Na corrida do etanol de trigo no Rio Grande do Sul, um player importante ficou para trás.

Após ensaiar o movimento, a Cotrijal, maior cooperativa agropecuária gaúcha, baseada em Não-Me-Toque, a 282 quilômetros de Porto Alegre, resolveu engavetar de vez um projeto de R$ 300 milhões para a instalação de uma usina produtora do biocombustível.

O empreendimento chegou a ser anunciado em 2022, com produção esperada de 70 milhões de litros de etanol por ano e começo de operação previsto, na época, para o fim de 2024.

A entidade agora deve entrar em uma indústria de extração de óleo de soja, que será erguida em parceria com as cooperativas Cotripal, de Panambi, e Cotrisal, de Sarandi, segundo informou a assessoria de imprensa da Cotrijal à reportagem do AgFeed. O anúncio oficial deve ser feito em meados de outubro.

Em entrevista à Rádio Sarandi no começo do mês, o presidente da Cotrisal, Walter Vontobel, disse que o investimento total deve girar entre R$ 700 milhões a R$ 900 milhões.

Ainda segundo Vontobel, está pendente a localização da futura indústria, que ainda depende de um estudo de viabilidade econômica, que está sendo feito neste momento.

A ideia é que as cooperativas, todas do Norte gaúcho, trabalhem um modelo de central.

"Ainda temos um espaço no Rio Grande do Sul para desenvolver essa atividade de extração de óleo e o produto nós temos: as três cooperativas poderão suprir essa indústria em torno de 60%, 70%, da necessidade de soja que nós podemos botar nessa indústria para trabalhar", afirmou Vontobel.

No começo do ano, a Cotrijal já havia dado indícios de que pensava em desistir do projeto do etanol de trigo.

O presidente da cooperativa, Nei Mânica, admitiu ter dúvidas sobre o empreendimento em uma entrevista concedida em janeiro ao Jornal do Comércio, de Porto Alegre.

"O momento é de avaliarmos a viabilidade deste projeto. Há uma multiplicação de projetos para produção de etanol a partir de grãos no Estado, mas não temos a certeza da viabilidade do trigo e dos grãos de inverno para este objetivo e também precisamos reavaliar possíveis parceiros financeiros. Em 2023, por exemplo, houve uma quebra do grão. Não podemos, como cooperativa, arriscarmos com um investimento tão elevado", afirmou Mânica à publicação.

A mudança de foco da Cotrijal acontece no mesmo momento em que as primeiras estruturas que vão produzir o biocombustível começam a sair do papel no Rio Grande do Sul, conforme publicou o AgFeed em agosto.

O empreendimento mais adiantado é o da empresa CB Bioenergia, localizada em Santiago (RS), que deve ficar pronta em dezembro deste ano.

O projeto do empresário e produtor rural Cássio Bonotto está sendo construído desde 2022, exigiu um investimento de R$ 100 milhões e vai produzir 13 milhões de litros de etanol hidratado por ano, visando atender o mercado de aviação agrícola.

Em paralelo, a Be8, maior produtora de biodiesel do país, começou a erguer sua usina no mês passado, em Passo Fundo.

A estrutura vai ter capacidade de produção de 220 milhões de litros por ano e tem previsão de começar a operar em 2026.

O projeto vai receber um investimento total de R$ 1 bilhão – boa parte vindo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), responsável por um financiamento de R$ 729,7 milhões.

E a FZ Bioenergia, que tem como sócios o ex-prefeito de Porto Alegre José Fortunati e o engenheiro agrônomo Valdir Zonin, quer erguer em Viadutos uma usina com capacidade de produção de 150 milhões de litros de etanol por ano, num investimento de R$ 800 milhões e início da operação previsto para o segundo semestre de 2026.