Nas contas de Gustavo Horbach, diretor-presidente da Eurochem na América do Sul, há 40 anos nenhum investimento para produção local de fertilizantes era feito no Brasil.
Foi um longo jejum de projetos que só foi interrompido em março, quando a empresa multinacional de origem russa mas que hoje tem controle suíço, inaugurou o Complexo Mineroindustrial de Serra do Salitre, em Alto Parnaíba (MG).
Com investimentos que ultrapassam US$ 1 bilhão, a empresa vai produzir e colocar no mercado, a partir do ano que vem, 1 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados, algo equivalente a 15% de todo consumo nacional do produto.
Passado esse momento, a Eurochem olha para a frente, e segundo Horbach, o foco da empresa está em fazer com que todas as operações da companhia no Brasil atinjam sua capacidade máxima. “Com esses ativos, vamos entregar toda essa capacidade produtiva para o mercado”.
Além da Salitre Fertilizantes, a Eurochem é dona da Fertilizantes Tocantins e da Fertilizantes Heringer. Contando com o novo investimento, ele estima que a empresa, com sua estrutura de misturadoras, deverá distribuir neste ano cerca de 7 milhões de toneladas de fertilizantes.
“A ideia é fazer que os ativos operem na capacidade máxima para que a gente consiga misturar e entregar mais”. Gustavo Horbach não tem ideia do quanto a capacidade pode ir, mas acredita em ultrapassar as 8,5 milhões de toneladas.
A Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos) estima que o mercado nacional de fertilizantes chegue às 45 milhões de toneladas, o que faria a Eurochem buscar uma fatia próxima aos 20% do total. Para continuar esse crescimento, o executivo disse que não descarta, no futuro, algum novo investimento na parte industrial.
“Não descarto que tenhamos algum investimento na indústria. O DNA da empresa é de produção industrial”, afirmou.
Com essa produção em perspectiva de alta, a Eurochem atua em paralelo para fortalecer sua estratégia comercial. Em abril, contratou Maicon Cossa para o cargo de vice-presidente comercial da Eurochem Brasil, um executivo que passou quase 20 anos na Yara em posições de liderança.
“O Maicon está aqui para garantir que o portfólio chegue na ponta do produtor rural. Esse agricultor precisa entender que somos o parceiro dele e que ele é nossa razão de existência enquanto empresa”, pontuou Gustavo Horbach.
Cossa afirmou ao AgFeed que o portfólio de produtos da Eurochem consegue atender os principais cultivos agrícolas do País, e que o desafio é aumentar o mercado em regiões de menor atuação.
“Hoje, estamos focados e concentrados em mercados que nossa condição logística nos permite atender de forma mais eficiente. Queremos maximizar a capacidade de produção dos ativos onde eles tenham vocação para serem mais competitivos. O desafio do setor de fertilizantes no Brasil é a logística”, afirmou Cossa.
Atualmente, ele conta que a Eurochem é mais forte no Cerrado, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Norte. Com isso, há espaço para crescer principalmente no Sudeste e no Sul.
Atraso nas vendas
A companhia é forte nos fosfatados e, na foto do momento, acompanha o atraso visto no mercado de insumos no ritmo de comercialização.
De acordo com dados da Anda referentes ao mês de maio deste ano, o último período divulgado, o ritmo de entrega de fertilizantes estava 10% mais lento que no ano passado. Nas importações, o atraso era de 4%.
Em uma entrevista recente ao AgFeed, o presidente do conselho de administração da Anda e também Country Manager da Mosaic no Brasil, afirmou que o ritmo lento na compra dos insumos para a próxima safra segue como marca registrada de 2024.
Segundo Monteiro, as vendas de fosfatados ficaram até mais atrasadas que o restante dos insumos, já que o preço do MAP (principal fosfatado usado na soja) estava em forte alta.
Um relatório setorial produzido por Leonardo Alencar, head de agro, alimentos e bebidas da XP, pontuou que esse avanço no preço do MAP foi causado por uma escassez de exportação da China, um dos principais fornecedores de produtos fosfatados do mundo, e que encontra uma demanda doméstica maior que o esperado.
“Esses fatores têm restringido a formação de estoques e diminuído a pressão sobre os fornecedores para aumentar as vendas internacionais. As agências do setor estimam que as exportações de MAP da China devem cair 20% em 2024”, afirmou Alencar, em relatório distribuído aos clientes da XP no final de julho.
“Isso, combinado com a queda nos preços dos grãos, piorou a acessibilidade desses fertilizantes, atrasando ainda mais as compras de insumos em todo o mundo”, acrescentou o analista.
Na Eurochem, o atraso está em linha com o restante do mercado, segundo Maicon Cossa. Além da dificuldade logística, ele cita a rentabilidade dos produtores como peça-chave nesse atraso. “Na Eurochem, o que podemos fazer é garantir que os clientes recebam o produto no tempo acordado. A expectativa é de um mercado parecido com o do ano passado, que implica em um resultado concentrado nos últimos meses do ano”.
A Eurochem completará 23 anos de existência no próximo dia 30, o que a torna um player jovem no mercado de fertilizantes quando comparada à centenária Yara, por exemplo. No Brasil, a companhia atua desde 2016 quando comprou 51% da Fertilizantes Tocantins, dona de nove fábricas no Nordeste e Centro-Oeste do País. Os outros 49% foram comprados em 2020.
Nos últimos oito anos, Horbach estima que a Eurochem já investiu US$ 3 bilhões no País, e mostra apetite para mais. “O Brasil é para qualquer empresa do agro e de fertilizantes, sempre um mercado promissor”, afirmou o executivo, que conversou com o AgFeed durante o Congresso Brasileiro de Fertilizantes, organizado pela Anda.
“A ideia é que a Eurochem esteja cada vez mais presente no agro brasileiro, e não é à toa que o nosso presidente global, Oleg Shiryaev, está aqui nessa semana, olhando in loco e vendo o tamanho da pujança do setor. Fazemos isso para ter ainda mais investimentos no futuro”, contou Gustavo Horbach.