A AgroGalaxy tem um novo CEO. A notícia foi confirmada pela empresa em um fato relevante divulgado ao mercado na manhã desta quarta-feira, 18 de setembro, causando surpresa não apenas pela alteração de comando - a terceira em pouco mais de um ano -, mas pela extensão das mudanças.
A companhia pontuou no documento arquivado na CVM que o até então diretor presidente, Axel Jorge Labourt, renunciou ao cargo. Ele também deixará os postos no comitê de sustentabilidade, comitê de pessoas e comitê financeiro.
Com isso, Eron Martins, atual CFO e diretor de relação com os investidores, foi eleito CEO da empresa, acumulando os três cargos de forma interina. Martins já foi CFO da Lavoro e ingresssou na AgroGalaxy em agosto do ano passado.
Desde então, ajudou a articular, juntamente com o Aqua Capital, controlador da empresa, uma ampla reestruturação interna, envolvendo operações financeiras e enxugamento de equipes, para ajudar a empresa a atravessar uma crise provocada pela retração do mercado de insumos agrícolas.
Martins era uma espécie de braço-direito de Axel Labourt, que havia assumido o posto máximo da AgroGalaxy em fevereiro deste ano, já no escopo da reestruturação. Nesse período, ao lado de Labourt, foi o principal porta-voz da empresa, que optou por uma postura transparente em relação ao endividamento e desafios enfrentados.
Labourt, por sua vez, sucedeu a Welles Pascoal, um dos líderes do IPO e primeiro CEO da empresa, que havia voltado em julho com a missão de comandar essa reestruturação.
O FR não aponta os motivos da renúncia de Labourt. Mas indica a possibilidade de mudanças mais profundas na gestão da empresa.
Isso porque, além da direção executiva, atingirá o conselho de administração. Cinco conselheiros também renunciaram, segundo nota. A lista começa pelo próprio Pascoal, mas se estende a Maurício Luchetti, Eduardo Terra, Benildo Teles e Larissa Pomerantzeff.
Procurada pela reportagem do AgFeed, assessoria da AgroGalaxy informou inicialmente que a empresa se manifestaria, por enquanto, apenas através do comunicado.
(Atualização às 17h41: Ao final do dia, em outro fato relevante, a empresa anunciou que havia ajuizado um pedido de recuperação judicial. Leia aqui a reportagem)
Na vitrine da crise
O AgroGalaxy foi o primeiro grupo a tratar publicamente do momento difícil enfrentado pelo setor de distribuição de insumos no Brasil. Pego com estoques muito altos ao mesmo tempo em que preços de commodities e dos próprios insumos caíam de forma rápida, a empresa admitiu, já no início de 2023, que teria de enfrentar um período de retração no caixa das empresas.
Nessa época, a empresa era comandada pela executiva Sheilla Albuquerque, que havia sido guindada ao cargo de CEO em agosto de 2022, a convite de Welles Pascoal. Antes de assumir o posto, Sheilla ocupava o posto de vice-presidente para as regiões Sul e Sudeste, ESG e Marca Própria do AgroGalaxy.
Entretanto, em julho do ano passado ela se afastou da empresa em função de uma licença médica e deixou o cargo. O Aqua Capital decidiu, então, trazer de volta Pascoal ao comando do grupo. O executivo, que havia iniciado uma empreitada produzindo vinhos, decidiu acumular as funções.
O retorno de Pascoal à empresa surpreendeu até mesmo pessoas próximas a ele. Com o objetivo de equancionar o endividamento e redimensionar a empresa à nova realidade de mercado, ele iniciou um processo que incluiu o fechamento de lojas e a demissão de funcionários.
Para ajudá-lo, chamou à AgroGalaxy o antigo parceiro Axel Labourt, ex-diretor comercial da Dow Agrosciences e com passagem pela Corteva, e Eron Martins.
Em fevereiro deste ano, Pascoal deixou novamente o posto de CEO e deu lugar justamente a Labourt. Em seu último comunicado público como CEO, Pascoal afirmou que a mudança seria o último passo de uma longa etapa de ajustes feitos na empresa desde que voltou a posto, em junho do ano passado.
"Concluímos a primeira etapa de um plano que foi executado para construir uma empresa com estrutura capaz de atravessar esses períodos conturbados que o agro tem enfrentado", disse na época.
Labourt recebeu de Pascoal uma empresa mais enxuta e reestruturada em várias frentes. A última etapa das mudanças no AgroGalaxy, anunciadas em fevereiro, foram ajustes no organograma da organização, com a readequação da estrutura de negócios em cinco vice- presidências regionais, a redução de dois niveis hierárquicos entre o CEO e as equipes de vendas e a supressão de 80 posições dentro das equipes. No total, 19 lojas do grupo foram fechadas.
Além disso, a companhia negociou com credores um waiver, mecanismo que a dispensou formalmente de cumprir todos os indicadores exigidos em operações de CRAs, evitando, assim, que eles solicitassem o vencimento antecipado de dívidas.
No mês seguinte, ao divulgar o balanço anual da empresa com os resultados de 2023 - que apontou queda de 19% na receita (R% 9,4 bilhões) e de 36% no lucro ajustado (R$ 1 bilhão), Labourt e o então CFO Eron Martins pontuaram ao AgFeed que o pior havia ficado para trás e que o momento era de olhar para frente e buscar melhores resultados.
Ao longo de toda a gestão, o Aqua Capital aportou recursos que ajudaram a recompor o capital de giro da empresa. Um aumento de capital de R$ 162 milhões (sendo R$ 150 milhões do controlador) e uma sequência de operações de mútuo (renovados três vezes) foram importantes para reequilibrar as finanças da empresa.
Há cerca de um mês, o discurso otimista foi a tônica no último encongtro da dupla Labourt-Martins com jornalistas. Mesmo com números negativos no balanço do segundo trimestre de 2024 (queda de 42% da receita), eles já falavam em recuperação do mercado.
O novo CEO registrou, então, que as economias com a reestruturação já somavam R$ 180 milhões e que o nível de estoques da empresa haviam voltado a patamares "saudáveis". Mais do que isso, ambos enchergavam uma retomada das vendas, apontados indicadores que, nas palavras de Labourt, indicavam que "o momento da virada está chegando".
As guinadas que vieram, entretanto, foram a mudança radical no comando e a recuperação judicial.