Na tarde da sexta-feira, 18 de outubro, o presidente-executivo da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR), Francisco Medeiros, aproveitou a agilidade das redes sociais para noticiar uma importante conquista para as exportações nacionais de filé de tilápia. Na opinião do dirigente, um divisor de águas para a piscicultura nacional.

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) emitiu um comunicado extinguindo a obrigatoriedade da emissão do Certificado Sanitário Internacional (CSI) para o Brasil exportar filé de tilápia aos Estados Unidos.

O entusiasmo de Medeiros ao dar a notícia é mais do que justificável. Do ano passado para cá, o Brasil passou de quarto para segundo maior exportador de filé de tilápia para o mercado norte-americano, que é o maior comprador do produto. O Brasil é também o quarto maios produtor mundial do pescado, com mais do 8% do volume global.

Segundo dados da PeixeBR, entre os meses de janeiro e setembro de 2024, a piscicultura nacional enviou 3.116 toneladas, o que representa 24% das importações dos Estados Unidos.Sem a necessidade da emissão do CSI, haverá um impacto direto no aumento dessas exportações, no curto, no médio e no longo prazos, segundo Medeiros.

“Com menor burocracia e risco, mais empresas vão entrar no mercado de exportações, bem como as atuais aumentarão os volumes que exportam”, disse o dirigente ao AgFeed. “Em 2025, seremos os maiores fornecedores de filé de tilápia para os Estados Unidos, ultrapassando a Colômbia.”

O presidente da PeixeBR explica que o principal problema em relação ao CSI diz respeito ao tempo de entrega do pescado. Após o peixe ser retirado da água, há um prazo de 48 horas para que o filé chegue aos Estados Unidos.

A emissão do CSI é feita pelo Mapa e, nos finais de semana, pela Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro). “Porém, em função da carga de trabalho dos auditores fiscais, muitas vezes não era possível embarcar o produto no tempo correto”, afirmou Medeiros. “Com isso, além do frete aéreo contratado, perdia-se também a negociação com o importador.”

Medeiros faz questão de ressaltar que a conquista é coletiva. Começou pela identificação de oportunidade da PeixeBR, pelo lado do Brasil, que teve o apoio também das autoridades nacionais e norte-americanas.

A PeixeBR, a partir da demanda e do suporte das empresas associadas, buscou o parecer jurídico de advogados dos Estados Unidos que identificaram não haver a necessidade do CSI, pois, de acordo com os procedimentos do país, o filé de tilápia é monitorado pelo Food and Drug Administration (FDA) e não pelo United States Departament of Agriculture (USDA).

“Com essa informação, fomos ao Mapa, inicialmente por meio do secretário adjunto da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA), Allan Alvarenga, que sinalizou positivamente pelo andamento do processo”, disse Medeiros.

O assunto foi levado à adido agrícola do Brasil nos Estados Unidos, Ana Lucia de Paula Viana, que deu sequência com o FDA.

Esse trajeto deixa claro quão ampla deve ser a atuação dos representantes de qualquer segmento agropecuário para conquistar mercado, sobretudo os mais exigentes e que oferecem o melhor retorno.

A participação das indústrias nessa ação conjunta vem muito de sua capacidade empreendedora, que inclusive já gerou aumento de 440% nas exportações nos últimos cinco anos.

Novo cenário nas exportações

A redução da burocracia abre também uma perspectiva de recuperar índices de queda em volume de exportação de tilápia. Exceto o Paraná, principal exportador do pescado, os demais estados tiveram retração em volume no ano passado, em comparação com 2022. Apenas São Paulo também avançou em faturamento.

Segundo análise da Embrapa Pesca e Aquicultura, publicada no Anuário PeixeBR, em 2023 os paranaenses responderem por 80% das exportações totais de tilápia, com 5.305 toneladas e US$ 18,6 milhões – aumento de 15% e 42%, respectivamente. Já os paulistas exportaram 629 toneladas (-26%), com faturamento de US$ 2,7 milhões (+9%).

Em relação aos destinos, os Estados Unidos predominam, consumindo 91% das exportações brasileiras de tilápia (todos os produtos). Em 2023, foram mais de 5 mil toneladas e US$ 21,2 milhões. Na sequência, aparece a China, com 612 toneladas e US$ 673,7 mil.

O Japão é o terceiro em cifras, com US$ 493,2 mil, e o quarto em volume, com 169 toneladas. Taiwan é o inverso nessas posições: é o quarto em investimento (US$ 334,8 mil) e o terceiro em volume (464 toneladas).