Mais de 38 anos de empresa e apenas seis semanas no cargo de CEO. O francês Laurent Freixe conhece a Nestlé como poucos e, por isso, não perdeu tempo na tentativa de deixar sua marca à frente da empresa.
Ele quer uma empresa mais ágil, movendo-se mais rápido e, sobretudo, votando a crescer em taxas mais altas. E, por isso, concentrou seus primeiros 45 dias no comando da maior empresa de alimentos do mundo na elaboração de um plano de reestruturação, revelado nesta quinta-feira, 17 de setembro.
Suas primeiras medidas mexem na alta gestão da companhia, que ficará mais enxuta. Ele anunciou que pretende montar um conselho executivo mais jovem e com menos integrantes.
E decidiu fundir operações como as das Américas do Norte e Latina, que passarão a ser uma só unidade, e incorporar os negócios da divisão Grande China no bloco chamado de AOA (Ásia, Oceania e África).
A partir de agora, os líderes de unidades reportarão diretamente a ele. “Acredito firmemente que uma estrutura geográfica menor e mais ágil proporcionará mais velocidade, melhor trabalho em equipe e mais alinhamento”, disse Freixe em conversa com analistas.
Freixe também informou que está fazendo uma revisão do portfólio de produtos, o que, na visão de alguns analistas, poderia levar até mesmo à venda de ativos e negócios.
O novo CEO assumiu no final de agosto, após a renúncia repentina de Mark Schneider, um ex-executivo da área de Saúde que permaneceu oito anos no cargo. Entregou a companhia com o menor nível de crescimento em décadas.
Freixe não dourou a pílula. Admitiu que as previsões para 2024 feitas por seu antecessor – que já não eram das mais promissoras – não serão atingidas. Assim, mesmo com 31 marcas bilionárias em seu portfólio, a Nestlé deve crescer apenas 2% este ano, contra 3% estimados em julho e 4% previstos em janeiro passado.
Ao jornal britânico Financial Times, o CEO explicou que sua estratégia passa por trazer mais dinamismo às decisões e, assim, restaurar o clima interno e externo em torno da empresa, que apresentou desempenho inferior a outras gigantes de bens de consumo, como Danone e Unilever.
“Temos uma pegada tremenda. Somos os mais globais e, de certa forma, os mais locais”, disse. “A Nestlé não está quebrada, a Nestlé está de pé e funcionando. E garantiremos que todo esse potencial seja realizado daqui para frente.”
Um dos pontos mais criticados da gestão Schneider foram as decisões de manter preços elevados de seus produtos após a pandemia, acreditando no poder de suas marcas. Muitos consumidores, entretanto, decidiram trocá-las por outras mais acessíveis e as vendas entraram em declínio.
Jean-Philippe Bertschy, analista da Vontobel, comparou a Nestlé a um “superpetroleiro” ao avaliar como será difícil ao novo comandante retomar o rumo do crescimento mais rápido.
“A prioridade para a nova equipe de gestão agora é trazer a Nestlé de volta às suas raízes e ao que ela faz de melhor: marketing e conexão com os consumidores.”
Os cortes nas previsões decepcionaram, obviamente, os investidores e, nas primeiras horas após o anúncio da reestruturação, as ações da companhia chegaram a ter quedas expressivas.
Ainda na quinta-feira, porém, a diretora financeira da Nestlé, Anna Manz, entrou em cena para garantir que, apesar de a empresa estar prevendo investimentos para acelerar o crescimento em 2025, isso não deveria afetar de forma significativa as expectativas de lucros no próximo ano.
Ao final do dia, os papeis reagiram e registraram alta de 2,7%. No ano, o desempenho permanecia negativo em 12%.