Há pouco mais de um ano, Wolney Arruda, fundador e CEO da Plantae Agrocrédito, previa crescer dois dígitos na originação e na carteira de crédito da instituição. Na época, em junho passado, a empresa havia acabado de passar por um aumento de capital, e mesmo com safra já vista como mais difícil, olhava com otimismo para os números.
Passados os meses seguintes, as dificuldades climáticas, financeiras e o contexto de preço dos grãos em baixa adiaram alguns planos mais ambiciosos da companhia com sede em Presidente Prudente (SP), que se apresentava como “banco do consignagro”.
A empresa encerrou o ano com uma carteira de crédito próxima aos R$ 200 milhões. Foi um crescimento de 25% frente aos R$ 160 milhões de 2022, mas abaixo dos R$ 250 milhões que havia projetado.
Com o mercado menos favorável, as metas para 2024 vieram bem mais modestas. A ideia é crescer 10%, e atingir um patamar de R$ 220 milhões.
Na originação, depois de fechar 2022 com R$ 320 milhões, a projeção era atingir R$ 420 milhões ano passado, mas a Plantae fechou com R$ 350 milhões. Neste ano, a expectativa é atingir R$ 380 milhões.
“Vamos crescer organicamente numa intensidade menor, reduzindo o ritmo e sem parcerias com três grandes instituições financeiras que estávamos projetando para esse ano. Ao mesmo tempo, com uma inadimplência ainda em 0,4% na carteira”, afirmou o CEO.
A ideia era firmar parcerias com grandes empresas do segmento financeiro que não possuem forte atuação no agro, mas que gostariam de ter. A tempestade perfeita que o setor viveu fez essas companhias colocarem o projeto em stand-by, explica Arruda.
Paralelo ao cenário de crescimento mais tímido, Wolney Arruda revelou que a empresa está num momento de diversificação de receitas.
A empresa acabou de firmar uma parceria com a Swiss Re, uma das maiores companhias de seguros e resseguros do mundo, e passará a oferecer os produtos da companhia suíça voltados ao agro para seus clientes.
“Estamos lançando oficialmente a Plantae Seguros e vamos oferecer produtos direcionados para o agro e para o produtor rural, como seguro de lavoura, silo, galpão, maquinário e colhedeiras”, contou Arruda.
A estratégia da Plantae é mitigar o risco tanto para o produtor quanto para o banco, explicou o CEO. “O nosso cliente na ponta final é o produtor pequeno e médio, que já demanda recurso financeiro para nós. Para mitigar os riscos dele e fazer com que o recurso volte para a Plantae, entramos nesse segmento”, afirma.
Além disso, Arruda revelou que a Plantae também está oferecendo um serviço de monitoramento de lavouras, através de uma parceria com a Inspectral. O banco adquiriu 36% da companhia, que traz dados históricos e prognósticos para produtores através de uma tecnologia com IA.
A Inspectral não atua só no agro. Também monitora linhões de energia para a Eletrobrás e a qualidade de nascentes de água para a Ambev.
A tecnologia da empresa permite, além do monitoramento, alertas de incêndios, que funcionam como garantias tanto para a Plantae quanto para as agroindústrias parceiras. No modelo de negócio, empresas que compram de pequenos produtores indicam a eles a Plantae como agente financeiro.
“Conseguimos saber como está a performance e a entrega para a agroindústria via monitoramento de satélite. Começou a colher? Recebemos o aviso. Colheu uma certa quantidade? Também recebemos”, afirma.
Nessas parcerias, a Plantae atende produtores que vendem para companhias como Marfrig e Minerva, no setor de proteínas, Cocal, Tereos e Raízen, no sucroenergético, Citrosuco, nos citros, Bracel e Arauco, em papel e celulose, além de Bunge, Cargill, Amaggi e LDC nos grãos.
Outra novidade é que a Plantae está prestes a fechar um contrato com uma instituição para oferecer operações de derivativos para o produtor.
“Já ofereço crédito, seguro e monitoramento e agora ajudo ele a travar preços em patamares que ele ache satisfatório. Se houver uma quebra, ele estará protegido”.
De acordo com Arruda, os novos serviços têm tido boa aceitação com os clientes produtores da ponta final e as agroindústrias parceiras. Hoje, ele estima que são 500 produtores rurais na base ativa de clientes da Plantae, sendo que a maioria (60%) cultiva cana.
Os outros 40% estão divididos entre pecuária, grãos, citricultura e produtores de leite. A companhia atua em todo estado paulista, norte do Paraná, sul do Mato Grosso do Sul, sul de Minas Gerais e Goiás. Mais recentemente, passou a ter um representante em Sinop (MT).
O perfil do cliente atendido pela Plantae é aquele que fatura até R$ 50 milhões por ano. Os valores concedidos vão normalmente de R$ 500 mil a R$ 800 mil por CPF, mas o limite chega a R$ 3,5 milhões.
A companhia também atua com produtores de eucalipto, principalmente na estratégia de “consignagro”. A linha é voltada para fazendeiros que arrendam terras, e que querem investir em outras atividades além do agro.
“O cara do consignagro está na praia, viajando. Não é um produtor, mas um dono de terras. A demanda é menor, mas existe”, afirmou.
Segundo ele, a carteira total conta com 20% nessa linha, mas se dependesse de Arruda, a Plantae só atuaria com o consignagro.
“É um produto que trabalhamos muito em termos de divulgação, de marketing”.
A Plantae possui 23 anos de vida, mas até 2021 atuava como instituição de fomento, a chamada factoring. Há três anos, conseguiu autorização do Banco Central para atuar como banco.
Hoje, o funding para o crédito concedido pela Plantae é captado no mercado via operações de LCA, distribuído em plataformas digitais da XP, BTG e Nubank, por exemplo. A empresa cogita, no futuro, atuar com linhas subsidiadas.