Sair da faculdade e entrar no mercado de trabalho é um dos grandes desafios que um estudante enfrenta quando está com o diploma em mãos. O caminho para concluir a graduação é longo e conquistar um emprego pode ser ainda mais difícil. Seja pela falta de experiência, de oportunidades ou até mesmo de proximidade com as empresas contratantes.
Com intuito de aproximar alunos e prepará-los para o mercado de trabalho, a Atitus Educação vem quebrando paradigmas e atuando na contramão de boa parte de faculdades e universidades.
Enquanto a maior parte das escolas vem reforçando investimentos no ensino à distância, o grupo gaúcho aposta cada vez mais as fichas no modelo presencial, levando não apenas os alunos, mas também as empresas para dentro das salas de aula – e, no caso, também laboratórios e até lavouras.
Em novembro passado, dentro de um programa de investimentos de R$ 100 milhões até 2027, a Atitus inaugurou um campus inteiramente dedicado ao agro em Passo Fundo (RS). Nos últimos meses, firmou parcerias importantes para fortalecer o conceito conhecido como “employer university” (universidade empregadora).
Desta forma, a instituição tem colocado alunos da sua Escola do Agronegócio lado a lado com gigantes do setor no segmento de grãos, máquinas e proteína animal, como JBS e Ourofino Saúde Animal.
A ideia é aproximar a teoria dos cursos de Medicina Veterinária e Agronomia à prática vivida nas unidades das empresas parceiras, algumas delas vizinhas ao campus.
“Como funciona hoje, a academia está em um lado e o mercado está em outro”, explica o diretor da Escola do Agronegócio da Atitus, Deniz Anziliero, em entrevista ao AgFeed.
“Os relatos das empresas são que elas não conseguem fazer essa aproximação com os alunos, a não ser que seja pontual, com consultoria, prestação de serviços ou palestra. No nosso caso, estamos tornando a empresa uma protagonista da formação do aluno”.
O conceito Agribusiness Partner Program, adotado pela Atitus, visa garantir empregabilidade ao fim dos cursos, que têm duração de cinco anos. Segundo o executivo da Atitus, boa parte dos 420 alunos da Escola do Agronegócio é filho de produtores rurais.
Para fazer a ponte entre a faculdade e o ambiente corporativo, o programa desenhado para a participação de grandes empresas de atuação global requer, de acordo com Anziliero, que elas ofereçam vagas de estágio, contratem egressos e tenham seus executivos participando da formação dos alunos, estando envolvidos nos ambientes de aprendizagem.
Elas também podem propor desafios reais para que sejam solucionados ao longo da jornada do aluno. Além disso, entre as dinâmicas de participação no programa está o envolvimento com a Escola em eventos realizados em conjunto.
No Agribusiness Partner Program, as empresas compartilham não apenas o conhecimento pedagógico, como também o espaço da faculdade, no qual realizam reuniões de negócios. Assim, clientes como fazendeiros, indústrias e distribuidoras, que também podem fazer parte do programa.
O executivo da Atitus pondera que, diante dessa parceria com as empresas, não é preciso construir e investir em laboratórios para treinar os alunos. Ele cita que, pela localização geográfica e parceria, a JBS compartilha o espaço com o campus, que fica em frente à sua planta, em Passo Fundo.
“Os alunos têm feito imersões dentro das unidades das empresas parceiras, com troca de experiências e de contatos. Eles estão saindo da sala de aula e enxergando como é o mercado, como funciona dentro das empresas”, diz.
A Atitus Educação iniciou as atividades em 2004 e tem cursos em diferentes áreas, como saúde, tecnologia, direito e negócios. Em 2017, nasceu a Escola do Agronegócio, com o curso de Medicina Veterinária.
O curso de Agronomia foi implementado anos depois. Já as parcerias com as empresas começaram em outubro do ano passado.
“Fechamos 19 parcerias até março deste ano. Estamos em processo avançado com mais 12 empresas e em tratativas com outras 20. Mas o processo é demorado e vai levar um tempo para que essas empresas sejam, de fato, nossas parceiras”, esclarece o diretor da Escola do Agronegócio.
