Em um país com mais de 220 milhões de cabeças de gado, é natural que os mercados de genética e reprodução bovinas sejam ambicionados por grandes empresas globais do setor. Algumas delas já estão presentes aqui há muito tempo. Outras não veem a hora de cruzar nossas porteiras.
A mais nova concorrente nesse universo é a Trans Ova Genetics. A empresa americana, com 44 anos de experiência em tecnologias avançadas para reprodução de gado, anunciou que vai oferecer fertilização in vitro (FIV) transferência de embriões in vivo (TE) no Brasil.
“Iniciaremos nossas operações em setembro, em um dos maiores e mais importantes mercados do planeta”, diz Kevin Hoogendoorn, CEO da Trans Ova. “Teremos uma jornada de muito sucesso por aqui”.
A atuação será complementar à já tradicional Central Alta Genetics – as duas empresas pertencem à holding URUS. O primeiro laboratório da Trans Ova vai ficar justamente nas instalações da Alta em Uberaba, Minas Gerais – e já há planos para expansões no Brasil. A equipe de vendas da Alta, que hoje oferece sêmen, terá embriões da marca americana no portfólio.
A Trans Ova promete se diferenciar no mercado brasileiro por oferecer qualidade superior, a preços competitivos. “Queremos nos destacar pelas taxas de desenvolvimento de embriões. Não apenas alcançar uma prenhez, mas mantê-la”, diz Katie Jauert Jess, chefe de Operações da empresa nos Estados Unidos, em entrevista ao AgFeed. “Nossa fertilização in vitro vai se pagar por causa dos resultados”.
Fundada nos Estados Unidos em 1980, a Trans Ova planeja produzir cerca de 650 mil embriões em 2024. A expansão anunciada agora é parte importante do plano de alcançar 1,2 milhão de embriões até 2030. O Brasil produziu mais de 538 mil embriões em 2022, segundo a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia). Desse total, cerca de 340 mil foram destinados ao gado de corte e 161 mil ao gado leiteiro.
“O Brasil é o segundo maior mercado de embriões do mundo, então estava bem claro para nós que o próximo lugar deveria ser aqui”, diz Katie. Dentro de três a cinco anos, diz a executiva, o país pode se tornar um polo de atuação internacional. “Uma vez que já entramos na América do Sul, haverá relações que fazem sentido”.
Confira a seguir, trechos da entrevista da executiva ao AgFeed.
Quais produtos e serviços a Trans Ova oferecerá no mercado brasileiro?
Vamos oferecer produção de embriões ou fertilização in vitro do começo ao fim. Vamos avaliar com o produtor a necessidade de estimular ou não a ovulação. Faremos a coleta de óvulos na fazenda ou em locais de coleta. Levaremos os óvulos para o laboratório para fertilizar e criar os embriões. Podemos congelar esses embriões ou transferir para os receptores.
Nos Estados Unidos, vocês também fazem clonagem. Existem planos de oferecer o serviço no Brasil?
Não vamos oferecer clonagem no Brasil. É algo que fazemos apenas [na sede da empresa] em Iowa, por causa das complexidades do processo.
Que tipos de clientes vocês pretendem atender?
Estamos negociando com grandes empresas e também queremos atrair produtores menores. Faremos coleta em uma vaca ou em 50 vacas, o que for necessário. Trabalharemos com clientes que já estão fazendo FIV e explicaremos os benefícios para pessoas que nunca fizeram antes.
Qual é a importância do Brasil para a Trans Ova?
O Brasil é o segundo maior mercado de embriões do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Já estamos lá desde 1980, então estava bem claro que o próximo lugar deveria ser aqui.
A Trans Ova vê o Brasil como um pólo para atuação internacional, como na América do Sul?
No momento, estamos focados no Brasil. Queremos estabelecer nossas operações aqui e garantir que estamos fazendo um trabalho realmente sólido em qualidade. Mas, depois disso, acho que você está absolutamente certo. Uma vez que já entramos na América do Sul, haverá relações que fazem sentido. Mas, no momento, estaremos realmente focados no Brasil.
Quando diz que “no momento, vocês estarão focados no Brasil”, quanto tempo dura esse momento inicial?
Eu diria que esse momento de nos concentrarmos no Brasil vai de três a cinco anos.
Os preços do setor pecuário brasileiro não estão em seu melhor momento. Por que vocês estão investindo agora?
Independentemente de como está o ambiente no setor, nossa tecnologia pode ajudar um fazendeiro a melhorar seus resultados, seja produzindo mais leite ou uma carne de melhor qualidade. Sempre haverá benefício em usar nossa tecnologia.
Qual é o potencial do mercado global de genética animal? Qual é o papel do Brasil?
A população mundial está crescendo. Precisamos de mais proteína, através de carne bovina ou produtos lácteos. Precisamos de animais mais eficientes, e a genética é a chave para isso.
O que a Trans Ova fez para chegar ao Brasil?
Para implantar a Trans Ova, nós treinamos técnicos brasileiros nos Estados Unidos. Trouxemos equipamentos e métodos de produção. Gerentes de qualidade americanos farão uma supervisão rotineira, para garantir resultados próximos aos alcançados nos EUA. Como a Alta já tem um laboratório em Minas Gerais e investiu uma quantidade significativa nos últimos anos, essa parte não foi tão trabalhosa.
Como vai funcionar a parceria entre Trans Ova e Alta no Brasil?
A Alta tem um forte lugar no mercado de genética brasileiro. Então, vamos fazer parceria com eles a cada passo do caminho. Eles serão nosso braço de vendas: agora vão oferecer ao mercado sêmen e embriões. Também serão um dos nossos maiores clientes, uma vez que nós produziremos embriões para eles. Seremos um motor por trás da produção dessas genéticas superiores que eles têm.
A Trans Ova afirma ser líder global em transferência de embriões e tecnologias de fertilização in vitro e clonagem. Como é essa liderança?
Somos a empresa líder em FIV no mundo, presente no mercado há 44 anos. Não estamos focados em fazer mais embriões, e sim em embriões de qualidade.
Como podemos medir essa melhor qualidade?
Nas taxas de desenvolvimento de embriões. Em alcançar não apenas uma prenhez, mas manter. Buscamos o nascimento de um bezerro vivo, feliz e saudável. Por isso, somos conservadores no processo de criação do embrião.
Como a Trans Ova quer se posicionar em preço no mercado brasileiro?
Vamos chegar com preços competitivos. A nossa FIV vai se pagar por causa dos resultados.