
Ao mesmo tempo, ter essas informações curadas e por vezes, testadas por grandes corporações e validadas por investidores ajuda a Rural no braço de investimento.
“O mercado de venture capital é pequeno no agro e por isso ele tem que ser amplo”, diz. “A visão de um ecossistema é de fato conseguir conectar o mundo, construindo pontes e não muros”, acrescenta Juliana
A base deve aumentar. De acordo com Fernando Rodrigues, o R² Conecta contará com uma parceria com a The Yield Lab Latam, o que deve trazer mais 2,5 mil startups da América Latina para o sistema.
No modelo de negócio, a Rural não cobra pelo uso do software para as startups catalogadas, mas somente dos investidores e das corporações.
Quando uma corporação adquire o serviço e entra no sistema, ela recebe a seguinte pergunta: “Qual sua tese de utilização?”.
Nesse primeiro momento, o R² Conecta já gera um PDF com todas as startups que se enquadram nesta tese e, a partir dali, a jornada fica cada vez mais afunilada.
O novo programa é uma evolução direta do robô que a Rural havia implementado no Telegram há alguns meses. Na época, o modelo antigo permitia consultas rápidas em formato de chat. Agora, traz um sistema mais robusto e mais integrado.
Segundo Rodrigues, todo o espaço de interação entre as corporações e as startups, seja antes ou depois do primeiro contato, será cadastrado no R².
Na prática, vai além do matching e garante que as interações evoluam para relações produtivas entre startups, investidores e empresas, explicou Rodrigues.