Ele detalha que, desde o início da Escola, 220 alunos se formaram nos dois cursos. Desse total, 80% foram absorvidos por cooperativas, agroindústrias e empresas de proteína e de saúde animal, sendo a JBS a maior empregadora.
“Eles já se formavam e iam trabalhar nesses lugares. Mas agora é diferente. As empresas estão antecipando etapas, vindo no primeiro dia de aula e acompanhando o aluno ao longo de cinco anos”, comenta Deniz Anziliero.
Ele reforça que as parceiras têm a oportunidade de mostrar suas culturas para os jovens antes de eles eventualmente entrarem nas empresas. Como também o caminho a percorrer dentro delas, no Brasil e até mesmo no exterior.
“Em geral, o estudante ainda não tem a oportunidade de acompanhar tudo isso, o que, inclusive, causa toda a rotatividade vista dentro das empresas”, acrescenta.
Expansão no Sul e mais ao Norte
Depois do Rio Grande do Sul, a escola quer conquistar novos mercados. A ideia de criar polos de educação em outras regiões voltadas ao agronegócio faz parte do plano de expansão anunciado no ano passado, ao AgFeed, pelo CEO da Atitus.
Antes, porém, a instituição se prepara para entregar projetos na unidade de Passo Fundo, como a inauguração de um hub de inovação do agronegócio e um centro de experimentação em uma área agrícola, ambos previstos para começarem a funcionar no segundo semestre de 2025.
O centro de experimentação será construído em uma área anexa ao campus e terá estrutura para receber pesquisa aplicada. A proposta é que as empresas parceiras possam usar o espaço para testes de produtos, projetos de inovação tecnológica, além de usarem determinados ambientes do centro de experimentação para realizar dias de campo com os alunos ou outros eventos.
Segundo o executivo, a ideia é também expandir o hub de tecnologia, assim como a Escola do Agronegócio, para outras regiões fortes no setor – ainda não revela os locais nem datas.
“Vamos focar nos principais polos do agronegócio. Temos essas etapas para entregar no Sul, que fazem parte desse projeto de crescimento, e depois queremos ir para regiões do setor”, diz Anziliero.
Ourofino no curso de Veterinária
A Escola do Agronegócio também conta com conselheiros, formados por executivos do alto escalão das empresas parceiras. Um deles é o CEO da Ourofino Saúde Animal, Kleber Gomes.
A empresa, listada na B3 e referência no segmento, é uma das parceiras de peso da Escola do Agronegócio e implementou, no primeiro semestre, uma disciplina no curso de Medicina Veterinária, com foco em biotecnologia da reprodução de bovinos.
"A gente está muito feliz com essa parceria porque compartilhamos conhecimento e estrutura com a Atitus e também ajuda a gente a veicular a nossa marca com os alunos”, diz o gerente da Ourofino Rio Grande do Sul, Rodrigo Tochetto, um dos quatro profissionais da companhia que está em sala de aula com os alunos.
“Somos padrinhos da disciplina de reprodução animal. Estamos profundamente engajados com os alunos".
Em quase um ano de parceria, a empresa ainda não absorveu alunos para o seu quadro de funcionários. “É um projeto futuro, mas é algo que precisa evoluir muito, ter oportunidades de trabalho dentro da companhia e um aluno mais pronto para assumir a vaga”, esclarece o gerente da empresa.
Tochetto explica que, por enquanto, a Ourofino está apenas dentro da sala de aula com patrocínio da disciplina sobre reprodução bovina e fomentando o conhecimento dos estudantes. Na parceria, os profissionais da empresa participam e ajudam os professores da Atitus na estruturação das aulas.
Além de aproximar empresa e estudantes e aliar teoria e prática, o profissional da Ourofino chama a atenção para o trabalho da Atitus, que foge do convencional. Ele critica a atual formação de estudantes do curso de Medicina Veterinária, na qual chegam no mercado de trabalho nem sempre maduros e bem preparados.
“É uma iniciativa muito válida da Escola em fazer essa aproximação da nossa indústria com os estudantes e prepará-los para o mercado de trabalho. Temos uma carência muito grande de profissionais preparados na Medicina Veterinária. Esse programa ajuda a desenvolver esses futuros profissionais. Esse desenvolvimento leva tempo”, observa.