O ministro da Agricultura comprou a briga da indústria brasileira de carne bovina e disse estar “feliz” com o boicote das companhias ao Carrefour e suas empresas coligadas no Brasil.

Após o CEO da rede de varejo francesa, Alexandre Bompard, informar, semana passada, que não iria comprar mais carne brasileira para as unidades daquele país, frigoríficos locais suspenderam negócios com o Carrefour no Brasil em represália.

“Estou feliz com a atitude de nossas plantas frigoríficas. Se para o povo francês o Carrefour não serve para comprar carne brasileira, o Carrefour que também não compre carne brasileira para colocar em suas gôndolas aqui no Brasil”, disse o ministro em entrevista à Globonews.

Fávaro afirmou estar indignado com o argumento “sanitário” de Bompard para justificar o anúncio de suspender as compras de carne oriunda do Mercosul.

“O primeiro parágrafo da manifestação dele é com relação à qualidade sanitária das carnes brasileiras, o que é inadmissível. O Brasil tem uma das melhores sanidades de produtos alimentícios do mundo. Não dá nem para comparar com a qualidade francesa de tão melhor que é a brasileira”, explicou.

Fávaro classificou como “praticamente inexpressivos” os números atuais de exportação de carnes brasileiras para a União Europeia, mercado que há duas décadas respondia por 20% das compras setoriais e vêm em franco declínio..

Dados do Ministério da Agricultura apontam que a União Europeia respondeu, em 2023, por 3,28% das exportações brasileiras de carne bovina e, neste ano, por 2,79%.

Para a França, sede do Carrefour, os volumes são irrisórios, de apenas 0,66% e 0,53%, respectivamente. As compras de frango pela UE responderam também por 4,2% em 2023 e 4,1%, em 2024 das exportações brasileiras, sem a participação do mercado francês.

Os impactos de um boicote dos frigoríficos ao Carrefour no Brasil ainda são incrtos. Segundo informações publicadas no Estadão, 150 lojas do Carrefour já estariam enfrentando problemas de desabastecimento de carne no Brasil. Informações do mercado davam conta que cerca de 500 caminhões de carne bovina deixaram de ser entregues nas lojas das redes nos ultimos dias.

Em nota divulgada no final de semana, o Carrefour informou, entretanto, ser improcedente a alegação de que há problemas deabastecimento de carne nas suas lojas brasileiras. “Tal alegação, veiculada sem identificação de fonte, contribui para a desinformação. A comercialização do produto ocorre normalmente nas lojas”.

No início da tarde de segunda-feira, em novo comunicado, a rede admitiu que “infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade”.

Mas negou que esteja havendo falta do priduto nas lojas, por enquanto. “Estamos em diálogo constante na busca de soluções que viabilizem a retomada do abastecimento de carne nas nossas lojas o mais rápido possível, respeitando os compromissos que temos com nossos mais de 130 mil colaboradores e com milhões de clientes em todo o Brasil", continuou a nota.

Tereos

A crise dop agro brasileiro com empresas francesas em relação a produtos brasileiros tem origem na pressão de agricultores e companhias locais contra a entrada em operação do acordo entre União Europeia e Mercosul. A polêmica surgiu em outubro, com a Danone informando que não compraria mais soja brasileira e foi seguida pelo Carrefour e o grupo Les Mosquetaires.

A mais recente manifestação aconteceu neste domingo, 24 de novembro, e veio da Tereos, grupo sucroenergético e de alimentos com forte presença no Brasil nas áreas de açúcar, álcool e amido. Em uma postagem no LinkedIn, o CEO do grupo, Olivier Leducq, se posicionou claramente contra o acordo comercial entre UE-Mercosul.

Ele afirmou na postagem que a aprovação do acordo, nos termos em que está negociado, criaria uma situação de “concorrência desleal” entre os produtos agrícolas produzidos no seu país e os provenientes do bloco sulamericano.

“No momento em que nossos colaboradores estão focados na implementação de práticas de agricultura regenerativa, como nossas exportações agrícolas conseguirão fazer frente à concorrência desleal de produtos importados que não cumprem as mesmas normas ambientais e sociais?”, escreveu Leducq.

“Apelamos à França para que continue a mobilizar outros Estados-membros para garantir que este acordo não seja imposto pela Comissão Europeia”, disse Leducq.

Horas depois da publicação do executivo em seu perfil no LinkedIn, a companhia emitiu um esclarecimento, em que afirma que “o comentário se refere exclusivamente à necessidade de uma discussão mais aprofundada sobre as diferenças regulatórias que impactam a competitividade econômica entre os dois blocos comerciais. Sob nenhuma hipótese trata-se de um questionamento à qualidade dos produtos ou comprometimento do Brasil e do Mercosul com práticas sustentáveis”.

Como reação à posição de Leducq, novo movimento de boicote começou a correr nas redes sociais de representantes do agro brasileiro. Desta vez, o alvo é o açúcar Guarany, marca da Tereos no Brasil. Ainda no domingo à tarde, nomes como o do ex-ministro da Agricultura, Antonio Cabrera, propunha que os consumidores brasileiro deixassem de comprar os produtos da marca.

O governo brasileiro tem se posicionado de forma pontual, preferindo manter o assunto na esfera proivada. O secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Luis Rua, informou ao AgFeed que a relação com a França segue normal e que não há qualquer intenção de transformar o assunto em algo diplomático.

“É uma questão do setor privado. O governo só se manifestou no sentido de rebater a questão sobre a qualidade, sanidade e sustentabilidade de nossas proteínas”, afirmou.