Cali (Colômbia) - A poucos quilômetros da cidade de Cali, na Colômbia, a paisagem urbana vai dando espaço para plantações de cana-de-açúcar. Então, campos de feijão, mandioca e espécies forrageiras recebem os visitantes logo na entrada do Centro Internacional para Agricultura Tropical (CIAT, em inglês), no município vizinho de Palmira.
Inaugurado em 2021, o banco de sementes colombiano é um repositório destas três culturas e considerado um dos mais estratégicos polos de genética para agricultura da América Latina.
Nomeado Sementes do Futuro, o local contém espécies crioulas e silvestres de várias partes do mundo, visando a diversidade da matéria-prima, do alimento e a garantia de sustentabilidade de produtores rurais em diferentes partes do mundo.
Marcela Santaella, cientista do programa de Recursos Genéticos do Sementes do Futuro, é quem guia a visita pelo campus. Ela explica que o trabalho é feito com países que assinam o Tratado Internacional de Recursos Genéticos de Plantas para Agricultura e Alimentação. Atualmente, são 60 mil sementes no local.
“O que fazemos é conservar os recursos genéticos e a biodiversidade genética dos países signatários do tratado, então estas sementes estão sob custódia. Aqueles que são signatários do tratado permitem que estes recursos sejam acessados por qualquer país, pessoa ou instituição interessada em pesquisas sobre agricultura e alimentação”, diz.
A multiplicação de sementes é feita no campo e a cada colheita elas são encaminhadas para o laboratório para análise, classificação, separação e, finalmente, ao processo de plantio de mudas.
No caso de mandiocas ou gramíneas, voltam para o campo onde o local de estocagem é a própria natureza. No caso dos múltiplos tipos de feijão, são embalados e permanecem em uma câmara fria a -20°C, podendo ficar lá até 25 anos.
As pesquisas do CIAT também estão dedicadas para a relação entre as gramíneas para o gado e a capacidade das espécies sequestrarem carbono no solo.
Assim como no Brasil, na Colômbia há uma pressão sobre o setor da pecuária ser um dos maiores poluentes da atmosfera devido ao metano dos rebanhos.
Um projeto recém-lançado, com aporte do Bezos Earth Fund e da Bill and Melinda Gates Foundation, busca desenvolver forrageiras de baixo metano, cujo objetivo é reduzir em 1,5% as emissões globais do metano entérico até 2030. Para isso, os cientistas estão avaliando aproximadamente 6.000 sementes forrageiras disponíveis.
Embora o enfoque deste campus do CIAT esteja em feijão, mandioca e gramíneas para alimentação do gado, há outros bancos de sementes, como espécies florestais na Indonésia, cultivos para o semiárido na Índia, trigo e milho no México, batata no Peru, pecuária e agrofloresta no Quênia.
Independente da localização no planeta, o objetivo principal é fomentar diversificação dos alimentos e, com isso, ampliar a segurança alimentar das populações. Isso porque, de acordo com Marcela, a alimentação global está baseada em somente 20 espécies. “Poderíamos comer muito mais diversidade”, comenta.
Biodiversidade do solo
Compreender a capacidade de uma variedade genética sequestrar mais carbono e resultar em menos emissão de metano na alimentação do gado carece de análise de solo.
No CIAT, um laboratório próprio permite os pesquisadores avaliarem a profundidade das raízes das plantas e os macro e micronutrientes.
No entanto, as amostras ainda são poucas perto da necessidade de estudar o solo. Mais do que isso, discutir a biodiversidade do solo passa longe das discussões da COP16, realizada a poucos quilômetros dali.
O universo debaixo de nossos pés precisaria receber mais atenção, na avaliação de Jacobo Arango, cientista do programa de Forrageiras do CIAT.
Ele pondera dizendo que há avanços, à medida que os fungos entraram no debate da COP16 de forma mais incisiva já que esta é a maior rede de organismos vivos do planeta.
Dados mostrados no evento da ONU apontam a estimativa de 3,8 milhões de espécies de fungos, mas somente 4% deste número tem registros científicos formalmente.
Outro tema da COP16 relacionada à saúde do solo é a agroecologia. Isso porque, a monocultura ou a rotação limitada de culturas impacta à biodiversidade do solo, além de corroborar com um cardápio de pouca variedade aos sistemas alimentares.
“Os princípios da agroecologia podem ser incorporados em larga escala, é uma transição. A crise está chegando para todo mundo, então essa aproximação entre produtores de commodities e a variedade de cultivos da agroecologia está acontecendo por causa crise ecológica”, diz Matheus Zanella, coordenador de estratégias da Aliança Global pelo Comida do Futuro.
Esta integração de práticas de agricultura, ele diz, passa pelo “pacote tecnológico de insumos”, embora “nunca tenha havido nada parecido para agroecologia sistemas agroflorestais”. Neste sentido, Zanella acredita que a agenda de bioinsumos possa fomentar a agroecologia e, consequentemente, a biodiversidade no solo e na alimentação.