Gerrit Marx não é de fugir de desafios. Executivo com currículo extenso e experiência no comando de grandes grupos, ele costuma chamar para si as questões mais espinhosas e não se acanha em tomar decisões que sacodem as estruturas corporativas.

Depois de passagens pelas consultorias McKinsey & Company e Bain Capital e por posições de liderança em montadoras de veículos comerciais - Daimler, Volkswagen e a Iveco, fabricante de caminhões pertencente ao grupo CNH, ele respondeu a um chamado e, de casa nova há pouco mais de um mês, está mostrando seu estilo.

Desde o início de sua gestão, Marx deixou claro que usará todo o seu repertório como CEO da própria CNH, dono das marcas Case e New Holland. Mesmo vindo de outras indústrias e não ter experiência prévia com o agro, uma de suas primeiras decisões no posto foi colocar o segmento de máquinas agrícolas como foco principal da companhia – que também tem forte atuação em equipamentos para construção civil.

E reviu o plano de reestruturação anunciado recentemente por seu antecessor, Scott Wine, para deixar bem claro o que isso significa: ele decidiu recriar postos executivos intermediários da gestão da empresa que haviam sido extintos e, mais importante que isso, comunicou que ele próprio acumulará a função de chefe da divisão agrícola da companhia, enquanto a de construção terá um diretor responsável.

Além das ações, Marx fez questão de deixar mais clara a sua visão com palavras. Dias depois de assumir o cargo, no fim de julho Marx apresentou os resultados globais da CNH no segundo trimestre. E eles não foram bons.

A receita caiu 16% em relação ao mesmo período de 2023. As vendas de máquinas agrícolas puxaram o resultado para baixo, com queda de 20%. A empresa já previa vender entre 10% e 15% menos em 2024; agora, refez a previsão para 15% a 20%.

Em cartas a investidores, o novo CEO passou um discurso otimista. “Estou impressionado com o foco em acelerar nossas ofertas tecnológicas”, disse Marx na carta aos investidores. “Estou confiante no nosso sucesso”.

Ele manteve o plano de cortes de funcionários iniciado na gestão anterior, mesmo com a recriação de alguns postos de gerência e direção, para se cercar de mais gente que conhece o negócio que elegeu como prioritário.

É o caso das funções Chefe de Qualidade, Customer Advocacy Officer e Chief Sustainability Officer, que ficarão a cargo de Chun Woytera, presidente da CNH na região Ásia e Pacífico.

Com capacidade ociosa no mundo inteiro, as fábricas estão em compasso de espera. Em abril, a CNH anunciou o desligamento de 200 funcionários nos Estados Unidos, além de planos de transferir as vagas para o México. No Brasil, a empresa vai interromper em setembro a fabricação de colheitadeiras, plataformas e tratores na fábrica de Curitiba.

Marx elegeu para sua gestão quatro pilares principais, que apresentou publicamente em uma conferência com analistas e jornalistas na semana passada. A partir deles, pretende deixar sua marca na recuperação da CNH. Confira:

Agro
“O conselho e eu concordamos em simplificar ainda mais nossa governança ao designar a agricultura como o core business da CNH e meu foco principal.

Continuaremos, obviamente, a nutrir as sinergias com a construção. Mas precisamos reconhecer que a agricultura é e continuará sendo nosso terreno principal.

Ao permitir que nosso negócio de construção funcione de forma mais autônoma e explore caminhos opcionais em seu mapa estratégico, capacitamos para desbloquear ainda mais valor enquanto mantemos seus benefícios sinérgicos com a agricultura.”

Índia
“Eu terei a Índia como um mercado especificamente destacado da Ásia-Pacífico. Estar lá e dar o nível certo de prioridade é uma necessidade para prevenir os futuros movimentos de concorrentes. A posição da Índia em equipamentos para agricultura é comparável à da China, 15 anos atrás, para a indústria de carros de passageiros.

Levamos a Índia a sério como um lugar para comprar peças em preços favoráveis, contratar talentos e desenvolver produtos, como fazemos já hoje. E também como um mercado consumidor nosso.”

Qualidade
“Estou trazendo para a minha gestão direta as áreas de qualidade e defesa do cliente. E, embora a qualidade do produto tenha sempre sido uma prioridade na CNH, vamos intensificar nossos esforços nesta área, tornando a qualidade uma mentalidade em toda a empresa.

A qualidade é a voz do cliente, e o cliente deve sempre estar em cada discussão que tivermos. Portanto, acho o departamento de defesa do cliente uma posição muito necessária em qualquer empresa de manufatura.”

Atendimento
“Vamos fortalecer ainda mais nossa rede de concessionários. Por isso, criamos a posição de Chief Commercial Officer. Os concessionários são nossos parceiros, e nossas receitas começam com o sucesso comercial deles com os clientes. Fortalecê-los significa fortalecer a nós mesmos.”