Um dos movimentos mais comentados - e mais temidos - pelo mercado se concretizou pouco antes do fechamento do pregão desta quarta-feira, 18 de setembro. Exatamente às 16h35, o AgroGalaxy, um dois maiores grupos distribuidores de insumos agrícolas do País, informou à CVM que havia protocolado, minutos antes, um pedido de recuperação judicial "em caráter emergencial", com o objetivo de ganhar tempo e buscar alternativas para a quitação de dívidas.

"O AgroGalaxy tentou, de todas as formas, evitar recorrer à Justiça, mas a medida é necessária para proteger o negócio e, mais importante, permitir que a empresa siga trabalhando lado a lado com os agricultores", afirmou, através de nota, Eron Martins, recém-empossado CEO do AgroGalaxy.

Segundo a companhia, a decisão de recorrer à RJ deveu-se ao "vencimento antecipado de certas operações financeiras, visando a proteção de seus ativos e de suas investidas e para viabilizar a readequação de sua estrutura de capital frente aos desafios do agronegócio brasileiro".

Nesta mesma quarta, a empresa deveria saldar um montante estimado em R$ 70 milhões como amortização a investidores de um CRA de R$ 500 milhçoes emitido pela companhia, com vencimento em 2027. Com dificuldades de caixa para saldar o compromisso, os sócios do Aqua Capital, controlador da empresa, que durante meses buscaram saídas financeiras, decidiram buscar o caminho jurídico.

A decisão explica outro comunicado do AgroGalaxy, este feito pela manhã,  informando a renúncia do CEO, Axel Labourt, e de cinco dois sete integrantes do Conselho de Administração da companhia, entre eles Welles Pascoal, homem de confiança do Aqua e por duas vezes CEO da empresa.

Labourt foi substituído por Eron Martins, até então CFO da empresa. Segundo o Fato Relevante publicado à tarde, caberá a Martins a execução de um novo plano de reestruturação dos negócios do AgroGalaxy, cujos detalhes não foram explicitados.

"O AgroGalaxy também adotará medidas adicionais para aumentar sua eficiência operacional com base na diminuição de custos fixos, melhoria do mix de produtos, além da otimização do capital de giro, com foco em estoques e recebíveis, tudo para assegurar a sustentabilidade da companhia no médio e longo prazo", diz a nota.

“Conduziremos todo o processo sempre com muita transparência e respeito a todos os envolvidos, especialmente os produtores rurais. Estamos seguros de que as relações estabelecidas com nossos clientes e fornecedores nos darão a base necessária para enfrentar este desafio, bem como seguirmos fortalecendo o agronegócio brasileiro”, diz, em vrase atribuída a Martins.

Contratado há pouco mais de um ano, Martins esteve à frente das principais medidas adotadas na tentativa, agora frustrada, de evitar a RJ, entre elas o fechamento de 19 lojas, a demissão de mais de 180 pessoas e uma série de operações financeiras que deram fôlego apenas temporário à companhia.

Em março passado, por exemplo, ele liderou a negociação com credores e conseguiu um acordo para um waiver, cujo objetivo era impedir o pedido de antecipação de vencimentos de dívidas. Ao longo do último ano, o Aqua também fez seguidas injeções de capital e empréstimos à empresa.

"Prejuízo enorme"

Desde o início da manhã, com o anúncio da mudança de comando da companhia, as especulações em torno da RJ, que várias vezes rondaram o grupo, voltaram com ainda mais força. O AgFeed ouviu, ao longo do dia, credores e analistas, mas ninguém se arriscava a estimar o impacto de uma eventual busca de proteção na Justiça.

Os números do AgroGalaxy, citados pelo próprio grupo no seu comunicado, indicam o potencial do baque. Segundo a empresa, sua rede de distribuição tem mais de 30 mil clientes, somando mais de 8 milhões de hectares cultivados. A receita líquida, em 2023, foi de R$ 9,3 bilhões.

O dado não citado é o da dívida total do grupo. No mercado, esse valor é estimado em R$ 1,5 bilhão. "O prejuízo é enorme", afirmou o diretor de uma gestora de investimentos. "Não apenas para os credores, mas para toda a indústria de investimentos, que vinha dando sinais de recuperação. A tempestade voltou!"

Um dos segmentos mais atingidos deve ser o de Fiagros. Um levantamento feito pelo AgFeed apontou que pelo menos seis fundos tinham papéis emitidos pelo AgroGalaxy em suas carteiras. São eles:

  • XPCA11, da XP Investimentos: 8,2% do patrimonio líquido está distribuído em 3 CRAs do AgroGalaxy. O PL do fundo é de R$ 431,6 milhões, segundo o último relatório gerencial;
  • JGPX11, da gestora JGP: 8% do patrimônio líquido de R$ 203,7 milhões vêm de um CRA do AgroGalaxy;
  • CPTR11, fundo agro da Capitânia Investimentos tem um PL de R$ 405 milhões e 7% de exposição a AgroGalaxy;
  • XPAG11, outro Fiagro da XP, que possui 3 CRAs do AgroGalaxy, compondo 6,2% do PL de R$ 1,4 bilhão;
  • BBGO11, Fiagro do Banco do Brasil de R$ 391 milhões e 4,7% de exposição em quatro CRAs do AgroGalaxy;
  • AAZQ11, fundo da gestora AZ Quest, investiu em um CRA do AgroGalaxy. O PL é de R$ 208 milhões e a exposição ao papel da distribuidora de insumos é de 0,39%.

Na B3, os papéis do AgroGalaxy, que já eram negociados a valores baixos, recuaram mais de 13%, fechando o dia a R$ 0,98.

Com reportagem de Gustavo Lustosa.