A SLC Agrícola mostrou, em balanço divulgado nesta terça-feira, como os impactos dos problemas climáticos afetam os números da empresa.
Se de um lado a companhia teve altas expressivas na venda de soja e algodão, de outro, viu a queda dos preços de commodities e a perspectiva de uma safra menor reajustarem negativamente o preço de seus ativos biológicos.
A companhia encerrou o terceiro trimestre com um prejuízo líquido de R$ 17,3 milhões, revertendo um lucro de R$ 167,3 milhões anotado no mesmo período um ano antes. Ao mesmo tempo, sua receita recuou apenas 1% de um ano para cá, encerrando os três meses terminados em setembro em R$ 1,63 bilhão.
A companhia pontuou que teve uma variação negativa de R$ 206 milhões no valor justo dos ativos biológicos, indicador contábil que atualiza o valor das plantações em função de mudanças nas expectativas de preço, produtividade e outros fatores de mercado.
Isso ocorreu pela expectativa de preços menores e uma produtividade impactada pelo clima, principalmente nos cultivos de algodão e soja.
Na receita de R$ 1,63 bi, R$ 777,8 milhões vieram da venda de algodão, um número 49,2% acima do ano anterior. A companhia vendeu 83,3 mil toneladas da pluma, mas por um preço médio por tonelada 12% menor que no ano anterior.
Na soja, a receita atingiu R$ 343,8 milhões. Foram 136,1 mil toneladas da oleaginosa vendida, o dobro do ano passado, mas por um preço 23% menor por tonelada.
O resultado do milho foi o que mais pesou no resultado. Além de uma receita 44% menor no cereal, atingindo R$ 299 milhões, o preço médio da tonelada recuou 75,9%. A SLC vendeu 393 mil toneladas de milho no período, baixa de 41,4%.
A SLC ainda contou com uma receita de R$ 84,7 milhões no caroço de algodão, R$ 69,2 milhões na pecuária e R$ 299,7 milhões no que chamou de “outras culturas”, que incluem sementes de braquiária, crotalária, feijão, gergelim, sorgo e trigo.
No balanço, a companhia ainda somou R$ 34,3 milhões em hedge, resultado 82,2% menor que no ano anterior. Segundo a SLC, reflexo de “uma menor proteção nos preços devido a contratos futuros menos favoráveis”.
Parte do mercado esperava um trimestre mais tímido, mas ainda esperava lucro. Em relatório prévio ao resultado, a XP projetou uma receita líquida de R$ 1,67 bilhão (próximo ao apresentado) e um lucro líquido de R$ 64 milhões.
Leonardo Alencar, head de agro, alimentos e bebidas da instituição financeira, já projetava números fracos no trimestre, com a queda no preço da soja e do milho no mercado internacional pressionando as margens, mesmo diante de bons resultados no algodão.
O analista ainda previa uma recuperação nas margens de soja, avaliando uma “melhor relação entre preços e custos de insumos”. A expectativa da instituição financeira era de uma receita líquida de R$ 343 milhões na oleaginosa. No algodão, Alencar esperava R$ 788 milhões em receita. Ambos os resultados foram próximos do apresentado.
A dívida líquida da empresa encerrou setembro em R$ 4,2 bilhões, cerca de R$ 1,3 bilhão a mais que em 2023. “A dívida líquida no período foi impactada principalmente pela redução da produtividade da soja safra 2023/24 e pelos investimentos para o aumento da área plantada safra 2024/25”, disse a SLC.
A empresa passou de uma alavancagem de 1,06 vez no final de 2023 para 2 vezes ao fim de setembro.
O que esperar da safra 2024/25?
A SLC projetou encerrar a safra 2024/25 com uma área total de 734 mil hectares, um crescimento de 11% em relação à temporada anterior.
Essa expansão inclui o aumento em novas áreas arrendadas e em joint ventures com parceiros como a Agropecuária Rica, Agro Penido (ambas no MT) e um novo arrendamento no Piauí.
A soja continua como a cultura predominante, ocupando aproximadamente 378 mil hectares desse total. Já o algodão somará 192 mil hectares.
“A área semeada até 8 de novembro era de 293,1 mil hectares nos estados do MT, MS, GO, MA e BA, o que representa 77,45% da área prevista para a soja. No Mato Grosso, o plantio de soja foi encerrado. Até o momento, as lavouras apresentam um bom desenvolvimento”, afirmou a SLC em seu balanço.
A SLC afirmou que já adquiriu 100% dos fertilizantes necessários (fosfatados, cloreto de potássio e nitrogenados) para a safra 2024/25, além de 96% dos defensivos agrícolas.
No negócio de sementes, a meta é vender 1,4 milhão de sacas de 200 mil sementes de soja em 2025, avanço de 12% frente ao ano anterior. No algodão, a meta é de 145 mil sacas, alta de 1,2% frente ao ano anterior.
A empresa estima uma redução de 5,2% no custo médio por hectare em relação à safra anterior, principalmente devido à queda nos preços dos fertilizantes e defensivos. No hedge, a SLC estima que já travou 63,6% da produção de soja, 44% de algodão e 18% do milho em contratos futuros.
Para a safra 2025/26, que começa só em julho do ano que vem, a SLC já comprou 80% do cloreto de potássio e já travou 33,7% da soja.